Por muitos anos, o ordenamento territorial das zonas periféricas da cidade de Maputo limitou-se a simples colocação de ruas nos bairros, ignorando-se a criação de outras facilidades importantes para a melhor organização e saúde destes locais.
Assim, para o ordenamento de um determinado bairro, a principal actividade realizada pelas autoridades municipais era ou ainda é a abertura de ruas, deixando-se de lado outras actividades também importantes como abertura de valas de drenagem, plantio de árvores, entre outras.
Isso é o que foi feito em muitos bairros da cidade de Maputo e arredores, onde os bairros urbanizados após a independência nacional proclamada há 35 anos apenas possuem ruas, chegando mesmo a faltar árvores de sombra.
Com efeito, em Maputo, locais como Polana Caniço (parte), Hulene (parte), Laulane, Magoanine, Mahotas, entre outros, foram tidos como bairros de referência só porque tinham terrenos devidamente demarcados e ruas que permitem a circulação de veículos e pessoas.
De facto, isso constituiu uma grande revolução em relação a realidade dos bairros mais antigos na altura como Mafalala, Chamanculo, Maxaquene, Urbanização, entre outros que surgiram e cresceram de forma aparentemente espontânea e desordenada e que agora estão desprovidas de quase todo tipo de facilidades. Contudo, o trabalho realizado nesses “bairros modelo” não foi completo.
O manual de Técnicas Básicas de Planeamento Físico produzido pelo Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) indica que, no ordenamento dos bairros, a rua ou estrada deve ter espaço para a circulação de carros e pessoas, bem como espaço para valetas de escoamento de águas pluviais e para o plantio de árvores de sombra.
Devido a falta destas todas facilidades nos bairros tidos como de referência, quando chove, surgem novos problemas relacionados com a erosão dos solos e estagnação de águas pluviais, resultando na intransitabilidade das ruas tanto para carros como para os peões.
Por exemplo, em algumas zonas do bairro Polana Caniço, as ruas poderão ficar totalmente intransitáveis, principalmente para viaturas, devido a erosão causada pelas correntes das águas das chuvas e arrastam consigo quantidades consideráveis de solos.
A situação é mais crítica nas áreas baixas e aquelas que são atravessadas por correntes de águas provenientes das zonas altas.
Esse problema poderia ser minimizado se aquelas ruas tivessem valas de drenagem porque estas infra-estruturas seriam as principais condutas das águas.
Noutros bairros, regista-se problemas de erosão dos solos que poderiam ser minimizados com a simples existência de árvores nos passeios das ruas.
Além de proporcionarem oxigénio e frescura, as árvores são importantes porque reduzem força das gotas das chuvas que quando chegam ao chão sem passar pelas folhas arrastam consigo quantidades significativas de solos provocando erosão.
Noutros bairros como Laulane e Magoanine, um dos problemas notáveis é a estagnação das águas pluviais, situação que chega a tornar as ruas totalmente intransitáveis durante dias prolongados.
Esta situação é agravada pelo uso, cada vez mais intensivo, das ruas desses subúrbios pelos automobilistas como vias alternativas ao tráfego exagerado verificado nas já insuficientes estradas principais que dão acesso ao centro da cidade de Maputo.
Certamente que as autoridades municipais estão a par deste fenómeno, mas parece que ainda não foi tomada nenhuma medida destinada a melhorar a situação dos bairros até agora tidos como de referência.
Apesar dessas medidas não terem sido tomadas logo no decurso da actividade de ordenamento daqueles bairros, ainda é possível fazer algumas intervenções capazes de minimizar os problemas ambientais agora verificados.
O pior será ficar de lado e assistir a situação a deteriorar-se cada vez mais. Aliás, nos últimos anos, o Município de Maputo tem vindo a tentar reparar ou minimizar os problemas (já fossilizados) de urbanização de alguns bairros da cidade, para, no mínimo, permitir a abertura de vias de acesso, valas de drenagem e criação de espaços para as infra-estruturas sociais básicas.
O único problema é o facto desses projectos de reordenamento urbano beneficiarem apenas os bairros já em estado crítico, enquanto os “bairros modelo” também estão já a sofrer problemas ambientais agravados por erros cometidos no passado.