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Memórias “antonianas” reactivadas no palco

Memórias “antonianas” reactivadas no palco

Se a figura de Chico António já era, por si só, sublime, especialmente por se ter mostrado capaz de contribuir para o desenvolvimento da nossa música, o seu espectáculo realizado na última sextafeira (24), no Centro Cultural Franco- Moçambicano, em Maputo, tornou-o ainda mais respeitado pelos presentes – admiradores dos ritmos moçambicanos. No “show” organizado para a publicação do seu primeiro disco compacto (CD) intitulado “Memórias”, o que não aconteceu devido a razões profissionais, o músico mostrou-se nostálgico em relação a temas, diga-se, primitivos.

Não há sombra de dúvidas de que o espectáculo de Chico António foi mais do que uma alegria, um motivo para que os que estiveram na noite da sexta-feira tivessem uma óptima novidade para contar aos seus amigos e/ ou para preparar o fim-de-semana. Mas se estivéssemos a pensar e a tentarmos saber algo sobre a cerimónia, a hora marcada para o arranque das actuações, diríamos que foi um fracasso, pois é necessário que se respeite o horário, mesmo quando se trata de eventos relacionados com a diversão.

O atraso – esse costume absolutamente ignorado como parte da antiética – muitas vezes, senão sempre, tira a paciência e a ansiedade que o público carrega de poder ver o seu ídolo a actuar, a expor, a declamar, etc. Mas a situação piora ainda quando os organizadores não se pronunciam sobre o caso, com vista a esclarecer os motivos da demora.

Embora não seja esse o foco da nossa reportagem, importa referir que o “show” de Chico António estava marcado para iniciar às 20:30 horas e só arrancou meia hora depois, deixando o público à espera do lado de fora da sala de espetáculos. De todos os modos, a luz, o som, a falta de assentos suficientes para acomodar todos os que para lá se dirigiram foram as mais grotescas falhas que se cometeram no evento.

O “show”

Até a década de 1984, altura em que decide cantar, Chico António nunca excluiu das suas músicas o paralelismo e as experiências emocionantes do seu passado e da realidade moçambicana. Mas, mesmo que se rebuscava memórias, no espectáculo da sexta-feira, que durou cerca de duas horas e meia, Chico não se prendeu ao passado.

Aliás, talvez, foi a partir delas (as memórias, principalmente as que marcaram negativamente o seu percurso artístico-musical) que o homem de “Baila Maria” encontrou uma nova forma de fazer com que a plateia dançasse, gritasse, cantasse… Na verdade, o seu longo e mágico percurso resume- se em três décadas, que, não obstante, no palco, se reduziram para duas horas de actuação, em companhia da mais perseverante timoneira dos nosso ritmos – Mingas que se fez acompanhar por Chude Mondlane.

Para além destas célebres cantoras, o artista fez-se acompanhar pelo grupo Majescorale e pela intérprete sul-africana Assanda Bam. Auxiliado ou a solo, Chico mostrou que a sua lógica musical é a de um artista com uma estrutura narrativa (e, consequentemente, com um alinhamento) que preserva o tradicional.

No entanto, se quisermos ser mais expressivos, diríamos que na sexta-feira comprovou-se aquilo que já há algum tempo se suspeitava: Chico António é uma figura de sucesso discreto que muito condiz com a sua voz e o seu trabalho. Não é este o único aspecto que se pôde perceber nas suas últimas actuações, mas será, provavelmente, aquele sobre o qual maior entusiasmo recai.

Por exemplo, as primeiras músicas do artista, diga-se de passagem, servirem de aquecimento, não por se tratar de obras menores, mas, talvez, porque o músico parecia menos seguro na interpretação das referidas composições.

O dueto com Chude Mondlane, a sua companheira do Projecto Trânsito, é um exemplo interessante da evolução que Chico teve em palco e, no que à interpretação respeita, o artista começou por dar um ar da sua identidade musical, momentos que progrediram até a chegada de Mingas, com quem cantou “Baila Maria”.

No duo com Mingas notou-se uma melhor preparação do par, já sem quaisquer sobressaltos no que diz respeito a desencontros rítmicos. No entanto, embora o seu trabalho, em particular o tema em questão (Baila Maria), seja sobejamente conhecido pelo público, há quem tenha ficado emocionado. Aliás, enquanto a dupla cantava a plateia acompanhava- a, de tal sorte que quaisquer que fossem as expectativas em relação à interpretação, dificilmente terão sido frustradas.

Minibiografia de Chico António

Nascido em 1958, no distrito de Magude, província de Maputo, Chico António cresceu no internato da Missão de São José de Lhanguene, tendo por volta de 1964 vivido na rua. Aos 9 anos de idade, o artista tornou-se solista de um coro constituído por 50 pessoas pertencentes à igreja católica. Entre as décadas de 1970 e 1990, Chico fez parte de agrupamentos de música, tais como Grupo RM, Orquestra Marrabenta Star de Moçambique, entre outros.

No início dos anos 90, o músico ganhou o prémio Descobertas da Rádio France Internacional (RFI) e recebeu uma bolsa de estudos para aprender técnicas de piano, que incluem arranjos e captação de sons de estúdio.

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