Bem-vindos ao Moçambique 2.0. Não, caros patrícios, não é esse Moçambique dos internautas, dos bloguistas, dos facebookers, dos twitteristas, das redes ou media sociais que se multiplicam em círculos de interesse, de amizades e cumplicidades…
Não, meus caros, o Moçambique 2.0 de que vos falo é uma tentativa, uma exigência política por um país de debates, um país que debate ideias, que debate em prol do seu desenvolvimento, que pensa, que exerce o senso crítico…um país “cópia de carbono” do Partido FRELIMO: que faz crítica e auto-crítica como fonte da sua constante reinvenção e motor do desenvolvimento. Esse país, não tenhamos dúvidas, é tanto produto como reprodutor dos debate- papos de barraca, das conversas de café, dos debates no MoçambiqueOnline, dos fóruns de chats e da blogosfera nacional. É um país excessivamente jovem quanto efervescentemente juvenil.
É um país 2.0 que se pretende a Grécia (no inglês, TO PRETEND quer dizer FINGIR, se me faço entender…); não a Grécia pós-moderna, de hoje, falida económica e financeiramente; mas a Grécia antiga e clássica da Ágora, a Grécia de Platão, de Sócrates, de Galilei Galileu. Moçambique 2.0 é um país virtuoso, o do ÓCIO GREGO, que transforma os círculos de bebedeiras (e lucram as cervejeiras!) no verdadeiro “espaço público”, de diversão da opinião pública, de pura diversão das massas, como pão e circo… enquanto as elites exercem o NEGÓCIO ROMANO, o das ma$$as. No Moçambique 2.0 há liberdade de expressão quase sem limites, que permite a todos exercerem a sua opinião, dando a cara ou como anónimos, seja por pseudónimos. No Moçambique 2.0 debate-se muito, nas plateias das televisões, por linhas de SMS, nas páginas de opinião de jornais, nos blogues e fóruns online… pode-se acusar, caluniar, mentir, difamar, insultar…
Enfim, é a democracia da opinião! O Moçambique 2.0 é o tal, segundo Ungulani Ba Ka Khossa, que “enferma do síndrome de permissividade” de todos darem a sua opinião. Paradoxalmente, nesse Moçambique o acesso público à informação é a filha da…MARIA IMACULADA DOS SANTOS. Quiçá, para alimentar o espírito empreendedor e a capacidade produtiva (produção e produtividade) deste Moçambique 2.0, o “establishment” (qual Estado- Providência) forneceu duas novas matérias-primas: Geração da/de Viragem e Empreendedorismo. Neste Moçambique 2.0, ser ou não ser da Geração de/ da Viragem é que é A Questão.
Neste Moçambique 2.0, há escolas universitárias públicas de empreendedorismo, políticos dão palestras sobre empreendorismo, no discurso oficial é um imperativo nacional constar a palavra empreendedorismo, há cursos de Verão de e sobre empreendedorismo (que surgem aos cogumelos como as escolas de inglês – lá está uma nova iniciativa empreendedora).
Chegados aqui, caros patrícios, o “métier” obriga-me a dizer d’@ minha verdade:
1. Desconfio muitas vezes de que o que dizemos que somos, que estamos a fazer, não passa daquilo que no inglês se designa WISHFUL THINKING (por favor, não me peçam para traduzir esta, remetam à comissão nacional de tradutores que está a domesticar todos os documentos importantes que nos trarão benefícios por fazermos parte da Commonwealth…)
2. Não me lembro de quem é, talvez da sabedoria convencional, mas há uma citação que me ocorre sempre, segundo a qual: “quando se fala sempre de algo, é porque há escassez aguda disso”.
3. No Moçambique 2.0, a opinião é o ópio do povo…