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Mulheres na vanguarda pela sobrevivência

Mulheres na vanguarda pela sobrevivência

A emancipação da mulher é uma questão que deve ser profundamente analisada, pois aquele grupo social necessita de uma independência total e completa. A liberdade económica, ou seja, as oportunidades de se tornarem empreendedoras, enquanto esposa e dona de casa, continua uma miragem. Por isso, a pobreza tem o rosto de mulher. Porém, em Nampula há senhoras que desafiam o seu próprio destino.

Na verdade, trata-se de um futuro incerto, que se vai construindo através do machismo, um fenómeno que sufoca as mulheres. As senhoras que residem no meio rural estão, efectivamente, condenadas a uma vida privada sem direito a um desenvolvimento próprio, pois dificilmente faz parte do processo de mudança.

Bia Abibo, de 27 anos de idade, reside no bairro de Namicopo, algures na cidade de Nampula. A nossa interlocutora decidiu, há cinco anos, deixar de ser uma simples “cúmplice” no processo de desenvolvimento da autarquia, passando a ser uma cidadã activa. Para o efeito, ela vergou pelo comércio informal, estando a vender amendoim torrado em diversos cantos da urbe.

Diariamente, Bia amealha entre 250 e 300 meticais resultado da comercialização daquele produto, o que lhe proporciona um lucro de cerca de 200 meticais. Multiplicado aquele valor por 30 dias, ela arrecada um total de seis mil meticais. E se se olhar para o actual custo de vida, esse rendimento não é suficiente. Mas, ela afirmou, em casa nunca faltou pão na mesa.

Além disso, as necessidades básicas não constituem preocupação. Bia cuida de uma família composta por quatro pessoas. O seu filho biológico que tem 15 anos frequenta a 8ª classe na Escola Secundária Marcelino dos Santos. Os outros menores (filhos das suas irmãs) não estudam porque ainda atingiram uma idade escolar.

O machismo é admitido pelas mulheres

Bia, uma mulher batalhadora, é considerada uma cidadã com dignidade na sua zona residencial. No passado, quando era casada, ela passou por todo o tipo de humilhações perpetrado pelo seu marido, o qual nunca se contentou com a actividade comercial da sua companheira.

A nossa interlocutora já foi, por várias vezes, intimidada a deixar de se fazer às ruas da cidade para vender amendoim torrado. O mais agravante é que o seu companheiro não ajudava nas despesas de casa, deixando a família à sua sorte.

Contudo, Bia sempre mostrou-se firme na sua ocupação, pois considera que o trabalho dignifica qualquer Homem. “Já tivemos brigas, porque todas as manhãs eu faço-me à rua para vender amendoim”, disse. As discussões atingiram um nível em que já não dava continuar a viver como casados. A separação foi a única saída. Ela mostra-se arrependida pela decisão tomada, pois o seu negócio rende o suficiente para não faltar pão na mesa. Bia questiona: “porque é que devia deixar de ir vender se é a única fonte para sustentar o meu agregado familiar”.

A verdade, porém, é que o marido estava a retardar a vida da esposa. Por exemplo, ela afirmou que, em pouco tempo (cerca de cinco meses) em que se separou, ela conseguiu amealhar dinheiro para cobrir a sua casa com chapas de zinco.

A nossa interlocutora teceu duras críticas às mulheres, chamando-as preguiçosas, uma vez que elas se limitam apenas à cuidar da casa e não desenvolvem actividades de geração de renda com vista a contribuir na economia familiar. “Várias mulheres ficam no bairro a promover fofocas. Não se preocupam em melhorar as respectivas condições de vida”, disse Bia.

Lutar pela sobrevivência

Mariamo Cássimo, de 18 anos de idade, é o exemplo de mulheres que lutam pela sobrevivência. Todos os dias, ela levanta-se às 4h00 da manhã, realiza as tarefas de casa e dirige-se ao centro da cidade de Nampula onde desenvolve o comércio informal. Mãe de uma criança de apenas 10 meses resultante de uma gravidez indesejada, Mariamo foi forçada pelos familiares a casar-se precocemente, o que fez com que ela abandonasse os estudos. O esposo é vendedor ambulante de sapatos.

Não se sentindo confortada com a situação de ficar apenas sentada em casa e aguardar pelos rendimentos do companheiro, a jovem mãe decidiu envolver-se no comércio informal. Ela abandonou a escola quando estava a frequentar a 4ª classe, razão pela qual descarta a possibilidade de um dia ter emprego formal, devido ao baixo nível académico que possui.

Diariamente, e à mercê do negócio de amendoim que desenvolve há mais de dois anos, os seus rendimentos variam entre 150 e 200 meticais. As despesas caseiras são partilhadas entre si e o seu marido. Quando começaram a viver juntos, eles residiam numa casa arrendada. Actualmente, o casal obteve uma parcela de terra, onde já construíram uma moradia de dois quartos e uma sala, embora coberta de material precário.

Financiamentos dirigidos à pessoas erradas “

Não existem problemas que podem desmotivar o nosso negócio. Há coisas que já estamos habituadas”, disseram as nossas interlocutoras, lamentando o facto de as autoridades não prestaram maior atenção às pessoas que, de facto, estão a trabalhar no sentido de promover o desenvolvimento.

Mariamo afirmou que a maior parte dos projectos de geração de rendimentos de pessoas associadas e dos singulares financiados pelos governos provincial e municipal não surtem os efeitos desejados, porque os beneficiários são empreendedores com certa afinidade política, relegando para o segundo plano as iniciativas cujos proprietários são indivíduos que, na verdade, manifestam o interesse de trabalhar.

Para Bia, nas ruas da cidade existem muitos jovens cheios de força, vontade, capacidade criadora, boa gestão de dinheiro e sustentabilidade, mas que não estão a beneficiar de quaisquer apoios.

Em relação às condições de trabalho e a exposição “arriscada” dos produtos nas avenidas, as “donas de casa” afirmaram que não se importam com essas situações, pois estão interessadas em ganhar o pão. Mas se a edilidade encontrar um lugar condigno para continuarem a exercer as suas actividades será bem-vinda a iniciativa.

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