A linha férrea Beira/Machadada, que liga o porto da Beira, capital província central de Sofala, no centro de Moçambique ao vizinho Zimbabwe, registou um total de 46 descarrilamentos durante os últimos dois meses por falta de manutenção.
Fonte da empresa Caminhos-deferro de Moçambique (CFM) disse que, antes da concessão da infra-estrutura, a empresa realizou em 2004 alguns trabalhos de melhoramento, tendo o número de descarrilamentos reduzido de 169, em 2000, para 53 em 2004.
A concessionária Companhia dos Caminhos-de-ferro da Beira (CCFB), gerida maioritariamente pelo consórcio indiano Ricon, deu continuidade aos trabalhos de melhoramento da linha, tendo inclusive contratado várias empresas nacionais para proceder à reabilitação da infra-estrutura em vários troços. “Aparentemente, tal trabalho não foi feito de forma conveniente devido à falta de experiência por parte das firmas contratadas, facto associado a uma fraca fiscalização do lado do contratante e, como consequência, a linha degradou-se rapidamente, chegando ao ponto em que, hoje, praticamente se assiste a descarrilamentos a um ritmo quase diário”, explicou a fonte citada pelo “Diário de Moçambique”.
O estado actual da linha é considerado deplorável. Aliás, em algumas zonas faltam travessas, parafusos para fazer os apertos, os operários não dispõem de ferramentas necessárias para trabalhar, tais como alavancas, macacos, máquinas para furar os carris e colocar as juntas, entre outros materiais.
“Actualmente temos tirado dois ou três comboios ascendentes mas, por vezes, acontecem descarrilamentos ao longo da linha principal, o que dificulta o nosso trabalho, já que temos ficado com um elevado número de vagões sem poderem circular porque há impedimentos na linha principal”, disse António Tamele, chefe da estacão de Nhamatanda.
Outra dificuldade mencionada pela fonte tem a ver com a extrema degradação das linhas de formação, também chamadas linhas secundárias. A extrema degradação das referidas linhas propicia descarrilamentos do tipo tombo de vagões por abertura da linha, falta ou deterioração das travessas. “Na falta de material, os trabalhadores por vezes vão efectuando o trabalho usando as mãos para limpar o capim, se bem que ao longo da via a CCFB por vezes tem contratado empresas que limpam as estradas para também fazerem a limpeza da linha e das bermas”, disse Tamele.
Em Machipanda, na fronteira com o Zimbabwe, o cenário também e deplorável. O tecto da oficina de reparação de locomotivas, também conhecida por posto diesel, desabou já vai algum tempo, por falta de manutenção e, segundo Pedro Carimo, revisor de materiais, a CCFB diz não ser prioritária a reparação dessa infraestrutura.
“Não há travessas, carris, caracóis (que seguram a linha). Também há muito capim, que chega a engolir as linhas porque a estação de Machipanda não tem efectivo e nem material para efectuar o corte e limpeza”, disse Pedro Carimo. Ele foi mais longe ao afirmar que mesmo as instalações da estação estão degradadas por falta de interesse por parte dos gestores da CCFB em investir na sua reabilitação e sugeriu o Governo a ponderar sobre a possibilidade de rescindir o contrato de exploração com o consórcio indiano Ricon.