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Música, Literatura, fotografia e escultura estiveram na festa

O CINEPORT é um festival dedicado à sétima arte, no entanto estiveram presentes, neste festival, outras formas de artes de que o cinema se suporta para retratar aquilo que o fazedor (realizador) busca tornando-o, assim, mais perto do representativo. Não se pode de forma nenhuma dissociar o cinema da música pois ao fazer-se estar-se-ia a dar pouca ou nenhuma importância à componente trilha sonora; da mesma maneira a fotografia, a literatura completam, juntamente com a música, aquilo que são as vértebras que dão forma ao corpo do cinema.

No recinto onde decorria o festival houve espaço para a montagem duma feira do livro, onde o público podia apreciar e adquirir obras de diversos contextos literários; as artes visuais estenderam-se de Moçambique ao nordeste do Brasil, em que a artista Alicia Ferreira trouxe um olhar sobre o diário moçambicano e dez artistas plásticos foram convidados para intervir em esculturas sobre o animal caprino (bode) e que estas estavam expostas nos espaços onde se decorria o evento.

A abertura do evento foi feito com a exibição de trechos do filme “Céus nordestinos” do realizador Walfredo Rodriguez, filme que marca o início da produção cinematográfica no estado Paraíba e que tal exibição teve acompanhamento musical da orquestra da Câmara Municipal de João Pessoa, conduzida pelo maestro Carlos Anisio que escreveu a trilha sonora para a obra exibida.

No contexto musical, a direcção de produção fez de tudo para que a música estivesse, durante a realização do evento, bem marcante e evidenciada, proporcionando um programa com artistas de renome que davam seguimento à programação diária e animavam as noites vividas de autêntica festa no recinto denominado cidade do cinema.

O Brasil, pais anfitrião, esteve em peso no que se refere ao número de artistas musicais que se fizeram presentes no festival, de destacar nomes como Hamilton de Hollanda músico contemporâneo que inclui nas suas harmonias o rock, o samba, o erudito, sem deixar de acrescentar o improviso, fazendo uma verdadeira alusão ao jazz; Luca Queiroga trouxe sons misturados de Pernambuco; Jeverson Gonçalves, o rock com temas inconformados com o sistema político, rock interventivo que arrasta massas jovens a entoarem coros bem sugestivos que deixam qualquer político fora do sério. O nordestino Chico César, que irá tomar a presidência da Fundação Cultural que edificou o CINEPORT, trouxe os ritmos festivos nordestinos do carnaval sempre inspirados em cânticos com sabor africano, isto no Sábado antes do encerramento do festival.

De Portugal veio a jovem Susana Travassos que juntamente com uma secção rítmica formada por músicos brasileiros dotados a atmosferas bem jazzísticas conseguiram fazer uma comunhão entre o próprio jazz, o fado inspirado nos temas de Amália e o popular do Brasil de Ellis Regina pela voz da jovem portuguesa.

O triângulo Angola, São Tome e Príncipe e Portugal representado pelo projecto Os Três Tambores, liderado pelo percussionista Miko Trovoada músico e actor que no cinema participou em filmes como “Ilhéu de contenda” de Rabo-Rerdiano Leão Lopes, “Street of no return” do americano Samuel Fuel e como músico se destacou como percussionista do músico compositor de Jazz Wadao Satanabe e a participação em vários projectos com músicos brasileiros como Touquinho, Diana Miranda e Zélia Duncan; a cantora Catarina dos Santos, potente e vigorosa vocalista que fez parte do triângulo, interpretou temas dos vários espectros rítmicos desde o fado, o tradicional angolano ao são-tomense descambando na bossa jazz para alegria dos nacionais.

… e com Moçambique o nordeste acabou entoando, em coro, Xizambiza!

Sexta-feira, dia 8, era o dia em que Moçambique se apresentaria em peso. A expectativa era grande, primeiro porque a sessão de homenagem à cineasta Isabel Noronha ia acontecer, depois porque a continuação da festa tinha que ser conduzida pelos “Bons Rapazes” que depois de uma estafante viagem de quase 18 horas até ao destino final pareceriam dispostos a dar cartas na performance que iria acontecer na tenda musical do recinto, pois na noite anterior Roberto Citsondzo, na sessão de exibição do documentário e lançamento do livro sobre a vida do actor Emiliano Queiroz, “Na sobremesa da vida” escrito pela autora Maria Letícia, deu um cheirinho daquilo que se podia antever da noite da actuação da banda moçambicana, entoando uma balada melodiosa bem ao seu jeito.

Diga-se que quando a banda dos “bons rapazes” tem, por cá, concertos agendados significa que os seus seguidores terão um forte pretexto para se reencontrarem e festejar ouvindo melodias, harmonias e adágios que fazem parte da história musical.

O espaço destinado aos concertos musicais, designado tenda musical, já estava completamente cheio e a transpirar de humanidade e humidade que se fazia sentir na atmosfera quando perto da meia-noite, do outro lado do Atlântico, a banda se fez ao palco. A música é universal, por isso o mais sensato que a audiência deve fazer quando se está perante a ela é senti-la e deixar-se levar, sobretudo quando se trata de ritmos que são de todos desconhecidos, letras cantadas numa língua quase que anónima para quem ouve.

A língua não foi barreira nem de longe, pois os Ghorwane entraram sem vacilar, apresentado um dos melhores, senão o melhor som, que há-de ser ter escutado no recinto durante o decorrer do CINEPORT. Traziam a lição bem preparada, que era segurar o público logo no início e se calhar por isso arrancaram com o bem cadenciado tema “Sathani” como se quem estivesse por ali para atirar o tal de “mau-olhado” estava no lugar errado, pois ali estava-se no espírito de comunhão e festa.

A partir desse momento foi seguir em frente e fazer levantar, do chão, o pé dos nordestinos; hora e meia de show foi suficiente para revisitar todos aqueles temas dos rapazes que deixam sempre alguma nostalgia. Sem necessidade se destacar um ou outro elemento, os rapazes estiveram sempre coesos até mesmo naquele momento crítico em que Chitsondzo, o lead vocal e lead guitarra, viu-se à nora com um problema técnico, que passou despercebido para a maior parte da audiência, a caravana continuou sempre em efervescência sem nunca deixar o público esmorecer; avançou com os “hits” todos? Xitcukete, Sathuma, Terehumba, Sathuma, Akuhanha, U yo mussiya wini, Majurugenta, Mamba ya malefu só para mencionar alguns.

Quando decidiram ensaiar uma despedida com Beijinhos num refrão ecoando “até amanhã” eis que o público clama pelo imprescindível encore; não porque este se quis portar de forma simpática com os rapazes mas sim porque o ambiente era já de pleno encontro de culturas; os rapazes acederam ao pedido, voltaram para rebentar com as costuras interpretando o tema Xizambiza, deixando o nordeste, maioritariamente representado naquela sala, a entoar o coro, diga-se que bem pronunciado, Xizambê!!!!

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