De Araújo diz não perceber a razão deste comportamento por parte daquele órgão, entretanto, avança que parte das anomalias que, desde o início do processo, se registam são planificadas. Ou seja, com a experiência que o STAE possui relativamente aos processos eleitorais no País nada explica que tenha que sido capaz de, por engano, comprar máquinas com tinteiro incompatível. Aliás, conta ele que só na semana passada é que alguns postos receberam as novas máquinas, desde que houve a avaria generalizada logo na primeira semana de recenseamento, em finais de Maio.
Perante esta situação de abandono de responsabilidade por parte do STAE, o edil diz que ele e a sua equipa sentiram-se na obrigação de tomar as rédeas da operação, fazendo mobilização porta-a porta. “Nós temos estado a fazer o papel do STAE, estamos a fazer educação cívica. Mobilizamos os munícipes para que se recenseiem, independentemente de quem eles querem votar”, conta. Segundo indicações do edil, Quelimane tem inscrito até agora 45 mil eleitores, mas a meta é de cerca de 300 mil e a inscrição já vai a mais da metade do prazo. “Os brigadistas que deviam encerrar os postos as 16 horas até as 14 horas estão a fechar. Eles confidenciaram que receberam ordens para recensear menor número possível de eleitores”, narra.
Plano de Guebuza para manter-se no poder
A fonte não tem dúvida: as anomalias no recenseamento eleitoral, os contornos pouco transparentes que culminaram com a composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e das suas sub-comissões não passam de um plano engendrado pelo chefe do Estado moçambicano, Armando Guebuza, para se manter no poder.
“As máquinas de recenseamento são obsoletas. Até agora ninguém me explicou como foi possível trazer máquinas com tinteiro incompatível. Não é possível que isso tenha acontecido, a não ser que alguém tenha intenção de sabotar o processo. Das informações que temos estado a receber e do que temos estado a acompanhar a educação cívica para o recenseamento é relegada para o terceiro plano”, refere, e conclui “o partido no poder está interessado em que este ano não haja eleições.”
Segundo as percepções de Manuel de Araújo, o Presidente da República tem estado a usar várias estratégias para pôr em prática o seu plano. A primeira foi montar um circo para que o processo da formação da CNE fosse descredibilizado, através da infiltração de pessoas sem requisitos para integrar a equipa. Segundo, criar um clima de instabilidade político-militar para que, com base nela, possa justificar a ausência, no país, de condições para a realização de eleições.
A terceira foi ensaiar um processo da revisão da Constituição de República, ainda em curso, para que em caso de as duas primeiras falharem acomodar os seus interesses através da Constituição. Para De Araújo, o chefe do Estado moçambicano tem já montados os modelos de governação que poderá adoptar para continuar a manter-se no poder, mesmo que não seja necessariamente presidente da República.