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Letras soltas por ocasião do nascimento de Tchanaze, a donzela do Sena

Caro Paradona

Quando embarquei, anos atrás, na aventura ao oculto, os iluminados, os eleitos, viram em mim, uma demente, ignorante, supersticiosa. Para eles, a magia da nossa terra era indigna de ser escrita e o meu livro, portanto, o livro das heresias. Que apelidos te darão, meu amigo? Ver-te-ão como um iluminado ou simplesmente um louco? De uma coisa podes ter a certeza: o surgimento da Tchanaze fortaleceu-me e me trouxe a convicção de que a minha aventura literária foi a mais acertada.

A breve viagem pelo mundo da Tchanaze trouxe-me à alma o cheiro do solo. Nas letras deste livro, voltei a percorrer as belíssimas paisagens desta terra que amo e que palmilhei com os meus pés de mulher. Nada sabia dos mitos, nem dos ritos do Grande Zambeze, o nosso rio, antes da publicação desta obra. A Tchanaze me enche de grandeza, porque é para mim a homenagem à nossa terra, nossa mãe.
Sou uma autora preocupada com o que se escreve sobre mulher. Para a minha alegria, a Tchanaze traz-me outro conceito de beleza. Os seios dela, ao reflectir o brilho da lua e a fartura das boas estações, criam o dicionário com que se deve decifrar o corpo das mulheres da nossa terra.

O livro mostra que a beleza moçambicana é cultura, que deve estar acima da beleza monótona das telenovelas. Com a Tchanaze mergulhei nos saberes escondidos na gruta dos tempos. Ganhei nova visão da existência, que sempre nos ocultam sob a capa de superstição. Debati novos conceitos de vida, porque entre nós bantu, os vivos, os mortos, o visível se entrelaça na macabra dança do quotidiano. Cá por mim fizeste o básico que um escritor moçambicano deve fazer: escrever um livro que responde às inquietações e curiosidade de um leitor; levar o leitor numa viagem por mundos desconhecidos; trazer novas visões do mundo e colocar à luz, saberes ocultos ou adormecidos. Não sei o que é identidade literária, perdoa-me. Mas este livro diz-me de onde eu venho e me faz sentir mais eu.

Se um dia te chamarem supersticioso é só por seres africano. Se estivesses na América Latina, diriam que és o bom escritor do realismo mágico. E se estivesses em Hollywood, o livro mereceria um grande filme do tipo Harry Potter, Drácula, ou desses esoterismos que diariamente preenchem os ecrãs das nossas televisões.
Obrigada, amigo, por me fazer reviver gentes e lugares que conheci. Obrigada pela segurança que me deste, neste ingrato percurso. Obrigada por partilharmos o mesmo amor pelo Grande Zambeze, o nosso rio. Boa sorte e felicidades para a Tchanaze.

Paulina Chiziane.

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