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Magoanine e CMC ligados – “Marcos Mabote”: martírio compensado

Magoanine e CMC ligados - “Marcos Mabote”: martírio compensado

Todos – ou quase todos – são unânimes em afi rmar que o sofrimento a que estiveram sujeitos enquanto se procediam às obras de construção da Avenida Sebastião Marcos Mabote, ligando Magoanine ao CMC, na cidade de Maputo, parecia levá-los à colheita do diabo. É que, o tempo que se levava – de carro – para sair do CMC para Magoanine ou daqui para o CMC, equivalia a um calvário. E esse martírio durou cerca de um ano.

Só de pensar – enquanto se dormia – que no dia seguinte era necessário percorrer os mesmos atalhos do castigo, que se consubstanciavam em buracos e poeira e estreitamentos, em direcção ao local de trabalho, esse sono deixava de ter sentido. Levava-se menos tempo a ir de CMC à Manhiça, do que a sair dali à Matola. Só para se chegar a rotunda de Magoanine, viagem podia levar cerca de uma hora, mais outra hora para se chegar à Matola.

Era um drama que matava a carne e o espírito todos os dias. Mas tudo isso – para gáudio de todos – já passou, pois a avenida que leva o nome do grande general (Sebastião Marcos Mabote) já está aberta ao tráfego, signifi cando que o trajecto sinuoso que parecia levar à colheita da morte, transformou em colheita do alívio, acabando, deste modo, com o sofrimento.

 

Depois de ter sido anunciada inaguração da via, achei por bem ir até lá para ver com os meus próprios olhos o trabalho desenvolvido pelo Conselho Municipal da Cidade de Maputo. Sentir com os meus pés e a alma o prazer de viajar num piso que ainda cheira(va) a novo.

 

 

Subi para um “chapa” que fazia o trajecto T3 – Praça dos Combatentes, conduzido por uma tripulação de jovens andrajosos. Sentia-me bem comigo mesmo e com Deus naquela tarde em que o movimento na estrada não era de “demónio”, como acontece durante a semana. Mesmo assim, dentro do pequeno autocarro, o ambiente era ensurdecedor, pois algumas pessoas falavam quase no mesmo tom alto da aparelhagem que vomitava aquilo que muitos teimam em chamar de música.

Transportavam-nos apinhados, como animais levados para o abate. Passámos a terminal de Malhazine e, quando olhei para a direita, uma aeronave monstruosa descia, com elegância, ao encontro do solo no Aeroporto Internacional de Maputo, proporcionandonos um belo espectáculo, belo demais, apesar de se saber que, à mínima falha, podia resultar em tragédia.

O belo descartado

Na rotunda de Magoanine saltei do “chapa”, e procurei avidamente a Avenida Sebastião Marcos Mabote, para sentir a sua respiração. Percebi imediatemente que os seus construtores não quiseram perder tempo com a sua beleza. E todos nós sabemos que a beleza de qualquer coisa tem que começar por fora até atingir o interior. Mas aqui, como dizia a mulher de César, não basta ser, é preciso parecer. Ou seja, quem ouve falar da “Sebastião Marcos Mabote” e vai a Magoanine, quer contemnplála logo a partir da rotunda, mas não é isso que acontece naquele lugar. Quer dizer, os dinheiros – provavelmente – “esmagaram” todo o sentido do belo, pois a construção do troço começa a uma distância de cerca de 50 metros dali.

A rotunda continua a mesma praça da desordem, da anarquia, do oportunismo e da ratonagem. Quando desci do chapa” havia carros na faixa de rodagem em completa letargia, criando o caos no trânsito. Os camiões, cansados pelo uso, estão ali feitos autênticos mamarrachos, uns cheios de areia para construção, outros vazios à espera dos prováveis fretes. Os condutores dos “tchova xita duma” também estão ali, muitos deles sem trabalho, aproveitando a modorra para coçar micoses e ruminar a fome que os castiga.

 

Os vendores informais, esses, mantêm a agressividade da busca incensante do pão para as crianças e para eles mesmos, lutando para que o dia de amanhã seja melhor. É isso: quem está ali não se apercebe da existência da “Sebastião Marcos Mabote”. É como se ela não existisse, isto é, o construtor tinha certamente o seu programa que, pelos vistos, foi cumprido rigorosamente ao nível de dinheiros. A avenida começa a cerca de cinquenta metros da rotunda, iniciando um panorama de ar fresco e deixando para trás uma rotunda e vendedores informais formando um ambiente de autêntica paranóia.

 

Onde estão as lombas?

A primeira chamada de atencão que recebi quando me pus em direcção ao CMC, dentro de outro “chapa”, foi a velocidade. A via rasga um bairro residencial, habitado por velhos, homens, mulheres e crianças. No seu percurso existe um hospital e um campo de futebol quase encostado à avenida cheio de miúdos a jogarem à bola e, como todos nós sabemos, atrás de uma bola vem sempre uma criança.

O “chapa” anda como um bólide. Parece um pássaro com a cauda a arder e goza ainda mais de liberdade porque a via é larga. De vez em quando há pessoas a atravessarem a estrada, correndo constantemente perigo de morte. As buzinadelas anunciam o cadafalso latente e, um dia, com este andar, a morte será, com certeza, a nossa colheita, para a desgraça da nossa existência.

É necessário que se faça algo antes que as espigas de aço recebam as nossas crianças – e não só – no fundo do abismo. Ninguém tem o direito de semear a morte daquela maneira, porque, se assim for, todo o trabalho poderá ser manchado. É urgente regular o trânsito, com a construção de lombas ou valetas (mas como é que não pensaram num detalhe tão premente?). De resto fez-se um trabalho que merece apalusos, muito embora se diga que a estrada tem muita trepidação e as obras ainda não estão concluídas

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