O rácio de alunos por professor nas escolas básicas do distrito de Matutuíne, província de Maputo, no Sul de Moçambique, é de 20 crianças por turma.
Esta situação é rara ao nível nacional, onde grande parte das turmas do ensino básico são compostas por mais de 50 alunos, devido a crise de vagas que se regista no país.
Neste momento, estima-se que cerca de 300 mil crianças em idade escolar (seis anos) estão fora da escola em Moçambique devido a falta de professores e infra-estruturas escolares para absorver todas as crianças.
O director distrital da Educação de Matutuíne, José Raimundo Comati disse a AIM que o reduzido número de alunos nas turmas é resultado da fraca adesão das crianças ao ensino, bem como devido ao elevado número de desistências por várias razões.
A emigração de crianças para a vizinha África do Sul, bem como para a Swazilândia é apontada como uma das principais causas da fraca adesão das crianças à escola e das desistências.
“Muitas vezes as crianças deixam de ir a escola porque tiveram que acompanhar os seus pais para a África do Sul ou Swazilândia a procura de melhores condições de vida, ou para irem receber os seus subsídios na África do Sul. Também temos casos de crianças que saem para estes países para irem cuidar dos filhos dos seus familiares que se encontram a viver lá e deixam de estudar”, explicou.
A fonte revelou que as autoridades de Educação de Matutuíne no ano passado conseguiram recuperar sete crianças que estavam a abandonar a escola para acompanhar os seus familiares à África do Sul.
Aliás, segundo a fonte, este é um trabalho que o Governo distrital está a levar a cabo para garantir que as crianças daquela região concluam pelo menos o nível básico que é gratuito no país.
“Nós recuperamos sete crianças que já estavam nas fronteiras da África do Sul para continuarem a estudar até pelo menos concluírem o nível básico. O posto administrativo de Catuane teve que exercer alguma força para conseguir trazer de volta a escola estas crianças”, disse.
Por outro lado, há o caso das desistências por causa dos casamentos prematuros, bem como gravidez precoce.
A AIM apurou que em Matutuíne muitas vezes quando as meninas nascem elas já estão comprometidas. Quando completam 13 anos e se andarem bem na escola e estiverem a concluir a sétima classe os seus pais vão informar a família do seu prometido para apressar os casamentos.
As fontes da AIM revelaram que muitas vezes eles estudam apenas até a sétima classe e casam-se para evitar que elas conheçam outros rapazes na escola Secundária, o que pode comprometer o acordo estabelecido entre as famílias.
“Os casamentos prematuros são um fenómeno que requer envolvimento de toda a sociedade porque se trata de uma tradição e há necessidade de desestimular que estas práticas contribuam para a desistência das crianças, mostrando que as meninas, sobretudo, precisam concluir a sua formação mesmo casadas”, disse.
Segundo dados apurados pela AIM, no ano passado, cerca de 500 alunos desistiram de estudar naquele distrito por causa dos casamentos prematuros, gravidez precoce ainda emigração.
Apesar do número de alunos que desistem de estudar continuarem preocupantes em Matutuíne, os dados apontam para uma tendência de redução dos casos.
Em 2007, registaram-se 777 casos de desistência e no ano seguinte o número de desistentes reduziu para 649 alunos.
O distrito de Matutuíne possui 54 escolas básicas, que leccionam da primeira a sétima classes.
Depois de concluir o nível básico, todas as crianças são afectadas na única escola secundária do primeiro ciclo (da 8/a a 10/a classe) que existe naquela região.
Neste momento, o efectivo de alunos em todo o distrito é avaliado em nove mil da primeira a 10/a classes. Ainda, Matutuíne conta com cerca de 480 professores.
Para o director distrital de Educação, o distrito precisa de uma escola politécnica para reduzir a pressão que existe sobre a única escola secundária que existe e ainda conseguir absorver o maior número de alunos que querem prosseguir com os seus estudos.
A população do distrito de Matutuíne é caracterizada por viver mais para o interior, longe das vias de acesso. Esta pode ser uma consequência da guerra civil que o país viveu durante 16 anos, assim como pode resultar do facto de grande parte das pessoas viver da criação de gado, o que exige muito espaço, principalmente por causa da pastagem.
Devido a esta situação, estima-se que actualmente as crianças percorrem em média cinco quilómetros para chegar a escola.
“Antes do alargamento da rede escolar no distrito, as nossas crianças percorriam 10 quilómetros para chegar a escola”, revelou.
Moçambique está empenhado em garantir o acesso à educação básica a todas as crianças em idade escolar até ao ano de 2015.
Aos poucos, o país vai caminhando para a concretização desta meta. Em 2007, falava-se de 600 mil crianças foram da escola, e este ano fala-se de 300 mil. A medida que as infra-estruturas escolares vão sendo construídas e mais professores com qualificação recrutados, abrem-se possibilidades para a colocação de todas as crianças em idade escolar.