O líder liberal-democrata Nick Clegg obteve neste sábado o apoio de seu partido para discutir um possível pacto com os conservadores de David Cameron para formar um governo que tire a Grã-Bretanha do atoleiro em que se encontra após as eleições de quinta-feira. David Laws, membro da equipe que negocia com os ‘Tories’, ressaltou que os deputados liberais-democratas deram um “apoio pleno” à estratégia de Clegg, embora tenha se negado a especular sobre se poderia chegar a um acordo antes de segunda-feira.
Enquanto os ‘Lib Dems’ reuniam-se na sede do partido em Londres, cerca de mil pessoas -segundo a Polícia- se manifestavam do lado de fora para pedir que os liberais não sacrifiquem em uma eventual aliança com os conservadores a reforma do sistema eleitoral, uma de suas grandes bandeiras durante a campanha. “Interessa a todos na Grã-Bretanha que aproveitemos esta oportunidade para estabelecer uma nova política depois das desacreditadas políticas do passado”, declarou Clegg em uma breve aparição para os manifestantes que pediam aos gritos “votações justas agora”.
As eleições, das quais pela primeira vez em 36 anos surgiu um Parlamento sem maioria absoluta, deixaram nas mãos dos liberais-democratas (57 deputados) a chave de um governo com os conservadores (306, 20 a menos que a maioria absoluta), ou com os trabalhistas (258) do primeiro-ministro Gordon Brown. Clegg expôs durante a manhã as prioridades que “guiarão” seu partido nas negociações que serão realizadas “com um espírito construtivo” com os partidos “nas próximas horas e dias”: oportunidades de educação, reformas na economia e no sistema político.
Cameron, que espera levar os ‘Tories’ a Downing Street após 13 anos de trabalhismo, propôs na sexta-feira um pacto “grande, aberto e global”, ao considerar que ambos os partidos têm “uma base forte para um governo forte”. Como principal incentivo, propôs a criação de uma comissão para examinar uma eventual reforma do sistema eleitoral uninominal majoritário vigente, embora sempre tenha se mostrado contrário à proporcionalidade que Clegg deseja introduzir para dar um peso maior a pequenos partidos como o seu.
Cameron também mencionou as áreas nas quais não estaria disposto a negociar, como a relação com a União Europeia, a imigração, o sistema de dissuasão nuclear ou a rápida redução do déficit público. Após os primeiros contatos na noite de sexta-feira, os negociadores de ambos os partidos voltarão a se reunir no domingo de manhã. Os conservadores querem chegar a um acordo antes da abertura na segunda-feira dos mercados financeiros, que na sexta-feira sofreram as consequências das incertezas políticas, principalmente a libra esterlina.
Mas sua proposta poderá ser comprometida pela hesitação de alguns liberais-democratas que veem com receio esta aliança, sobretudo quando, segundo as regras do partido progressista de centro-esquerda, qualquer acordo deve ser adotado com 75% de apoio na formação. Nesse caso, embora os conservadores não descartem a opção de formar um governo minoritário, poderá entrar no jogo o primeiro-ministro Gordon Brown, que se mostrou na sexta-feira “disposto” a negociar uma “aliança progressista” com Clegg se as discussões com os conservadores “não derem em nada”. Brown, autorizado pelas convenções constitucionais a permanecer no 10 de Downing Street até que haja um governo, ofereceu uma ampla reforma política, incluindo um referendo sobre o sistema eleitoral.
Quase dois terços ou 62% dos eleitores britânicos são favoráveis a um sistema mais proporcional, contra apenas 13% que querem manter o atual, de acordo com uma pesquisa YouGov para o Sunday Times divulgada neste sábado, que também destaca que 62% dos britânicos querem que Brown admita a sua derrota.