Caros patrícios, hoje não me apetecia nada escrever a minha crónica. Hoje eu queria ser um daqueles intelectuais à moda antiga, irresponsáveis, boémios, que escrevem quando querem, o que quiserem e como quiserem as suas “croniquetas do boémio” (lembram-se do Colectivo Xiphefo, malta Momed Kadir, Guita Jr, Danilo Parbatus, Marcelo Mosse, lá da terra da boa gente?) e ainda assim são celebrados pelo povo e pelas elites! Juro, palavra d’honra sinceramente…só por hoje eu não me importava de ser o colunista castrado, o cronista malandro, o escriba preguiçoso, juro caros patrícios!
Para que me percebam bem, patrícios, hoje, sinceramente, eu queria ser Fernando Manuel…tão brilhante a parir crónicas quanto dono e senhor do seu próprio nariz para decidir “trancar” a sua coluna por tempo indeterminado…para fraude e deleite dos seus leitores! Mas não posso, persegue-me como um fantasma esta obsessão, este peso de homenagear Areosa Pena e Leite de Vasconcelos – os meus “demónios tutelares”, como bem diria o escriba amigo e camarada de ofício Nelson Saúte. Se eu tivesse coragem e mestria de plagiar Areosa Pena, Leite de Vasconcelos (porque a genialidade de Fernando Manuel é inalcançável até pelos mais peritos falsificadores e copistas), juro que eu os plagiava aqui e agora, por cima de toda a folha – se bem que escreva sobre a “página Word” de um HP ProBook, sob licença da monopolista Microsoft do “amigo americano” e “college drop-out” como eu, Bill Gates.
Como não tenho a coragem nem a mestria dos copistas, fico pela minha “cobardia” de ter de burocraticamente escrever, assumindo que esta coluna já é património vosso, prezados leitores, caros patrícios. Bem, vencida a minha preguiça e “invontade” de escrever esta crónica hoje, deixem-me confessar-vos o drama que vivi e testemunhei quando, por ocasião dos 50 anos de vida da mãe do meu amigo Duma, estive no último fim-de-semana no planalto da “Cabeça do Velho”, Chimoio. Vivi, em parte, e testemunhei, em grande, o drama dos patrícios e habitantes da Pátria Amada acima do Paralelo 22.
Sendo eu um eterno estudante da Comunicação, tendo aprendido que o Mundo como Aldeia Global já ultrapassou a “Galáxia Gutemberg” e a “Galáxia Marconi”, e hoje está na “Galáxia McLuhan”, vou designar esta crónica como “crónica de carteira”– plagiando só o título de um dos textos edificantes do meu secundário. Sim, poderia escrever esta crónica no âmbito da carteira que ainda devo na minha “alma mater”. Desde a madrugada de sábado passado até ao momento em que pari esta prosa, os patrícios a Norte do Save voltam a “gozar” de um “apagão” nas comunicações.
A modos que quem de fibra óptica vive (mCel, STV, provedores de Internet) e torna os seus clientes e utentes dela dependentes, está neste momento a complicar a vida de milhões de moçambicanos e residentes a Norte do Save. De quem é a culpa? Muitos moçambicanos com telemóvel, de certeza o grosso dos cidadãos que fazem as contas dos quatro orgulhosos milhões da carteira da operadora do sorriso amarelo, ficaram privados de se comunicar entre si nas cidades e na maioria dos 128 distritos acima do Paralelo 22 com a “cobertura imbatível”. E que tal o povão que todos os dias se senta para assistir à STV como sua televisão – já nem falo da TIM – como se sente esse povo?
O caso é que os meus amigos de Chimoio não paravam de murmurar: “e depois os políticos celebram a Unidade Nacional à volta de uma Chama, como se fôssemos os meninos à volta da fogueira!”. E para os meus amigos de Chimoio, que já não desprezam a 2M e até já preferem esta à “sua” Manica, nem sei o que dizer quando me questionam: “você, Machel, que tem apelido de Chefe e que por ser jornalista convive com os poderosos lá na Nação, diz lá então, como estão a combater as assimetrias regionais estes nossos dirigentes?” “Vão dizer, de novo, que foi um tubarão que roeu a fibra óptica em Vilankulos?
Outra vez, Machel!?”. Voltei de Chimoio com estas questões “irrespondidas” aos meus amigos e patrícios lá da terra dos meus “mbuyas” Duma e “O Régulo da Cabeça do Velho”. Repasso-as para vós, caros leitores – quem sabe o Azagaia não nos convoca para uma marcha e nos liga em redundância de fibra óptica e ficamos todos “online” para irmos gritar tipo “Vuvuzela” à porta do Conselho de Ministros… Já percebem agora, caros patrícios, porque estou com uma ressacada “invontade” de escrever a minha crónica hoje?
Mesmo assim, porque somos todos Um só povo, uma Nação e Três Gerações, com ou sem assimetrias regionais e fibra óptica, somos todos moçambicanos, do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico… “Zakanaka”! Como diria o “bom vivant” do Tony Django – desculpa por não ter aceite aquele teu último shot! -, “Hakuna Matata”!