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Luanda dos preços absurdos

Mais uma vez, segundo a sondagem da empresa Mercer, sobre as cidades mais caras do mundo para os empregados das multinacionais no mundo, mostra que Angola ainda figura no topo. Em termos de alojamento, transporte, alimentação, assim como o entretenimento, Luanda passa a ser a primeira cidade, mais cara do mundo, seguida por Tóquio, a Capital do Japão, Ndjamena, a capital do Chade, é a terceira cidade mais cara do mundo.

Há várias razões que explicam este fenómeno. No caso de Angola e do Chade podemos olhar para os conflitos armados que impediram o surgimento de um sector de produção local de peso. Mas há também, o facto de que o tipo de vida que a classe média alta e os empregados das multinacionais, levam não ajuda na estabilização dos preços.

Muitos de nos, cá na Diáspora, entretermo-nos constantemente com o sonho de voltar para a terra-mãe. Alguns de nós temos crianças e, naturalmente, estamos curiosos em saber qual seria o preço a pagar para colocar uma criança num colégio razoável. Os preços que ouvimos são tão elevados que aqui, nos Estados Unidos, dava mesmo para fazer um Mestrado em Gestão pelo mesmo valor que se paga numa escola primária em Angola. Lá, existem parentes que estão prontos a pagar aqueles preços tão altos.

Uma vez estive com um amigo em Luanda e fomos a um bar de um hotel. O meu amigo foi mandando copinhos de uísque, quando a factura chegou não acreditei que, naqueles poucos minutos, alguém já tinha consumido o álcool que chegava a quase duzentos dólares. Isto, em muitos países africanos, é salário mensal de alguém. Se muita gente, por exemplo, recusasse, a pagar preços tão exorbitantes, os comerciantes não teriam nenhuma outra alternativa, os preços teriam mesmo que baixar.

Quando se bebe um copo de kisangwa num hotel de cinco estrelas entendo que se tem que pagar pelo ar condicionado, o guarda, a higiene dos lavabos e mesmo a perícia de quem fez a bebida. Porém, a kisangwa não pode custar o mesmo preço que um raríssimo conhaque. Sempre que estou em Luanda tento dar a volta ao absurdo dos preços. Usualmente, tenho que ficar num hotel no centro da cidade, já que é o que mais adoro – hospedar-me em casa do meu Mano Mais Velho Jaka não é prático por ele viver muito fora da cidade, no Golfe II.

Para se evitar o tráfego, é preciso acordar cedíssimo. Pela minha experiência, hospedar-me no centro da cidade passa a ser muito mais conveniente. Nos hotéis, raramente como as refeições já que elas são caríssimas, um jantar de batatas com bife e um sumo pode mesmo custar 60 dólares. Usualmente, prefiro ser convidado para casas de amigos, onde, claro – como se diz em inglês, tenho que cantar para o meu jantar – ou então vou para sítios razoáveis, onde senhoras vedem refeições (em certos casos muito melhores do que a dos hotéis) a preços acessíveis.

Um amigo levou-me, uma vez, para um local perto do circo em Luanda aonde as senhoras tinham pequenas barracas em que vendiam refeições por 25 dólares, desfrutámos de uma boa funjada com peixe, em companhia bastante adorável.

Na África Oriental, está-se a falar muito da união económica dos países da África Oriental que passa a ser mais uma realidade em países como o Quénia, Uganda e Tanzânia vão acabar com os controlos aduaneiros. Países como a Tanzânia, porém, temem profundamente o Quénia, dizendo que os empresários daquele país são mais agressivos e organizados. Há quem diga, e eu concordo, que a capacidade empreendedora dos quenianos só poderá impulsionar os outros.

O queniano tem uma imensa capacidade de identificar nichos de negócio – e muitas das vezes ele não espera o aval do governo. É por isso que uma cidade como Nairobi, embora tendo um número elevadíssimo de burocratas internacionais, é relativamente barata. Em Nairobi, a capital do Quénia, existe uma possibilidade de escolha vastíssima de restaurantes, por exemplo, o que faz com que mesmo as refeições nos hotéis mais chiques da cidade não sejam assim tão caras.

Houve um tempo em Nairobi em que o local mais cobiçado, pela classe alta, era uma loja onde se vendia principalmente café, chamada Java House. Aí, a elite queniana, gente que nunca saiu daquele país, mais fala com sotaque como se tivessem aterrado há minutos da Inglaterra, conversava entre eles e, pagavam bem caro por tudo. Havia ai, o que se chama «muzungu tax» ou a taxa de branco, isto é, alguém tem que pagar mais num local frequentado por brancos.

Mas ainda na mesma cidade Nairobi, há um restaurante que vende comida tradicional do grupo étnico Luo (a etnia do pai de Barack Obama). Nesse restaurante, há vários tipos de vegetais servidos com fungi e peixe a um preço tão razoável que famílias normais vão mesmo ao restaurante para comer e escutar música O que é curioso é que muitos turistas brancos – sobretudo aqueles que andam de sandálias e bloco de notas nas suas mochilas – adoram também este local.

Já vi lá brancas cheias de suor a comerem, ugali com peixe seco, com as mãos. Para muitos deles esta é a África autêntica. Há, em Nairobi, vários restaurantes internacionais – incluindo um restaurante Brasileiro caríssimo. É aí para onde os grandes nguvulus daquele país – muitos deles suspeitos de corrupção – vão para as suas refeições. Mas o queniano médio tem também, uma vastíssima possibilidade de escolha de restaurantes. Uma das cidades citadas na sondagem como sendo absurdamente cara é a capital do Gabão, Libreville.

Devo dizer que o Gabão é um dos países africanos mais absurdos que já visitei nos supermercados, tudo, mas tudo mesmo, até vegetais, era importado da Europa. Vi, até, galinhas no frigorífico do supermercado que tinham sido importadas do Brasil. Isto num país cheio de água, de terra arável e outras bênçãos da natureza. É que a elite daquele país, cuja economia depende do petróleo, estava cheia de dólares e havia mesmo um gosto profundo por produtos vindo do estrangeiro -sobretudo da França (os Angolanos, por exemplo, gastam milhões e milhões de dólares por ano importando vinho português).

Angola, Chade e Gabão deveriam aprender a lição da Costa do Marfim. No tempo das vacas gordas quando o cacau vendia muito bem no mercado internacional – havia membros da elite marfinense que só comiam baguetes que acabavam de chegar de Paris. Nos grandes restaurantes de Abidjan, os membros das elites locais não paravam de beber champanhe.

A festa continuou até que o preço do cacau baixou e o país passou a ter uma guerra civil. De repente, a elite passou a descobrir os produtos locais. Fora de Abidjan, existe um bairro vastíssimo chamado Youpougon. À noite, há certas ruas deste bairro que ficam cheias de gente a beber e a comer. Várias senhoras que vedem cervejas preparam, também, pratos de peixe, carne, etc. E esses pratos são baratíssimos.

Alguns anos atrás, numa noite, os habitantes de Youpougon ficaram altamente surpreendidos ao verem que o Presidente da República, Laurent Gbagbo, estava também numa barraca de Youpougon a comer na companhia de Jack Laing, antigo ministro francês da Cultura. Desde de então, os negócios das senhoras do Youpogon ficaram altamente revitalizados. Suspeito que os restaurantes caríssimos no centro de Abidjan tiveram, também, que baixar os seus preços.

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