Centenas de activistas e doentes de SIDA marcharam esta segunda-feira, em Maputo, em protesto contra o encerramento de Hospitais Dia em Moçambique, por decisão do Ministro da Saúde, Ivo Garrido. O grupo de activistas percorreu cerca de dois quilómetros da Avenida ‘Eduardo Mondlane’, uma das principais artérias da cidade capital, entoando canções e empunhando dísticos com mensagens de protesto contra a medida, em vigor desde Marco de 2008.
A marcha terminou no Ministério da Saúde (MISAU), onde o grupo entregou uma mensagem de protesto ao respectivo titular da pasta, Ivo Garrido. “Queremos manifestar a nossa indignação por causa deste processo (de encerramento de Hospitais Dia)”, disse César Mufaniquiçe, coordenador do Movimento para o Acesso ao Tratamento Antiretroviral em Moçambique, lendo a mensagem depois entregue ao Ministro da Saúde.
Em Março do ano passado, Ivo Garrido determinou o encerramento dos 23 hospitais Dia, distribuídos pelas províncias de Maputo e Gaza (Sul do país), Sofala, Manica, Tete e Zambézia (Centro) e Nampula e Niassa (no Norte), e a integração dos pacientes de SIDA nos hospitais comuns. Justificando essa medida, o Ministro da Saúde disse, na altura, que este tipo de unidades sanitárias (destinadas ao tratamento exclusivo de doentes de SIDA) só agravava o estigma em relação ao SIDA e constituíam “focos de discriminação dos doentes”. Passado um ano, os doentes de SIDA dizem que o estigma em relação a sua situação piorou depois da sua integração nos hospitais comuns, onde eles são misturados com pessoas padecendo de suficiente para cuidar devidamente dos pacientes.
Os activistas falam da existência de diversos doentes que interromperam o tratamento antiretroviral (TARV) porque os seus processos, já fora dos hospitais Dia, ainda não se encontram nos hospitais comuns. Outros estão a receber tratamento, mas o nível de atendimento é de longe comparável ao prestado pelos hospitais Dia, onde os doentes beneficiavam de tratamento personalizado e tinham a possibilidade de acompanhar devidamente os progressos do seu estado serológico. Este grupo de activistas acusa o Ministro da Saúde de não ter auscultado ninguém sobre as vantagens dessa medida. Aliás, ao longo da sua marcha, este grupo considerou Garrido como sendo “um ditador por ter decidido encerrar os hospitais Dia sem antes consultar nem a sociedade civil, nem os doentes, muito menos o pessoal médico”.
Falando à AIM, Percina Narsone, do Programa DREAM da Comunidade do Sant’Egídio, disse que, com o encerramento dos hospitais Dia, tornou-se mais grave o problema de acesso ao TARV, principalmente dos doentes transferidos destas unidades de referência para os hospitais comuns. “O doente não tem informação sobre o seu estado de saúde e, muitas vezes, nem o pessoal médico a tem”, disse. No âmbito desse processo, ficou também encerrado o laboratório do programa DREAM no Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária do país, onde se realizavam os testes sobre a carga viral dos doentes. Assim, neste momento, este tipo de testes é realizado no estrangeiro e o processo não tem sido eficaz, pelo menos até agora.
O Programa DREAM foi o primeiro a introduzir tratamento TARV em Moçambique, sendo por isso conhecido como sendo de referência. Este é o único que possui os seus hospitais Dia ainda em funcionamento, mas os seus gestores ainda não sabem qual será o seu futuro. Depois do encerramento dos hospitais Dia e se provar a ineficiência dos hospitais comuns, muitos doentes de SIDA tentaram integrar-se no Programa DREAM, mas parte deles foi rejeitada porque os gestores do programa não sabem se este vai ou não continuar.