Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Xïkwembo: Mestre Índia III

Os mosquitos são tão grandes que eu os consigo sentir a poisar na minha pele, pata a pata.

Mestre não foi sempre mestre:

– Eu quando estudava em Kalamandalam – a mais importante escola de Kathakali de Kerala

– praticávamos footsteeps das quatro às seis da manhã, nós antes de levantar rezávamos para que falhasse a luz!

Mas aqui não sei, não sei quando vivo de facto uma paisagem de sonho ou quando perco a consciência nos rituais sagrados.

– Estou a limpar, as casas aqui são sujas!

– Mas, se varres muito acho que o país desaparece…

Índia é feita de pó. Do desumano, não físico pó.

O pó que cobre as pessoas, o pó que assinala na testa o terceiro olho, em cinzas, em pigmentos coloridos.

Índia é espiritualidade, e não importa se ela molda todos os hábitos dos homens, impossível que o faça, mas ela está presente todos os dias, na vida deste povo. Ela acontece na prece matinal ao altar de Shiva, de Vishnu, de Ganesh.

Nós acreditamos.

E acho que aqui o “não sei” vai junto com “acredito” aqui, nesta parte do mundo mais do que em qualquer outra.

“Se varres muito o país desaparece.”

O lixo amontoa-se na beira da estrada.

– Sim, mas tu estás habituada!

– Não, nós nunca nos habituamos ao lixo.

Na casa a porta está aberta, uma criança brinca com um pedaço enorme de jaca.

Um sari voa da janela, a mulher corre e sorri para mim, o brinco no nariz parece que brilha mais.

Junto ao cabelo, na zona da testa onde os cabelos se separam, acima do 3º olho uma marca de pigmento vermelho, é casada a mulher.

Aqui, no sul da Índia, é assim.

Comemos a refeição na folha de bananeira e inevitavelmente o olhar pára nos canais de água verde, de plantas flutuantes.

Chove, a luz doirada do anoitecer embeleza os campos de Kerala.

– Chaia? (chá)

Porque o espírito respira mais aqui, ocupa-se mais de tempos e rituais de mãos, de mudras, de pigmentos sagrados, de águas purificadas, de fogos purificadores.

Aqui oferecemos aos deuses arroz doce, que partilhamos com os pobres, que despejamos no chão para que os corvos e os cães também deles se saciem.

Índia é mistério na sua rigidez e codificação. É marcado hinduísmo na fronte das mulheres e dos homens, em marcas de cores, branco, negro, vermelho.

No passo atrapalhado de saris e saias. Nos cabelos oleados de coco…

Aqui o caril pica, sim, o chá queima, o açúcar enjoa. Aqui o calor e a humidade marcam na pele o seu cheiro inconfundível.

Aqui todos seguimos um guru, a mãe índia orienta o caminho e todos somos espirituais.

Índia são quatro castas, quatro estádios da vida, quatro deveres do Homem.

E para mim tudo na Índia obedece a quatro momentos, primeiro questiono, depois deslumbro- me, depois desconfio, e finalmente… aceito.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!