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Moçambique coloca turismo como prioridade mas ministros ignoram maior feira do ramo em África

Moçambique coloca turismo como prioridade mas ministros ignoram maior feira do ramo em África

Foto de Reg Caldecott/IndabaAgora que a crise económica agravou-se, principalmente devido às dívidas que o Governo avalizou ilegalmente, o turismo, disse o primeiro-ministro, voltou a ser uma área prioritária para aumentar a produtividade da economia moçambicana. Contudo o seu ministro, e a vice-ministra, do pelouro simplesmente não compareceram à maior feira do sector no continente africano, que decorreu durante o fim-de-semana na África do Sul (RSA).

Os nosso governantes são pródigos em ideias mirabolantes. “(…) Para conter a depreciação acentuada do Metical face ao dólar norte-americano e o aumento do custo de vida, é necessário alargarmos e diversificarmos a base produtiva bem como aumentarmos a produtividade da economia nacional, capitalizando as potencialidades das quatro áreas de concentração e catalisadoras sem descurar outras, que o nosso País tem vantagens comparativas que facilmente podem se converter em vantagens competitivas a saber: Agricultura, Energia, Infraestruturas e Turismo”, vaticinou o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário.

As lindas praias e a vida animal selvagem que temos, a rica cultura e a comida excepcional são algumas das “vantagens comparativas” que temos, e sempre tivemos, mas continuamos sem estratégia para os vender como destino turístico de eleição mundial. É necessário acesso aos mercados e aos canais de distribuição e a Indaba é um desses mercados, não só para os turistas sul-africanos mas também de 17 outros países do nosso continente e ainda os milhares de operadores turísticos e jornalistas que vieram dos continentes europeu, asiático e americano.

Foto de Reg Caldecott/Indaba“Nós não conhecemos Moçambique, existe aqui alguma agência de turismo que nos venda um pacote”, interrogou Derek Hanekom, o ministro do Turismo da África do Sul, ao director de marketing do Instituto Nacional de Turismo (INATUR), Jeremias Manussa, durante uma visita de cortesia que efectuou ao pavilhão do nosso país na Indaba, a maior feira do sector de África, que decorreu entre 7 e 9 de Maio na cidade de Durban.

Não havia nenhum operador moçambicano a vender pacotes turísticos para Moçambique. No pavilhão de Moçambique, que tem a mesma decoração desde há vários anos, estiveram representados alguns hotéis da cidade de Maputo, as direcções de turismo das províncias de Gaza e de Inhambane, um operador turístico numa das ilhas da apelidada “terra da boa gente” e um outro operador turístico de safaris no centro de Moçambique.

Entretanto várias agências sul-africanas vendem os destino Moçambique, diga-se com muito maior eficácia do que os moçambicanos. O que não seria de todo mau se esses pacotes não fossem pagos fora do nosso país o que gera menos rendimentos para a economia moçambicana.

Moçambique não publicita a sua marca de turismo

Foto de Reg Caldecott/IndabaOs gestores do turismo sul-africano, mesmo estando na liderança de uma indústria que em 2014 contribuiu em 3% para o Produto Interno Bruto, ultrapassando a contribuição da agricultura (2,5%), reconhecem que ainda não entendem bem o sector, “é enorme, é o sangue e o oxigénio de qualquer economia no mundo, tudo o que você vê e tudo que você toca tem o turismo nele (…) o turismo é um negócio de 7 dias e 24 horas, não há fins-de-semana para curtir, se você é um operador de turismo o telefone tem de estar sempre ligado porque nunca sabes quando um cliente vai ligar (…) o turismo não tem um princípio e nem um fim, é uma indústria fantástica para inovação e empreendedorismo”, afirmou num dos vários paineis de debate Mmatsatsi Ramawela CEO do Conselho de Negócios de Turismo da África do Sul (TBCSA acrónimo em língua inglesa).

Para os rendimentos do turismo sul-africano em muitos milhares de rands contribuem os moçambicanos, só em Fevereiro pouco mais de 116 mil compatriotas visitaram a RSA, fomos o terceiro maior grupo de turistas apenas atrás dos zimbabweanos e suthos.

O destino turístico Moçambique continua a não ser consistentemente publicitado, quer internamente ou internacionalmente. De acordo com o director de marketing do INATUR as acções passam pela pálida participação em algumas feiras, onde além dos funcionários do instituto acompanham apenas alguns dos maiores hotéis, que à parte fazem a sua própria publicidade e anúncios esporádicos em algumas das milhares de publicações de turismo que existem.

“Em termos de televisão o que nós temos, porque os anúncios são muito caros (cada inserção na CNN são 150 mil dólares), trabalhamos na base familiarização. Convidamos algumas cadeias televisivas, por exemplo a CNN ou National Geographic, para fazerem reportagens”, explicou Jeremias Manussa ao @Verdade cujo orçamento ideal ronda os 2 a 3 milhões de dólares norte-americanos.

No último ano o INATUR teve disponível para todas as suas actividades apenas de 1 milhão de dólares norte-americanos.

Manussa destacou a aposta que está a ser feita pelo INATUR no marketing digital, contudo o @Verdade não conseguiu visualizar onde essas acções estão a acontecer.

Nem ministro nem vice-ministra estiveram na Indaba

Na Indaba deste ano os sul-africanos trouxeram para a mesa a possibilidade do continente africano criar uma marca global que ajude a divulga-lo como destino turístico mundial. Esta proposta despoleta vários desafios que começam nas restrições de vistos, que existem entre vários países do nosso continente, e passam também pela abertura dos espaços aéreos e melhoria das infra-estruturas de transporte terrestre e ferroviário.

Foto de Reg Caldecott/Indaba“Para nós desde que o turista chegue não importa através de qual companhia aérea” disse o ministro do turismo sul-africano, cujo Governo luta para manter competitiva e rentável a transportadora estatal, num debate moderado por Richard Quest, apresentador da CNN especializado no mercado de aviação global.

Embora a feira tenha decorrido durante um fim-de-semana o ministro da Cultura e do Turismo, Silva Dunduro, ou a sua vice, Ana Comoana, não estiveram presentes na Indaba. “Ele indicou o Alto Comissário de Moçambique”, esclareceu a directora nacional adjunta do Turismo, Dina Ribeiro.

Enquanto o Governo pensa e repensa na sua estratégia de turismo, cuja qualidade dos serviços e o preço cobrado tornam Moçambique pouco competitivo, os desafios que do sector a nível global não esperam, “(…) na maioria dos casos turismo é pôr alguém num avião, num carro ou num comboio para um destino. Acomoda-lo no destino, garantir que ele come e de vez em quando assegurar que ele vê algo interessante, e depois repete-se o processo. Mas hoje o turismo não se resume apenas a isso”, declarou Lynette Ntuli, jovem empreendedora sul-africana, num dos debates que encerrou a Indaba deste ano.

 

O @Verdade viajou para a Indaba a convite do Ministério do Turismo da África do Sul
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