O ator americano Mickey Rourke, que vive um retorno triunfal ao cinema depois de quase 15 anos de esquecimento, intepreta um vilão impressionante em “Homem de Ferro 2”, apelando a técnicas meticulosas da escola de atuação Actors Studio. Falou-se tão mal de Rourke por causa de sua vida pessoal, que chegou-se a esquecer que ele foi comparado a Marlon Brando de “O Selvagem da Motocicleta” (1983), antes de virar um símbolo sexual, nos anos 1980, no romance erótico “Nove e meia semanas de amor”, ao lado de Kim Bassinger.
Já no início da carreira, Rourke contou com a ajuda de um professor da famosa escola de interpretação, que lhe ensinou as bases de seu ofício. Mantendo-se fiel ao “método” desta escola, que recomenda a análise profunda das motivações e psicologia dos personagens, Mickey Rourke construiu sua versão do terrível Ivan Vanko, um engenheiro russo com sede de vingança em “Homem de Ferro 2”. “Não conheço muitos atores que iriam parar em uma prisão russa para preparar seu personagem”, disse na semana passada o produtor Kevin Feige a um grupo de jornalistas em Beverly Hills.
“Mickey é muito profissional, emana uma circunspecção impressionante”, acrescentou o roteirista do filme, Justin Theroux. Com sua característica voz rouca, forte e ao mesmo tempo com ar sereno, Rourke contou como foi seu encontro com um prisioneiro russo. “Fiz algumas ligações e me deixaram entrar na prisão. Dez dias depois, pude ver esse cara. Falamos muito, tinha muitas tatuagens e foi explicando todas, uma por uma”, disse. Como seu personagem é russo, foi impossível para o ator não se aventurar na língua.
“Tive um professor durante três meses, cinco vezes por semana, três horas por dia”, contou Rourke, reconhecendo as limitações desta experiência. “Para aprender duas falas de diálogo, levei três semanas. E além disso, o professor ria do meu sotaque”. O ator assegurou que não teria aceito o papel se não pudesse dar a ele sua marca pessoal. “Não queria interpretar o vilão russo superficial. Queria construí-lo em várias fases de forma que se pudesse compreender seu comportamento e a forma como reage. Não queria um estereótipo, queria humanizá-lo”, explicou.
Rourke vivencia um verdadeiro renascimento já que até poucos anos atrás, “apenas conseguia pagar as contas. Meu problema não era nem a droga, nem o álcool, mas minha violência descontrolada”. Durante cinco anos, ele se dedicou ao boxe, atividade que deixou seu rosto desfigurado. A luz no fim do túnel começou a surgir com a atuação em “Sin City”, de Robert Rodriguez. “Quando fiz o filme, disse ‘Oh, meu Deus, estou em um filme de verdade’.
Sabia que estavam dando uma nova chance e que desta vez não podia deixá-la escapar”, lembrou. “Se não tivesse esperado 14 anos para minha volta, talvez não teria sabido me submeter. Mas sabia que se me tornasse novamente violento, as repercussões seriam terríveis”, reconheceu. A consagração veio em 2008, com o papel de um boxeador em “O Lutador”, que lhe valeu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar. “Durante todos estes anos (de infortúnio), aprendi que a causa dos meus problemas era eu e ninguém mais”, confessou Mickey Rourke.