Há em Moçambique um curso universitário, na instituição onde estou a dever um diploma de bacharel e o consequente de licenciado, cuja especialização (para a qual aspiro) se chama Jornalismo & Relações Públicas. Trata-se de duas áreas distintas mas feitas “gémeos siameses” do curso geral hoje muito em voga: Ciências da Comunicação.
Para que não tenham dúvidas que não estou a exercer, por via deste texto, um trabalho de “Marketing & Publicidade” (a outra especialização ou ramificação desse curso), escuso-me de vos revelar a denominação da minha “Alma Mater”. Todavia, não sei se por inspiração dessa colação feita pela minha “facul” – como sói dizerse em linguagem da malta jovem – ou se por obra de uma transformação por que está a passar o Jornalismo Moçambicano nesta era do lucrativismo arrivista, o facto é que cada vez mais pratica-se nesta profissão (ainda é “missão de sacerdócio”, camarada de escriba Hilário Matusse?) uma modalidade “sui generis” de Jornalismo & Relações Públicas em simultâneo.
Há por um lado, cada vez mais profissionais de órgãos públicos que vivem uma condição profissional de puros “anfíbios”, que “à luz do dia” exercem o papel de jornalistas e “na calada da noite” fazem o papel de assessores de imprensa de empresas públicas, de instituições do Governo e de grupos privados. Com esta realidade cada vez mais “normalizada”, vivemos um contexto de relações em que tais poderes (empresas públicas, empresas privadas, ministérios) e nós os “media” – segundo os interesses do momento – tomamos umas doses altamente dopantes daquilo que o meu amigo Egídio Vaz Raposo poderia perfeitamente diagnosticar como um quadro de amnésia e anestesia à Ética, à Moral e à Legalidade.
Não bastasse tal situação de “anfíbios” nos “media”, nos últimos dias assistimos a um campeonato nos “media” nacionais, em sede de reportagens e editoriais, de exercício simultâneo de Jornalismo & Relações Públicas indissociáveis e indivisíveis. Na sequência desta tendência, assiste-se, por um lado, a uma busca emocionada e gratuita de argumentos, na vã tentativa de condenar a actuação de um Estado como o “Grande Satã”. Por outra, testemunhase um apaixonado exercício de retórica, no afã de inocentar um cidadão com capacidade o suficiente e excedente para contratar a melhor equipa de juristas e advogados para a sua defesa – a modos que brotam nestes dias talentos no ofício de interpretar as leis e advogar por direitos.
Num quadro em que tais práticas se revelam condicionantes do nosso Espaço Público, começo a pensar seriamente no “triunfo ideológico” de quem criou aquela licenciatura de Jornalismo & Relações públicas na minha “alma mater”. Arrisco-me a acreditar que, premeditadamente ou não, tal “Doutor” criou uma licenciatura perfeitamente adequada à realidade moçambicana nestas áreas profissionais da Comunicação.
Pior (ou não será melhor?), cresce em mim a convicção de que esse “Doutor” criou uma verdadeira “Escola de Jornalismo & Relações Públicas” capaz de ser agraciada com o selo “made in Mozambique” sem pedir meças a qualquer guru universal das Ciências da Comunicação. Estão, pois, criadas as condições para a legalização de uma classe de profissionais altamente eficientes: que venha, pois, a Classe dos Profissionais de Jornalismo & Relações Públicas!
E não se esqueçam de agraciar com o título “Doutor Honoris Causa” ao criador da licenciatura de Jornalismo & Relações Públicas na minha “alma mater”.