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Navemar e David Ho dão versão diferente dos factos

Dois marinheiros moçambicanos denunciaram o que viveram a bordo do barco onde trabalharam, recrutados por David Ho, por intermédio da Navemar. Hoje, neste trabalho, foi dada a palavra à empresa e ao recrutador visados.

Todavia, para esclarecimento total, só uma acareação faria luz sobre outras situações onde se incluem agressões, maus-tratos e até sevícias. A história contada pelos marinheiros moçambicanos ao jornal @VERDADE, publicada na nossa edição de 23 de Outubro e que relatavam uma série de factos que nos levaram à denúncia, conhecem agora novos desenvolvimentos após ter sido possível colher as versões não só da Navemar, a empresa de navegação que interveio na sua contratação como também do próprio recrutador, o cidadão de Taiwan, David Ho, pessoa que aquela empresa fez questão de ter presente no encontro que teve lugar na passada sexta-feira.

Sidónio Amado, gerente geral da Navemar, explicou ao nosso Jornal como apareceu neste processo e, segundo as suas próprias declarações, isso aconteceu porque David Ho estava a fazer recrutamento ilegal, ou seja, não estava habilitado para isso e, portanto, não poderia estabelecer contacto legal com as autoridades moçambicanas.

Para esclarecimento de todos os factos que entendemos convenientes, todas as perguntas colocadas tiveram resposta, quer por parte do cidadão chinês, quer por parte de Sidónio Amado, sendo algumas delas até provadas através de fotocópias de documentos assinados pelas partes intervenientes e que temos em nosso poder. Todavia, convirá esclarecer que nos casos onde tal não foi possível fazê-lo, continua a valer a palavra de uns contra a palavra de outros, pela simples e lógica razão de que os dois marinheiros não estiveram presentes no encontro.

“Tudo foi cumprido”

Utilizando um tradutor, David Ho começou por responder garantindo que os contratos celebrados com os marinheiros moçambicanos foram cumpridos na íntegra e que os pagamentos devidos eram feitos directamente aos interessados, a bordo do “Taiwan 3858”, uma vez que não preferiram receber por transferência ou aqui em Maputo através de entrega a familiares.

Quanto aos prémios, referidos como ajudas de custo, isso era-lhes pago através de barbatanas de tubarão que os próprios pescadores se encarregavam de vender, em seu proveito, quando atracassem num porto. Pelo meio, estavam também as acusações de maus-tratos, agressões e até abusos sexuais mas, quanto a isso, David Ho refugiou-se no esclarecimento puro e simples de que não tinha conhecimento de tais factos, que a tripulação é constituída por marinheiros de várias nacionalidades, que o ambiente entre eles é aquele que for criado, etc, etc, e… mais não soube dizer. Por sua vez, o gerente geral da Navemar garantiu que em contactos tidos com o comandante do barco onde estiveram os marinheiros nunca lhe foi comunicada qualquer situação do género.

Os casos de Dengo e João Rampa Convirá recordar aos nossos leitores que o trabalho publicado pel’@VERDADE resultou das denúncias feitas por dois desses marinheiros que agora se encontram em Maputo, nomeadamente João Rampa e Arsénio Dengo. As suas histórias foram as que aqui demos à estampa ficando a Navemar de prestar os esclarecimentos que entendesse após o regreso de férias de Sidónio Amado. O responsável por aquela empresa apresenta, agora, versões diferentes e, no caso de Dengo, até exibiu documentos.

Quanto a este marinheiro, o gerente geral da Navemar contou que Arsénio Dengo adoeceu a bordo e que, face a essa situação, optou por rescindir o contrato e efectuar o seu regresso a Moçambique, processo que a empresa de Tawian, representada pela Navemar, tratou. Sidónio Amado exibiu documento de quitação completa assinado entre Arsénio Dengo e David Ho. Nesse documento, Dengo declara, concretamente: ter-lhe sido pago tudo a que tinha direito incluindo despesas de assistência médica e medicamentosa; que nada mais tinha a reclamar em seu proveito e que se comprometia a retirar a queixa movida contra David Ho, existente no Ministério do Trabalho, porque considerava o caso encerrado.

No que respeita a João Rampa, o gerente geral da Navemar referiu-o como um indivíduo algo conflituoso que, quando ia a terra vender as barbatanas, “se metia nos copos” e regressava a bordo embriagado causando desordens e provocando desacatos entre a tripulação. A polícia marítima local teria mesmo sido chamada a intervir e até teve de entrar a bordo. Ameaçado face à sua contuda, João Rampa, num desses momentos, terá optado pela rescisão do seu contrato de trabalho e, uma vez aceite, ficou ele por sua conta e risco no porto onde desembarcou. Esta a versão da Navemar e da qual não há contraditório por parte do marinheiro moçambicano.

A morte de Domingos Zacarias

Pela sua importância e pela responsabilidade que lhe estava associada, restava esclarecer o caso do marinheiro que, pelas indicações dadas por Dengo e João Rampa, morreu e foi “sepultado” no mar. O gerente geral da Navemar aguardava poder prestar esses esclarecimentos e, no momento próprio, foi o que fez, e contou o acontecido. De facto, Domingos Duarte Zacarias morreu vítima de acidente trabalho quando se encontrava na faina. O marinheiro moçambicano caiu ao mar e não mais foi visto apesar de todos os esforços feitos para o recuperar.

A sua morte levou a que tivessem lugar várias reuniões entre a Navemar e familiares seus uma vez que o malogrado marinheiro tinha duas famílias constituídas: uma em Maputo e outra na Beira. Assim, no dia 19 do passado mês de Outubro, um memorando de entendimento foi assinado entre todas as partes envolvidas, umas directamente e, outras, através de representante escolhido para o efeito. Nesse documento, por todos aceite e assinado, ficaram estabelecidos os montantes a atribuir às viúvas e filhos, sendo que o valor total final foi de 56 mil meticais.

No que respeita às indeminizações devidas e a serem pagas pela Companhia de Seguros, disse a Navemar que ela se entenderá directamente com os familiares sem o conhecimento da empresa. Como foi dito, nesta reunião que se destinava a termos os esclarecimentos da Navemar, entendeu aquela empresa chamar também David Ho, todavia, não estiveram presentes os dois marinheiros que nas suas declarações se consideraram vítimas de sevícias, entre outras situações.

Perante a surpresa de termos o recrutador chinês, o @ VERDADE tentou também as suas presenças naquela reunião, mas, como tal não foi possível, para além das situações provadamente já sanadas, terá de continuar a haver o direito à verdade face ás declarações de todas as partes intervenientes.

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