Não houve piedade ao chamado campeão de Inverno. O vice-campeão nacional em título, o Ferroviário da Beira, não evitou uma goleada de 4 a 0 diante da Liga Muçulmana, em partida da 15ª jornada do Moçambola, edição 2013. A competição continua a ser liderada pelo Clube de Chibuto.
Há particularmente dois aspectos que tornaram atraente o confronto entre a Liga Muçulmana e o Ferroviário da Beira, que teve lugar no campo da primeira equipa, na Matola C. Por um lado jogavam dois assumidos candidatos ao título e, por outro, duas colectividades que à entrada da ronda ocupavam o “top 4” da tabela classificativa, sendo a Liga a segunda classificada e a locomotiva a quarta, ambas separadas por três pontos.
Em caso de derrota, cada uma das duas equipas estava ciente de que se podia atrasar na luta pelo título, pelo que se anteviu uma partida de grande nível.
Desde o início, ambos os conjuntos evidenciaram diferenças, com destaque para a disposição táctica, em que os donos da casa preferiram o 4-3-3, com um trio ofensivo constituído por Josimar, Sonito e Telinho, diante do 4 – 4 – 2 da locomotiva, com Mário e Maninho como a dupla responsável pela conclusão das jogadas de ataque.
E já com a bola a rolar, a Liga Muçulmana mostrou maturidade diante de um Ferroviário da Beira que, depois da paragem de cerca de dois meses do Moçambola, ainda não conseguiu recuperar o seu ritmo competitivo. E o primeiro lance ofensivo registou-se transcorrido o minuto 22, quando o lateral direito Cantoná, encostado à linha de fundo do ataque muçulmano, centrou o esférico para a cabeça de Telinho que atirou por cima da baliza de Willard.
O novo ensaio dos muçulmanos, fruto do total domínio exercido no meio campo- contrário, deu-se seis minutos mais tarde, desta vez envolvendo o ponta de lança Sonito. Aquele avançado recebeu o esférico e, entrando na grande área, pela zona da meia-lua, tentou, em vão, passar por dois centrais, optando pelo remate à meia distância que passou por cima da baliza.
A dupla Telinho e Sonito, a que mais se destacou no confronto, sobretudo pelo primeiro que esteve envolvido na construção de todos os lances de perigo da sua equipa, a Liga, não deu tréguas à defesa do Ferroviário. E ao minuto 29, o malawiano Josephy iniciou uma jogada de ataque, passando a bola a Telinho que, depois de percorrer cerca de dois metros, já zona da meia-lua, cedeu-a ao seu colega Sonito que rematou para uma defesa em estilo de Willard.
Houve sinais claros de que o golo estava por vir. Porém, o mesmo só surgiu um pouco depois da meia hora por via de uma grande penalidade, a castigar uma falta de Tinho sobre Josimar no interior da grande área. Sonito, chamado a cobrar, rematou forte para o fundo das malhas e sem hipóteses de defesa para o guarda-redes locomotiva.
Já ao minuto 37, Josimar voltou a destacar-se quando, de primeira, a responder ao “meio-golo” de Telinho, rematou por cima da baliza. Lance similar ocorreu a cinco minutos do intervalo, em que numa jogada rápida de ataque, ao primeiro toque, entre quatro jogadores da Liga, nomeadamente Josephy, Telinho, Josimar e Sonito, o “25” bisou na partida.
Durante os primeiros 45 minutos o Ferroviário da Beira não teve argumentos para deter o venenoso poderio ofensivo da Liga. Em termos práticos, nem Mário, nem Nelinho e muito menos dos dois médios alas escalados, Tinho e Timbe funcionaram, para, no mínimo, incomodar Milagre.
O “apito” da locomotiva não deu em nada No reatamento, o Ferroviário da Beira entrou com uma enorme vontade de chegar ao golo, ou seja, vaticinou sair da Matola com um resultado satisfatório. Foi a equipa que criou a primeira situação de golo, num lance de bola parada, em que Timbe rematou por cima da baliza de Milagre.
Como que a salvar um confronto que perdeu interesse a vários níveis, com a bola afrouxada quase sempre na zona do meio campo, Cantoná, do lado direito, fez um passe rasteiro para o interior, com Sonito a simular um remate, deixando o esférico para Telinho que, só com Willard pela frente, atirou a contar. Estavam jogados 62 minutos.
Mesmo com estes números no marcador, o Ferroviário não atirou a toalha e, numa espécie de “búfalo ferido”, correu atrás do prejuízo para, no mínimo, chegar ao golo de honra. Debalde. O guarda-redes muçulmano Milagre, de forma espaventosa, negou o golo a Maninho.
A dez minutos do fim, num evidente golpe de mestre, Imo tirou dois adversários do caminho e, no coração da grande área, rematou para o 4 a 0 final, resultado que mantém a Liga Muçulmana no topo da tabela classificativa, colada ao Clube de Chibuto.
O Ferroviário da Beira, vice-campeão nacional e vencedor da primeira volta, soma a sua segunda derrota consecutiva, com seis golos sofridos e nenhum marcado.
A verdade dos intervenientes
Litos Carvalha, treinador da Liga Muçulmana
“Foi um bom jogo. Os meus rapazes fizeram uma primeira parte com mais intensidade e, já na segunda, sem precisarem do meu comando, passaram a gerir o esforço, obviamente a pensarem no jogo a seguir. O Ferroviário reagiu bem, mas nós fomos claramente superiores. Mostrámos melhor serviço em campo e conseguimos traduzir isso em golos. Foi uma vitória merecida”.
Victor Matine, treinador-adjunto do Ferroviário da Beira
“Foi uma derrota normal para quem faz parte do jogo. Não estava nas nossas previsões perder e da forma como perdemos, devido à dimensão do Ferroviário da Beira e do objectivo traçado para a presente temporada. Na verdade, a equipa está ressentida da paragem de cerca de dois meses do Moçambola, sendo difícil voltar a ganhar aquele ritmo competitivo. Estamos a pagar caro, sobretudo na zona defensiva. Viu-se isso nos dois jogos que fizemos, em que sofremos seis golos. Mas a Liga está de parabéns”.
Três pontos para Chibuto num dia cinzento de Johane
Ainda no sábado (19 de Agosto), o Clube de Chibuto deslocou-se ao município da cidade da Matola para defrontar o lanterna vermelha da competição, o Matchedje. Logo aos seis minutos, mercê de uma desatenção defensiva, os guerreiros apontaram o primeiro golo por intermédio de Stanley.
Na jogada a seguir, ou seja, 60 segundos depois, a vez foi de Johane introduzir o esférico no fundo das malhas, porém anulado pelo árbitro principal por pretensa posição irregular daquele atacante. A 12 minutos do intervalo, Bush cruzou para Mambucho que, no interior da grande área, fez um toque subtil para o 2 a 0.
Na etapa complementar, Victor Pontes viu a sua equipa jogar somente no contra-ataque, manifestamente entregando a iniciativa de jogo ao Matchedje, que ao minuto 52 podia ter feito um golo por Bila, se não fosse a atenção do guarda-redes Zacarias. O domínio territorial do Matchedje no terreno do Chibuto pecou num único aspecto: falta de objectividade.
E porque no futebol há quem diga que “quem não marca arrisca a sofrer”, aos 76 minutos, numa jogada de insistência, os visitantes tentaram, por duas ocasiões, violar as redes contrárias, primeiro por Stanley e depois por Mário. O avançado do Chibuto, Johane, que passou à margem no confronto, voltou a estar envolvido num golo anulado por suposto fora de jogo, antes de, já sob o apito final, fazer uma assistência para Ndjusta perpetrar uma falha clamorosa na finalização.
Johane é o melhor marcador Apesar do destaque dado a Sonito nesta jornada, os dois golos por ele marcados no jogo de sábado (17) não foram suficientes para “alcançar” o avançado do Clube de Chibuto, Johane, na lista dos melhores marcadores da competição. O avançado da Liga Muçulmana assume a segunda posição, com 11 tentos, menos um do que o guerreiro.
Mário, ponta de lança do Ferroviário da Beira, ocupa a terceira posição com nove golos, seguido por Jacob, da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, com oito.
Quadro completo de resultados
Liga Muçulmana 4 – 0 Ferroviário da Beira
Matchedje 0 – 2 Clube de Chibuto
Vilankulo FC 0 – 1 Ferroviário de Maputo
Costa do Sol 1 – 0 HCB de Songo
Chingale de Tete 0 – 0 Maxaquene
Estrela Vermelha da Beira 0 – 0 Ferroviário de Nampula
Desportivo de Nacala 0 – 0 Têxtil de Púnguè
16ª Jornada
Clube de Chibuto – HCB de Songo
Têxtil de Púnguè – Matchedje
Ferroviário da Beira – Desportivo de Nacala
Ferroviário de Nampula – Liga Muçulmana
Ferroviário de Maputo – Estrela Vermelha
Maxaquene – Vilankulo FC
Chingale de Tete – Costa do Sol