Logo após ter assumido o cargo de Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior deslocou-se a Luanda. Para além de agradecer o apoio angolano ao processo eleitoral guineense, esta visita pretendeu aproveitar o bom momento no relacionamento político, para promover o aprofundamento das relações económicas entre os dois países.
O modo amistoso como Carlos Gomes Júnior foi recebido em Luanda, reflecte bem o agrado das autoridades angolanas pela vitória eleitoral do PAIGC, partido com quem o MPLA sempre teve, desde a época da luta pela independência, boas relações.
Com os seus aliados naturais de regresso ao poder, Luanda pretende estender para Bissau o seu crescente poder financeiro e político. Esta pretensão é bem acolhida pelo governo de Bissau desejoso de cativar investimento estrangeiro de modo a ultrapassar a quase endémica crise económica e política. Os angolanos são responsáveis por um importante investimento: o Projecto de Desenvolvimento da Bauxite na zona de Boé. Este projecto, que estará em pleno funcionamento daqui a três anos, envolve um investimento de 321 milhões de USD.
A aproximação a Luanda é um reconhecimento, por parte de Bissau, da crescente importância que este país está a assumir, quer no continente africano, quer no mundo lusófono. No final da visita, Luanda prometeu estudar a possibilidade da abertura da linha de crédito solicitada pelo Primeiro-Ministro guineense. Esta linha é essencial para o pagamento dos salários em atraso dos 12 mil funcionários públicos guineenses, e, assim, garantir a estabilidade social no país. Por outro lado, e com vista a apoiar a Guiné-Bissau a ultrapassar as dificuldades socioeconómicas, Luanda aceitou reescalonar a divida deste país, estimada em 43 milhões de USD.
Esta intenção guineense é idêntica à iniciativa das autoridades são-tomenses logo após a ascensão de Rafael Branco ao cargo de Primeiro-Ministro. Também aqui foi importante o regresso ao poder do partido histórico de São Tomé e Príncipe, o MLSTP, o qual, tal como o PAIGC, sempre teve boas relações com o MPLA.
A aproximação de São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau a Angola marca uma fase importante dentro da Lusofonia. Embora não marginalizem a antiga potência colonial, a verdade é que reconhecem a crescente importância que Angola vem assumido, esperando que esta os possa ajudar a ultrapassar as suas fragilidades económicas.
Esta realidade reforça a ideia de que Angola, juntamente com o Brasil, tem-se vindo a assumir como um actor determinante para o futuro da lusofonia e da CPLP. Ao Brasil caberá desempenhar um papel de destaque na América Latina, enquanto que Angola assumira uma influência crescente no contexto africano. Não aceitar esta realidade é contrariar os ventos de mudança e só complicará a afirmação dos interesses da lusofonia no mundo.