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MARRABENTA E GWAZA MUTHINI Do mito ao rito

MARRABENTA E GWAZA MUTHINI  Do mito ao rito

 

Promover um festival musical em Moçambique, seja de que ritmo for, será sempre um problema, assim como pode não ser, porque o nosso país é uma constelação de culturas, cada uma com o seu próprio valor. Cada uma desenvolvendo-se de mote próprio. Cada uma com capacidade de, a partir dela mesma, alargar-se a todo o território nacional. Mas também, levar a cabo uma manifestação desta índole, será, com certeza, uma elevação da nossa história.

Isto acontece igualmente com as línguas nacionais, que se escarrapacham sem acabar, do Rovuma ao Maputo, mostrando uma riqueza que só nos irá orgulhar a todos. Com as nossas línguas subjaz – quando o debate é esse – a seguinte questão: a termos que escolher uma para cada região, qual seria? Para além de que, nas faculdades universitárias onde se pretende ensinar essas línguas, parecer ser pouco o interesse dos potenciais estudantes.

Depois da realização do Festival da Marrababenta, que teve o seu início no dia 30 de Janeiro, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, passando por Marracuene, Matalana indo terminar em Chibuto, ficou esta questão no ar: será que valeu a pena esta iniciativa? Que repercussão terá tido para o país?

No suplemento cultural do jornal Notícias da semana passada, Gimo Remane, conceituado músico moçambicano e fundador da célebre banda Eyuphuru, questionava a realização do Festival da Marrabenta. Para ele, se formos por essa via, “teremos muitas dificuldades porque Moçambique tem muitos ritmos. Ele ainda nos diz: imagina realizarmos um festival de tufo, festival de mapico, etc!”.

Mas nós temos outra forma de pensar, de ver as coisas: olhando para todo um percurso que Moçambique trilhou, em termos de música e ritmos, chegamos à conclusão de que é necessário que se exalte cada uma dessas facetas, porque cada uma delas assume uma importância particular. Por exemplo, temos o festival anual de timbila, que se realiza em Quissico-Zavala, para onde são mobilizados meios e pessoas de várias tendências culturais e até políticas, com o fim de assistir a uma das manifestações mais retumbantes que este país tem. Não se pode olhar para a timbila com lunetas tribais, mas sim prestar atenção à sua efervescência, perguntar aonde é que os regentes que dirigem aquelas orquestras foram aprender soberbas partituras. Assim como se pode fazer esta pergunta: quem é o autor daquela magnificência? Julgo que há toda uma necessidade premente de se manter a timbila, assim como todos os ritmos existentes no nosso país.

A marrabenta acarreta todo um peso histórico dos tempos de uma cidade segregacionista, que era a antiga Lourenço Marques, passando pelas minas do “Rand”. Ela ergue nomes pujantes, que serão o orgulho dos moçambicanos, casos de Francisco Mahecuane, Alexandre Langa, Fany Mpfumo, Lisboa Matavele, Alberto Mhula (o manjacaziano), Dilon Djingi, Ernesto Ximanganine e tantos outros. São estas figuras que no tempo colonial e durante a vigência do Apartheid, dedilhavam e cantavam, manifestando os seus sentimentos através de um ritmo que ficou conhecido como marrabenta. A marrabenta será sempre uma arma valorosa, que deverá ser mantida por tempos de nunca acabar.

Falamos da marrabenta e da timbila, como evocaremos sempre e com orgulho, o nyau, distinguido agora com divisa de Património da Humanidade. Não vemos qualquer problema em promover um festival de nyau, onde iremos sentir a trepidação de um feitiço da alma, levando-nos para as profundezas da terra e para tempos de muito longe. São coisas bastante sérias que irão constar nas grandes antologias musicais deste país e, uma das formas de as manter nessas selecções, será a realização regular de festivais. Temos o nyau, assim como temos o fervoroso mapico, que nos levará à irreverência dos macondes no planalto de Mueda e a todos os lugares de Cabo Delgado onde estarão para sempre os correligionários de Reinata Sadimba, um dos nomes macondes mais conhecidos em Moçambique e no mundo.

Provavelmente será um debate importante, questionar a importância da realização de um festival de marrabenta, mas também pensamos que é lícito que ele se realize anualmente, em nome da nossa história.

 

 

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