As mudanças climáticas deverão encarecer sobremaneira os custos de manutenção de estradas, particularmente em África onde a extensão de vias pavimentadas ainda é muito reduzida. Segundo uma pesquisa da Universidade das Nações Unidas, nas condições de hoje, África precisaria de um montante extra de 183 biliões de dólares americanos apenas para a manutenção das suas poucas estradas pavimentadas.
Citada pelo jornal britânico “Guardian”, esta pesquisa indica que cada país africano terá de alocar um montante adicional de entre 22-54 milhões de dólares anuais para a manutenção de infra-estruturas rodoviárias já precárias, considerando as suas condições actuais.
Refira-se que só em 2008, Moçambique, particularmente, terá investido 65 milhões de dólares para a manutenção de rotina e periódica das suas estradas, cuja extensão totaliza 30 mil quilómetros em todo o país, dos quais menos de 10 mil estão pavimentados.
Este tipo de manutenção é realizada anualmente para assegurar a transitabilidade das vias de acesso degradadas durante a época chuvosa. Contudo, essas obras não abrangeram todos os cerca de 30 mil quilómetros de estrada existentes no país.
Para aquele ano, a Administração Nacional de Estradas (ANE) projectara fazer a manutenção de rotina em 17.600 quilómetros de estrada e a periódica em 719 quilómetros em todo o país.
Certamente, a factura será também cara para Moçambique, que ainda recorre a financiamentos externos para a manutenção rotineira das estradas cuja degradação se acentua na época chuvosa bem como com o calor generalizado e ventos fortes registados anualmente.
Segundo o jornal inglês, a previsão da equipa de economistas da Universidade das Nações Unidas não considera o investimento dos países no melhoramento e manutenção de milhões de quilómetros de estradas secundárias que também tendem a deteriorar-se ano após ano.
“Os dados não são exactos, mas mostram como até o mínimo de melhoramento de infra-estruturas – considerado como um pré-requisito para o desenvolvimento económico – será refreado nos países pobres a não ser que se lhes sejam disponibilizados fundos para se adaptarem as mudanças climáticas ou que os países desenvolvidos diminuam as formas de aquecimento descontrolado através da rápida redução de emissões”, escreve a publicação.
Esta pesquisa sobre infra-estruturas rodoviárias coincide com o lançamento de pequenos relatórios solicitados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) a um grupo de 19 países em desenvolvimento sobre as estimativas de custos de adaptação nos próximos 20 anos.
Estas estimativas apenas consideram um ou dois sectores da economia de cada país. Os resultados são “chocantes”, considera o jornal, apontando o exemplo da Costa Rica que irá precisar de mais de três biliões de dólares para medidas de adaptação dos sectores de água e biodiversidade aos efeitos das mudanças climáticas.
Em África, destaque vai para o Níger e o Togo, que vão precisar de 2,5 biliões de dólares e 688 milhões, respectivamente, para esse efeito. O Níger pretende encontrar alternativas ao uso combustível lenhoso e adaptar a sua agricultura, enquanto o Togo quer reduzir as suas emissões nos sectores da energia e também adaptar a sua agricultura as mudanças climáticas.
Apesar destas estimativas envolverem poucos sectores de alguns países, a sua totalidade está acima de 100 biliões de dólares. “Estes números não são uma simples lista de desejos de fundos dos países ricos, mas uma avaliação dos custos de redução das emissões em apenas alguns países”, considera o PNUD.
Certamente que a África não vai conseguir fazer esses grandes investimentos sem o apoio dos países desenvolvidos. Diversas organizações consideram que os países industrializados têm a obrigação histórica de apoiar os estados mais afectados pelas mudanças climáticas na implementação de medidas de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.
Como disse a ministra para a Coordenação Ambiental, Alcinda Abreu, em Bruxelas ano passado, Moçambique não pode nem deve pagar, com a vida do seu povo, o preço da industrialização dos outros países.
Particularmente, Moçambique já se ressente de mudanças climáticas há mais de 40 anos, segundo indica a pesquisa do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) publicada em 2009.
Das respostas possíveis, o INGC recomendou o Governo a liderar a implementação de medidas de adaptação e criação de capacidade para implementar e monitorar essa acção bem como a atrair o sector privado a participar nesse processo.
Entretanto, uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em Moçambique, publicada em Maio último indica que as acções destinadas a abordar as mudanças climáticas, a gestão ambiental e de desastres, não tem sido suficientemente integrada nos sectores do desenvolvimento do país.
“Poucos fundos tem vindo a ser dedicados para abordar a degradação ambiental, tanto pelo Governo como pelos parceiros, provavelmente devido a dificuldades de avaliar o retorno desses investimentos a longo termo”, refere a pesquisa, que faz o enfoque do impacto das mudanças climáticas para a criança.
O UNICEF considera que sem esses investimentos, a degradação ambiental tem potencial para reduzir consideravelmente ou mesmo reverter os progressos alcançados na sobrevivência da criança, educação e protecção.
“É necessária uma acção urgente para sensibilizar as comunidades sobre a necessidade de reduzir as práticas destrutivas ao ambiente e assegurar que as iniciativas públicas e privadas sejam realizadas de uma maneira ambientalmente sustentável”, indica a pesquisa, sublinhando que “as mudanças climáticas são uma questão que deve ser abordada em cooperação com os parceiros regionais e internacionais de Moçambique”.
Informações existentes sublinham igualmente o facto de ainda se estar longe de se providenciar os 30 biliões de dólares anunciados durante a cimeira de Copenhaga em 2009 para financiar medidas de adaptação as mudanças climáticas.
Análises do Instituto de Recursos Mundiais (WRI) publicados mês passado indicam que os grupo dos 21 países mais industrializados do mundo e a Comissão Europeia anunciaram a concessão de um montante de 28 biliões de dólares para o fundo “fast-track”, mas nada foi desembolsado até agora.