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Médicos, enfermeiros e outros profissionais de Saúde estão em greve em Moçambique

Está a decorrer, em vários hospitais, centros e postos de saúde a anunciada greve dos médicos, enfermeiros, serventes e outros profissionais de saúde moçambicanos que clamam por aumento salarial correspondente 100% do seu salário base, e com efeitos a partir de 1 de Abril de 2013, assim como pela análise conjunta do Estatuto dos profissionais de saúde e sua aprovação na 2ª sessão da Assembleia da República.

A greve começou pouco depois das 7 horas desta Segunda-feira, hora agendada para o início da greve pela Associação Médica de Moçambique (AMM), e hora em que deveria acontecer a rendição dos profissionais de saúde que fizeram o turno nocturno.

Os profissionais que deveriam entrar de serviço no banco de socorros do Hospital Central em Maputo (HCM), a maior unidade sanitária de Moçambique, não apareceram. Segundo fontes hospitalares, não oficiais, nenhum dos médicos moçambicanos que deveria ter entrado de serviço apresentou-se. Centenas destes profissionais de saúde estavam reunidos defronto do HCM, mas do outro lado da av. Eduardo Mondlane.

No Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária de Moçambique, o grosso dos médicos, serventes e outro pessoal administrativo não se apresentou aos seus postos de trabalho. Os serviços de urgência e de emergência foram garantidos pelos médicos estrangeiros, enfermeiros e por alguns profissionais deslocados do Ministério da Saúde (MISAU) para prestar auxílio no atendimento dos pacientes.

No Hospital Geral de Mavalane, o director geral e médico-cirurgião, Ussene Isse, assegurou que a maior parte dos médicos, serventes, enfermeiros e do pessoal administrativo não foi trabalhar esta Segunda-feira (20). Os serviços do banco de sangue e das consultas foram interrompidos porque não havia quaisquer condições para estarem em actividades.

Segundo Ussene Isse, dos cinco médicos de medicina somente dois foram trabalhar, na pediatria estão afectos quatro médicos e apenas um apresentou-se ao serviço, na maternidade faltaram dois de um total de três.

No Centro de Saúde de Mavalane, ainda de acordo com Isse, foi também problemático assegurar o funcionamento dos serviços mínimos. Os pacientes que se deslocaram àquela unidade sanitária nas primeiras horas desta Segunda-feira foram atendidos pelos poucos profissionais que não aderiram à greve, mas com a ajuda de alguns estagiários, funcionários do MISAU e da Direcção de Saúde da Cidade de Maputo. “A situação é crítica porque desta vez a greve está a abranger os serviços mínimos das urgências e emergências. A maior parte do pessoal médico, administrativo, enfermeiros e os serventes não se apresentou aos seus postos de trabalho, mas com o pouco pessoal que temos estamos a tentar gerir a crise garantindo o funcionamento dos serviços do banco de socorro, maternidade, sala de partos, sala de reanimação. As consultas estão interrompidas porque é impossível estarem em acção”, disse Isse.

No Centro de Saúde da Polana Caniço, a directora geral, Bernardina Gonçalves, disse ao @Verdade que o banco de sangue e a farmácia funcionaram a meio gás, sobretudo nas primeiras horas desta Segunda-feira, mas os restantes sectores fecharam porque os médicos, os enfermeiros, os serventes e o pessoal administrativo também aderiram à greve.

“A greve dos médicos é visível e tem um impacto maior porque quase todos os sectores estão paralisados, mas a farmácia está a funcionar normalmente porque temos doentes, incluindo crónicos, que devem levantar e serem administrados medicamentos. Desses pacientes fazem partes os que padecem de tuberculose. Os serviços de consultas estão também em actividades”, disse a nossa interlocutora e acrescentou que os funcionários que aderiram à greve terão uma falta injustificada como penalização.

Na opinião de Bernardina Gonçalves, os médicos têm a sua razão para observar uma greve, mas não faz sentido encerrar os serviços mínimos tais como bancos de socorros, pois ficam sem pessoal para atender aos doentes. Segundo ela, a unidade sanitária que dirige tem três médicos, nomeadamente um dentista (que está a gozar licença de parto), um médico generalista e um pediatra. Estes últimos dois não se apresentaram aos seus postos de trabalho. Foram minimizar os efeitos da greve, o Centro de Saúde da Polana Caniço solicitou a ajuda de alguns estagiários do Instituto Superior de Ciências de Saúde e do Instituto Médio de Saúde em Maputo.

Adelaide Paulo, administradora do Hospital Geral de Chamanculo, disse que todos serviços estavam a funcionar normalmente, mas segundo alguns trabalhadores da mesma unidade sanitária, com quem o @Verdade conversou, apenas a farmácia estava em actividades porque havia doentes crónicos com a data marcada para levantar comprimidos.

Assim foi também no Centro de Saúde do Alto-Maé, todos os sectores estavam completamente encerrados. Relativamente ao Hospital Geral José Macamo, alguns estagiários de medicina foram ocupar os lugares deixados vagos pelos médicos grevistas no sentido de não deixar os doentes à sua sorte. Refira-se que todas as direções das unidades sanitárias da capital do país receiam que o impacto da greve dos médicos (convocada por cinco dias prorrogáveis) possa ser maior caso o Governo não tome medidas urgentes para que a mesma cesse. Por isso, estão a esboçar planos de emergência para poder lidar com a situação e garantir o mínimo de atendimentos aos pacientes.

Ainda em Maputo apuramos que os serviços funerários do Hospital Central e no do Hospital de Mavalane não estão a funcionar.

Greve com alguma adesão no centro do país

Alguns cidadãos reportaram-nos que em quatro postos de saúde da cidade do Xai-xai as portas não abriram pois houve adesão total a greve. No Hospital provincial de Gaza recebemos indicações que vários médicos, enfermeiros e outros profissionais não se fizeram presentes tendo o funcionamento mínimo sido assegurado médicos que ocupam cargos de chefia nesta província a sul do Moçambique, situação similar aconteceu no no Hospital rural do Chókwè.

Na cidade de Inhambane só alguns médicos aderiram a greve. Contudo, na mesma província, temos registo de dois partos realizados sem assistência médica na varanda do Hospital rural de Quissico. As parturientes foram assistidas por algumas mulheres, que também aguardavam tratamento, e por uma servente conhecida ante o olhar indiferente de alguns profissionais que aderiram a greve.

Da província de Sofala pouca informação chegou sobre esta greve havendo porém confirmação de que alguns poucos profissionais, incluindo médicos, aderiram a greve no Hospital provincial da Beira.

Pouca adesão registou-se ainda no Hospital provincial de Quelimane, na Zambézia. Da mesma província chegaram-nos relatos de adesão massiva no distrito de Morrumbala.

Na cidade de Tete, apesar de cerca de metade dos profissionais saúde não haver aparecido, o Hospital provincial funcionou sem grandes problemas.

De Lichinga chegaram-nos relatos de adesão de mais de 70% dos médicos, enfermeiros e serventes do Hospital provincial contudo os serviços estão a funcionar com graças a mobilização de técnicos de saúde.

Grande adesão em Nampula

Na maior unidade sanitária da região norte do país, o Hospital Central de Nampula, os médicos estão a fazer “de faz de conta” que trabalham. Estão nos seus postos de trabalho mas não atendem aos doentes.

O nosso jornalista viu dezenas de doentes a aguardarem atendimento médico e a começarem a desesperar. “Nós estamos aqui desde as 6 horas da manhã e nenhuma pessoa foi atendida. Os médicos estão aqui mas não estão a fazer nada” disse Anita Catarina uma das pacientes.

A nossa reportagem tentou, sem sucesso, ouvir a direcção do Hospital Central de Nampula porque fomos informados que apenas o Director Provincial de Saúde podia falar à imprensa, e na altura da nossa visita estava indisponível. Estudantes das várias instituições que lecionam cadeiras de saúde foram mobilizados para trabalharem nos serviços de triagem.

No Centro de Saúde 1º de Maio, na cidade de Nampula, os profissionais de Saúde estão reunidos em algumas salas, não estão a trabalhar.

Cenário idêntico verificamos no Centro de Saúde de Namicopo, onde os doentes sentem-se abandonados pelos médicos e enfermeiros pois nenhum sector de atendimento está a funcionar.

Já no final do dia o nosso repórter presenciou no Hospital central de Nampula algumas situações delicadas. Um menor que tinha o braço deslocado esteve mais de 4 horas a aguardar atendimento no banco de socorros. Um cidadão ferido, ligeiramente num acidente de viação, e que deu entrada nas primeiras horas do dia só conseguiu fazer um raio X cerca das 16 horas.

Um outro doente, ferido no mesmo acidente de viação ocorrido em Muriasse, não foi internado na maior unidade hospitalar no norte de Moçambique por falta de espaço. Os seus familiares tiveram que carrega-lo na maca pois os serventes que habitualmente realizam este trabalho aderiram a greve.

Entretanto a greve dos médicos, e outros profissionais de saúde, deverá prosseguir nesta Terça-feira (21) pois, segundo o comunicado da AMM “a Greve será apenas desconvocada quando a comissão dos profissionais de saúde unidos, oficialmente, assim se pronunciar, caso o salário, discussão do Estatuto do profissional de saúde for satisfeito. Entenda-se por oficialmente os seguintes: Documento por escrito, e assinatura da comissão, e comunicado radiofónico e/ou televisivo efectuada pelo assinante do pre aviso em coordenação com a AMM.”

Durante este primeiro dia, da segunda greve dos médicos – a qual se juntaram os enfermeiros, serventes e outros profissionais de saúde -, foram registadas várias tentativas de coação dos profissionais de saúde por dirigentes da saúde e dos governos um pouco pelo país.

 

CLIQUE AQUI PARA LER AS REIVINDICAÇÕES DOS MÉDICOS E PROFISSIONAIS DE SAÚDE

 

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