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Luaty Beirão anuncia fim de greve de fome, e moçambicanos não se solidarizaram com esta causa

Trinta e seis dias depois de ter iniciado uma greve de fome, Luaty Beirão pôs fim ao protesto. O “rapper” e activista angolano contestava a prisão preventiva que considerava ilegal e exigia que lhe fosse permitido aguardar julgamento em liberdade. Os moçambicanos não se solidarizaram com esta causa, a sociedade civil vai consumindo e vibrando ao som dos músicos angolanos enquanto o Presidente Nyusi prepara a sua visita de Estado agendada para o mês de Novembro.

O portal de notícias Rede Angola publicou uma carta do activista dirigida aos companheiros detidos, onde anuncia o fim da greve de fome mas promete continuar a combater o regime. A carta tem a assinatura de Luaty Beirão e terá sido entregue à Rede Angola pela família. Ele explica que abandona a greve de fome porque a vitória já foi alcançada: “Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A vitória já aconteceu”.

Nas últimas horas, os serviços prisionais angolanos tinham decidido limitar as visitas à mãe, à mulher e a um amigo. Já nem os irmãos podiam entrar.

A “Carta aos meus companheiros de prisão”, começa, tal como as detenções dos activistas, na data que deu inicio àqueles que se contabilizam hoje em 129 dias de detenção: 20 de Junho de 2015.

“Junho vai longe. Passámos muitos dias presos em celas solitárias, alguns sem comer, com muitas saudades de quem nos é próximo. Pelo caminho sentimos a solidariedade da maioria dos prisioneiros e funcionários. Tivemos o apoio da família e dos amigos.”

Detidos em diferentes estabelecimentos prisionais por cerca de três meses – Estabelecimento Prisional de Calomboloca, Unidade Prisional do Kakila, Hospital Psiquiátrico e Comarca Central de Luanda – , unanimemente acusados de “actos preparatórios para a prática de rebelião e atentado contra o Presidente da República”, de momento, todos os activistas se encontram no Hospital-Prisão de São Paulo.

Luaty Beirão, internado na Clínica Girassol, em Luanda, desde o dia 15 de Outubro – transferido pelos serviços prisionais por se encontrar em estágio avançado de greve de fome – , conseguiu, devido ao acesso a mais visitas e consumo de informação, aperceber-se dos movimentos de solidariedade e indignação em relação ao processo.

“Tive a oportunidade de me aperceber do que nos espera lá fora e queria partilhar convosco o que vi: vi pessoas da nossa sociedade, que lutaram pelo nosso país e viveram o que estamos a viver, a saírem da sombra e a comprometerem-se em nossa defesa, para que a História não se repita. Vi pessoas de várias partes do mundo, organizações de cariz civil, personalidades, desconhecidos com experiências de luta na primeira pessoa que, sozinhos ou em grupo, se aglomeram no pedido da nossa libertação. Já o sentíamos antes, mas não com esta dimensão”, conta Luaty aos seus companheiros.

É um texto de um, e para todos os prisioneiros políticos. São eles: Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo.

A 21 de Outubro, o grupo de detidos pediu a Luaty Beirão que parasse com a greve de fome.

Moçambique não se solidarizou com esta causa

Desde a detenção dos activistas, vários são os grupos de apoio nacionais e internacionais que apelam à libertação dos presos políticos em Angola, exigindo justiça e celeridade para a resolução do processo. Organizações tal como a Amnistia Internacional (AI), a OMUNGA, a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), o Grupo de Apoio aos Presos Políticos Angolanos (GAPPA), a Organização das Nações Unidas (ONU) e União Europeia (UE), entre outras, tornaram-se voz activa na exigência pelo respeito aos Direitos Humanos no país.

A sociedade civil, através de várias vigílias pacíficas e acções de solidariedade em diferentes países, apoia as famílias dos detidos e reclama “Liberdade Já”. Grito com início num movimento que surgiu pela libertação de todos os presos políticos de Angola.

Angola, Brasil, Portugal, Reino Unido, EUA, são, entre outros, alguns dos países que têm em agenda humanitária e informativa o caso dos “15+2”. À sociedade, Luaty dedica as seguintes palavras:

“Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare.”

Moçambique não se solidarizou com esta causa, a sociedade civil vai consumindo e vibrando ao som dos músicos de Angola, muitas vezes em detrimento da música nacional, enquanto o Governo do partido Frelimo vai trocando experiências com o Executivo de José Eduardo dos Santos e parece inspirar-se em alguns modelos como é o exemplo da promiscuidade entre o poder político e o poder económico. O Presidente Filipe Nyusi tem agendada para o mês de Novembro uma visita de Estado a Angola.

Por tudo isso, Luaty alerta para o facto de a força ainda parecer “desproporcional”, referindo que, apesar de o caso ter servido para expor a “fragilidade “ de quem governa, a “prepotência, incompetência e má-fé” continuam presentes na gestão do processo.

Para as atitudes acima descritas, Luaty diz o que já muitas vezes repetiu: “Vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo”, anunciando por fim: “Vou parar a greve.”

De momento, há que juntar, para além dos 15 detidos em Junho, as activistas Laurinda Alves e Rosa Conde ?, constituídas arguidas do mesmo processo a 31 de Agosto e a aguardar julgamento em liberdade.

E ainda Domingos Magno, detido no dia 15 de Outubro por “falsa qualidade”, ao ter na sua posse indevidamente um passe de imprensa que lhe daria acesso à Assembleia, onde pretendia assistir ao discurso sobre o Estado da Nação.

É também considerado preso político Marcos Mavungo, detido há seis meses e condenado, no dia 14 de Setembro, a seis anos de prisão, acusado do crime de rebelião contra o Estado. E Arão Bula Tempo, acusado formalmente de crime de rebelião e instigação à guerra civil.

É sobre todos eles que Luaty fala.

“Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A vitória já aconteceu”, afirma.

Segue-se um pedido: “Abracemos todo o amor que recebemos e agarremos todas as ferramentas. Juntos. Já não somos os ‘arruaceiros’. Já não somos os ‘jovens revús’. Já não estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários.”

Por fim, o activista assina, em luta pacífica, por “uma verdadeira transformação social” em Angola.

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