A propósito do Dia Mundial da Criança que se comemora na próxima terça-feira, dia 1 de Junho, @ VERDADE foi ao encontro de dois meninos/actores que são personagens principais do filme “Republica di Mininus” do cineasta guineense Flora Gomes que está a ser rodado em Maputo. Conheça os sonhos e desejos de Bruno Nhavene e de Melanie Rafael, ou melhor, de Aymar e de Nuta.
Terça-feira, dia 25 de Maio, a agitação é desusada para os lados do Bairro dos Pescadores neste Dia de África. A responsabilidade cabe às filmagens de “Republica di Mininus”, o filme do cineasta guineense Flora Gomes, que está a ser rodado em Maputo desde o passado dia 8. Ali, bem junto ao mar, um dos elementos da produção vocifera: “Time for lunch” e, num movimento colectivo imposto pelo cansaço e, certamente, pelo apetite da refeição, todos descomprimem. Um deles é Bruno Nhavene, uma criança moçambicana de oito anos que é um dos personagens principais.
“Sou o Aymar”, diz, orgulhosamente, num inglês escorreito enchendo simultaneamente o peito de ar. Bruno encontra-se lado a lado com o celebérrimo actor norte-americano Danny Glover que no filme é Dubem, o único adulto que, por ter perdido os ósculos, acaba por permanecer nesta Republica di Mininus. Talvez por isso quando lhe perguntámos quem era o seu actor preferido a resposta está-lhe na ponta da língua: Danny Glover. Um simples preenchimento de um papel que circulou na Escola Americana de Maputo, onde Bruno estuda, levou-o ser seleccionado para o casting. Numa primeira triagem tiraram-lhe fotografias e ficaram-lhe com mais dados pessoais. “Depois voltámos uma segunda vez e foi aí que jogámos ou Morto ou Vivo e às escondidas, essas brincadeiras”, refere Bruno.
Dias depois, soube que constava da restritíssima lista dos doze eleitos para os papéis principais. Exultou. A ansiedade roubou-lhe o sono. Mas depois acalmou. Bruno, ou melhor Aymar – um dos governantes da cidade das crianças -, nunca imaginou poder trabalhar ao lado de Danny Glover e isso alimenta-lhe o sonho de lhe seguir as pisadas. Bruno não se recorda do nome do filme preferido mas lembra-se que “havia um homem invisível e uma perseguição de automóveis.” Lado a lado com a carreira de actor Bruno tem ainda outro sonho: “Ser tenista como o meu pai.”
“NOME FAMOSO NA SETIMA ARTE”
A resposta sai com uma prontidão incrível: “Griffith”, atira Melanie quando lhe fazemos alusão ao seu nome famoso no cinema. “Nome, pelo menos, já tenho”, refere entre risos. Mas, ao contrário da homónima norte-americana, Melanie de Vales Rafael, de 14 anos, apesar de apreciar cinema desde que se conhece, esteve longe de imaginar que um dia estaria a contracenar ao lado de um nome tão grande como Danny Glover, em “Republica di Mininus”. Tal como sucedeu com Bruno, também uma folha de papel a requisitar alunos que falassem inglês para um filme circulou na Escola Secundária Francisco Manyanga, ali para os lados do Alto Maé.
Melanie passou nas várias triagens que envolveram mais de 600 crianças, até ser admitida entre os 12 privilegiados que governam a “Republica di Mininus”, esse país imaginário situado algures na África Ocidental que acabar por ser governado por crianças quando os adultos se ausentam para ir ao encontro da guerra. “Um dia telefonaram-me para me dizer que ia desempenhar o papel de Nuta.” Melanie não conhecia nenhum dos outros escolhidos nem tampouco tinha ouvido falar de Flora Gomes. “O cinema que vejo é o que passa na televisão que é americano na sua esmagadora maioria. Do cinema que se faz em Moçambique não conheço muito. Vi há pouco ´O Jardim do Outro Homem´.
” Desconhece, contudo, o nome do realizador. Um dia de filmagens é duro. “O horário é muito alargado. Começamos às seis da manhã e terminamos às 17 horas.” Excepto esta, nas últimas semanas tem sido sempre assim. Esta carga horária obrigou-a a faltar às aulas, com a devida autorização, claro. Melanie tem no inglês e na biologia as suas disciplinas favoritas. “O português tem muitos acentos” (risos). Em “Republica di Mininus” Melanie é Nuta, uma menina de 11 anos que sonha ser médica mas por enquanto vai entregando a roupa que a avó costura no palácio. “Nuta faz as entregas. Na última entrega a cidade acaba por ser atacada pelo Mão-de-Ferro e pelo Tigre. Nuta fica cheia de medo e vai parar aos arquivos. É aqui que conhece Dubem – Danny Glover – que era conselheiro do presidente mas perde os óculos na confusão e acaba por ficar.”
Após a destruição da cidade é necessário reconstruí-la e é aí que os meninos deitam mãos à obra. “Depois eu sou médica, a Amin e a Ameh são cientistas, o Chico é um dos ministros e temos vários presidentes diários. Dubuf – Danny Glover – fica o meu conselheiro”, explica Melanie que não quer desvendar mais nada sobre a história. Melanie afirma que sentiu grande dificuldade em mostrar-se aterrorizada. “Graças a Deus não tenho de fazer muitas vezes esse papel. Danny Glover ajudou-me muito nessa parte. Disse-me para eu pensar numa coisa que me tenha deixado muito assustada. Ele teve muita paciência porque por minha causa tivemos de repetir a cena oito vezes!”
Melanie tem consciência de que a realidade retratada em “Republica di Mininus” ocorre em alguns países africanos, mas os nomes – Libéria, Serra Leoa, Congo Democrático, Uganda – fogem-lhe da memória. “Às vezes choramos com certas cenas mais duras que interpretamos.” A estreante irá filmar até ao fim. “Sinto-me muito feliz com isso. Se for possível quero seguir a carreira de actriz.” À pergunta sobre quantas vezes irá ver o filme não hesita: “Sempre que puder.”