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Macilau prossegue com um destino irónico

Macilau prossegue com um destino irónico

“Destino Irónico” é como se chama a mostra de instalações e fotografias inauguradas recentemente na Galeria do Instituto Cultural Moçambique -Alemanha, do fotógrafo moçambicano Mário Macilau. As obras constituem a sua primeira mostra individual para o ano 2014 e podem ser apreciadas até o início de Abril.

Mário Macilau é um fotógrafo moçambicano que, segundo afirma, está sempre receoso em relação aos problemas sociais com que os moçambicanos se debatem, sobretudo porque os mesmos tendem a piorar, a cada dia que passa. O seu medo resulta das precárias condições em que se encontram, por exemplo, as ruas da capital moçambicana e arredores, a crise económica, a guerra entre os dois maiores partidos políticos que, muitas vezes, resulta na morte de pessoas inocentes, gerando um clima de instabilidade e insegurança social.

Nesse sentido, no campo das instalações, na referida mostra, o artista expõe um conjunto de peças de roupa muito procurada no país, comummente conhecida como “calamidade” – por ter sido usada por outrem e depois “doada” a pessoas carenciadas – não, necessariamente, devido à sua qualidade, mas pelo seu baixo custo de compra. Entretanto, na vertente da fotografia, Macilau expõe telas cujas imagens – reforçadas pelo facto de serem preto e branco – ilustram, muito bem, a situação da tristeza e luto, no preto, bem como o clamor pela paz, no branco. É possível ver nas imagens rostos de moçambicanos cujos semblantes traduzem uma grande mágoa em relação, não somente, ao tipo de vida que levam mas, acima de tudo, à incerteza do destino para o qual estão a ser conduzidos. Pessoas que carregam cicatrizes profundas na alma.

Macilau ilustra os rostos – desses homens e crianças que fazem a vida nas empresas ou fábricas de cimento – cheios de pó, exprimindo, desse modo, a precariedade das condições laborais em que os operários procuram melhorar as suas vidas, correndo sérios riscos de saúde, perante o olhar impávido do patronato e dos fiscais das instituições da saúde. Por outro lado, nas suas instalações de roupas de variados estilos, tamanhos e cores, o artista não deixa de lado algumas vozes humanas que “perturbam” o apreciador daquela forma de arte, fazendo-se reflectir na realidade com que se confronta. É neste contexto que olha para a nossa sociedade moçambicana, uma sociedade “perturbada e perturbadora”.

Além dos seus desígnios – nessa produção artística –, das cores com que impregna-se e dos modelos das peças, rigorosamente, estendidas para causar um espanto e prender a vista do espectador à tela e às instalações, o artista não perde de vista o seu objectivo – exaltar o dom da liberdade, a virtude da solidariedade humana, ao mesmo tempo que repudia todas as precariedades sociais em que vivemos. Diz-nos Macilau que a sua principal mensagem – aquela que ele pretende transmitir – tem a ver com a questão das disparidades sociais entre pessoas que, supostamente, vivem no mesmo espaço e contexto social.

“Por isso a roupa doada – uma espécie de precariedade – ilustra uma dependência básica em relação ao outro, por se destinar a resolver limitações/necessidades elementares para a existência humana. E a partir daqui pode-se inferir o tipo de destino a que se conduz o povo”, refere o artista que acrescenta que há pessoas interessadas em ver Moçambique arruinado. “Estamos num momento em que a sociedade está conturbada: temos problemas de natureza político-militar, económica e social. Há ódio e ganância no coração dos homens. O racismo e a luta pelo poder político e económico fazem com que o país fique nessa permanente dependência em relações aos outros, porque não desenvolve”.

Por outro lado, o fotógrafo utiliza imagens de personalidades bem reputadas no país – sobretudo os líderes políticos – que têm contribuído para que haja paz em diversas partes do mundo. “Os que lutaram pela nossa paz, pela nossa independência falaram no passado sobre o futuro, focalizando a crise que um dia cruzaria os nossos caminhos. Mas, o pior é que nunca temos tempo para ouvir as lições que eles – Samora Moisés Machel, Fidel Castro, Nelson Mandela, Martin Luther King, entre outros – nos deixaram”.

O artista diz que, tendo em conta o referido legado em termos de exemplos de personalidades que lutaram pela paz, a falta de entendimento entre o Presidente Armando Emílio Guebuza e Afonso Dlhakama é um contra-senso. Como todos os moçambicanos, Macilau quer a paz, sobretudo porque tem a experiência de um conflito militar. Portanto, é por essa razão que o artista assume o seu papel social para, através da arte, denunciar os seus “pontos de vista” a favor da manutenção de um bem comum e inalienável – a paz.

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