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Autárquicas 2013: Matola votou pela continuidade

“O processo eleitoral de 2014 foi um falhanço”

Um voto pela continuidade foi a filosofia que levou milhares de eleitores às urnas na autarquia da Matola, o maior parque industrial do país. Os residentes cumpriram o seu dever com urbanismo e não foram pela mudança, embora Silvério Ronguane, candidato a edil pelo Movimento Democrático de Moçambique, tivesse demonstrado certa confiança na vitória

Logo pela manhã, na Escola Primária Completa 30 de Janeiro, o principal posto de votação da cidade da Matola, com um total de 10 mesas, os eleitores não perderam a oportunidade de afluir ao local para eleger os seus novos representantes na autarquia, ainda que fontes oficiais do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral digam que “os números não superaram as nossas expectativas”.

As filas não eram longas e alguns pontos encontravam-se vazios. As urnas abriram exactamente às sete horas sem nenhum sobressalto, sobretudo nas mesas por onde a nossa equipa de reportagem passou. Porque maior parte dos cidadãos reservou as primeiras horas do dia para exercer o seu dever cívico, por volta das 13 horas o número de pessoas começou a diminuir. Este facto fez com que as urnas encerrassem 15 minutos depois da hora prevista, 18 horas.

Entretanto, a mesa número 10000301, ainda na Escola Primária Completa 30 de Janeiro, registou momentos de agitação do lado de fora devido ao facto de alguns jovens não terem permitido que os idosos, muitos com idade superior a 70 anos, tivessem prioridade. Os anciãos foram obrigados a seguir a ordem na fila que chegou a atingir meia centena de pessoas. “Todos nós viemos votar. Não interessa se somos jovens ou adultos. O direito de voto é o mesmo para todos”, disse um dos jovens na esteira da insensibilidade.

Escrutinadores: os homens da cortesia

Nos postos de votação por onde a nossa equipa de reportagem passou, os escrutinadores, membros da mesa de voto, exerceram bem o seu papel (ajudar os eleitores na identificação das respectivas mesas). Souberam atender com cortesia os cidadãos que chegavam àqueles locais munidos de cartões de eleitor ou outros documentos. “Se houver alguém que deve ser elogiado neste processo, esse deve ser o escrutinador. Parece que neste ano o STAE soube escolher as pessoas certas ou, então, soube formar como deve ser”, disse um cidadão.

Vigilância cerrada

Os delegados de candidatura, excepto os presentes na mesa número 10000504, na qual o representante do partido Frelimo se ausentava constantemente, bem como na mesa 10000302, em que a do MDM não parava de falar ao telefone, fizeram “marcação cerrada” ao processo de votação do princípio até ao fim. Ainda assim, os populares não deixaram de presenciar a contagem de votos com urbanidade e sem nenhum tipo de incidente com a Polícia, apesar da chuva torrencial que se registou na noite daquela quarta-feira (20).

Não houve, portanto, cortes de energia, apesar de o STAE ter disponibilizado candeeiros a todas as mesas para evitar que os membros das mesas de voto trabalhassem na escuridão. “Mercados” não foram às urnas Os níveis de abstenção, a nível do município da Matola, podem atingir níveis inaceitáveis. O @Verdade notou que grande número dos vendedores do mercado Trevo e do mercado informal que se encontra na famosa paragem de transportes da “Casa Branca” não se dirigiu aos postos de votação.

“Estou com fome. Prefiro trabalhar e só depois de ganhar algo é que poderei votar”, assim justificou Zito António, um vendedor de recargas de telemóvel que, curiosamente, desenvolvia a sua actividade nas imediações da assembleia instalada na Escola Primária do Língamo, local onde se recenseou. Bernardo Mileia, por sua vez, vendedor no mercado informal localizado perto da “Casa Branca”, garantiu que ia votar mas “não posso abandonar o meu negócio. Mais tarde, quem sabe, posso ir eleger o nosso presidente do município”.

“Votando como não, nada muda. Continuamos na mesma. No passado prometeram construir um mercado melhorado para nós e até hoje nada foi feito. Certo dia vieram os agentes da Polícia Municipal que disseram que devíamos sair daqui porque este local não foi concebido para a venda de produtos, esquecendo-se de que fizeram promessas quando queriam votos”, revelou uma vendeira do mercado que a seguir sentenciou: “eles que se votem”.

A abstenção

Apesar de se ter declarado tolerância de ponto nas 53 autarquias para permitir que os cidadãos pudessem votar, o facto é que muitos optaram por ficar em casa e não ir às urnas para escolher as pessoas que vão dirigir os destinos dos seus municípios.

“O matolense é cobarde, amanhã irá reclamar de tudo, da falta de transporte, estradas, segurança, mercado, e mais condições mas onde estava quando foi chamado a escolher o melhor caminho! Os que não foram votar não têm legitimidade para reclamar de ou elogiar algo”, disse um eleitor, visivelmente revoltado.

Por volta das 6h30, a Escola Secundária de Khongolote acordou cheia de pessoas que queriam decidir pela Matola. Em algumas filas havia discussões, pois alguns queriam estar nos lugares da frente. “Acordei às três horas, isso dói. Queria ser a primeira a votar mas há pessoas de má-fé que metem os seus amigos e conhecidos”, queixou-se Marta Matusse.

Manobras dos membros das mesas

Quando as urnas foram abertas, o presidente da mesa número 10006501 fechou simplesmente a porta, deixando os delegados e observadores do lado exterior. Questionando sobre o porquê da sua atitude, este nem sequer se pronunciou. Depois disso, a votação decorreu normalmente até à hora do fecho.

Membros das mesas sem alimentação

Entretanto, uma das situações que nos saltaram à vista foi o facto de os membros das mesas de voto afectos à Escola Secundária de Khongolote terem trabalhado o dia todo sem comer porque o STAE só foi deixar os mantimentos por volta das 23 horas. “São 21 horas e ainda não comemos nada, sinto tonturas. O STAE acha que terei discernimento para contar bem os votos?”, questionou um dos membros das mesas de voto.

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