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“Não há problema” afirma Nyusi, em endividar Moçambique em mais 50 milhões de dólares para construir aeroporto no Xai-Xai

“Não há problema” afirma Nyusi

O Presidente Filipe Jacinto Nyusi disse nesta quarta-feira que “não há nenhum problema” em juntar mais 50 milhões de dólares norte-americanos a insustentável Dívida Pública de Moçambique para construir um aeroporto na cidade de Xai-Xai cuja utilidade será servir de alternativa ao internacional de Mavalane, “(…)quando chove muito ou está escuro na pista do aeroporto de Maputo os nossos aviões têm sempre que ir aterrar na África do Sul e esperar. Havendo esta pista aqui, este aeroporto nem sempre será necessário ir a África do Sul e podem vir aqui como aeroporto alternativo”.

“Quando tivermos que socorrer as cheias aqui não havia para onde chegar para abastecer, os Antonov tentavam ir ao Chókwè mas também estava debaixo de água, Inhambane fica muito longe. Este é uma alternativa, como ciclicamente é uma província que tem tido problemas de seca ou de cheias, esta é uma alternativa para trazer apoios para aqui” explicou Nyusi a multidão que o acompanhou durante a visita ao local onde a infra-estrutura aeroportuária será edificada.

O Chefe de Estado clarificou, “a quem pode questionar mas porquê aeroporto aqui, está perto de Maputo. Quem é que disse que quando está perto de outro aeroporto não pode haver mais um. Ali na África do Sul em Joanesburgo, para Pretória onde também tem duas pistas de aterragem fica muito próximo, 5 minutos de voo”.

Ademais, “há o projecto de nascer também um grande aeroporto em Massingir, por isso a qualquer momento podemos ter mais um aeroporto aqui na província de Gaza. Como assim não é luxo termos aeroporto em Nampula, mas também temos em Nacala, não é luxo aquele aeródromo que está no Lumbo, é tão normal ter a pista em Pemba mas também tem na Mocímboa da Praia, tem em Mueda, é normal ter a pista em Cuamba apesar de termos outra pista em Marrupa ou em Lichinga. Não há nenhum problema, nós vamos tudo fazer para trazermos essa pista aqui, viemos aqui para ver o espaço” acrescentou o Presidente moçambicano sem referir que a empresa Aeroporto de Moçambique está tecnicamente falida, entre outros motivos, devido as dívidas acumuladas com a construção do aeroporto de Nacala.

Importa recordar que o aeroporto de Nacala que foi projectado para ser internacional recebe apenas alguns voos domésticos semanais, desde a sua inauguração em Dezembro de 2014, e custou 216,5 milhões de dólares norte-americanos em dívidas contraídas, com Garantias do Estado, no Banco Nacional de Desenvolvimento Económico do Brasil(BNDES) e no Standard Bank.

Sabe-se hoje que a construtora da obra, que inicialmente esteve orçada 90 milhões de dólares norte-americanos, a brasileira Odebrecht pagou subornos de 900 mil dólares norte-americanos a funcionários de Governo de Moçambique.

Não é pensar grande fazer aeroporto para receber aviões que virão trazer ajuda humanitária

Tal como o elefante branco de Nacala este aeroporto de Xai-Xai tem um custo que não pára de aumentar. Já esteve projectado para custar pouco mais de 12 milhões de dólares, em 2012 quando foi revelado pela primeira vez o desejo do então Governo do partido Frelimo, mas agora o Executivo afirma que a obra deverá custar 50 milhões de dólares norte-americanos, que estão a ser negociados com a China. Não seria de admirar que o custo final desta obra ainda voltasse a aumentar, não estivesse Moçambique a entrar para dois ciclos eleitorais que demandam fundos.

Não é conhecida publicamente a viabilidade desta infra-estrutura aeroportuária mas a comparação que o Chefe de Estado faz entre a proximidade deste aeroporto com similares na África do Sul é descabida. Aliás o ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, disse a jornalistas à margem do evento que o aeroporto de Xai-Xai está projectado para o avião Q-400, portanto feito à medida da falida Linhas Aéreas de Moçambique.

Enquanto Moçambique tem apenas uma companhia aérea que efectua voos domésticos regulares, diga-se a preços proibitivos, o País vizinho tem pelo menos uma dezena de empresas a voarem todos os dias, além de um crescente mercado das chamadas companhias de “low-cost”.

Por outro lado os turistas que maioritariamente visitam a província de Gaza são de origem sul-africana que têm predilecção pelo uso dos seus 4×4 nas estradas de terra batida do nosso País. Não se sabe que turistas se esperam atrair por via aérea para a cidade de Xai-Xai.

O @Verdade sabe que uma das razões para a não entrada de uma segunda companhia aérea nas rotas domésticas no nosso País, cujo espaço aéreo há muitos anos está aberto, é a pouca demanda de passageiros que o mercado nacional gera.

“É preciso pensar em grande e pensar em frente, com um aeroporto, o impacto económico virá, é assim como se cresce economicamente”, afirmou ainda Filipe Nyusi esquecendo que talvez mais importante e necessário para a província de Gaza são infra-estruturas voltadas para a agricultura e resilientes às mudanças climáticas. Certamente não é pensar grande fazer um aeroporto para receber aviões que virão trazer ajuda humanitária.

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