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Umas vidas mais iguais do que outras

Veneno contra a monotonia

O mundo andou, nos últimos tempos e para não variar, preocupado com mais um conflito no Médio Oriente. Durante semanas a fio, televisões, jornais, rádios e demais meios de informação mostraram-nos o efeito de mais uma guerra: destruição, desespero, mortos e feridos.

Centenas de manifestações foram organizadas em solidariedade com o povo da faixa de Gaza e os cerca de mil mortos resultantes deste confronto. Declarações dos mais importantes e poderosos dirigentes foram feitas e centenas de enviados especiais foram para a zona do conflito para tentar negociar a paz.

Ainda bem, digo eu: os homens preocupam-se com os seus irmãos.

Há, porém, irmãos de diferentes categorias. Melhor, somos todos iguais mas há uns que são mais iguais do que os outros.

A cada mês morrem no Congo entre 45.000 e 73.000 pessoas, dependendo das fontes (International Rescue Committee, Muse Project ou Human Rights Watch) e estima-se que já terão morrido cinco milhões de pessoas desde que a guerra começou em 1998. Ou seja, morrem mais pessoas por mês no Congo do que na Guerra do Iraque desde o início da guerra.

A grande poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner escrevia: “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. Podemos, podemos. Podemos fingir que não sabemos que no Congo homens e mulheres como nós são chacinados, violados e torturados, que as crianças são usadas como soldados, que o que a guerra não mata, mata a fome e a doença.

Podemos também olhar para o lado e não ver que, tal como as guerras do Médio Oriente, esta existe, em grande parte, para que pessoas como eu tenham acesso a comodidades que, no fundo, não reconhecemos às outras o direito de ter. Quantos milhares de mortos vale o meu telemóvel, para o qual o coltan é minério fundamental, bem como para estações espaciais e armamento sofisticado, e que tem 80% das reservas mundiais em território congolês?

A globalização e a proliferação dos meios de comunicação transformou, de facto, o mundo. Não vale mais a pena dizer que não sabemos. Nós sabemos e este conhecimento – como todo, aliás – mudou-nos. O problema é que até agora não foi para melhor.

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