A LAM, Linhas Aéreas de Moçambique, comemorou na passada sexta-feira, 14 de Maio, 30 anos de sua existência como companhia aérea de bandeira nacional. Única companhia aérea de dimensão nacional e nível internacional operando nos céus moçambicanos, a LAM atinge a ventura dos 30 sentindo o peso de carregar orgulhosamente só nos céus do país e do mundo a bandeira de Moçambique nas suas asas, tanto celebrando os seus feitos e conquistas como acusando o facto de constituir um dos últimos redutos do monopólio de empresas públicas nacionais no seu sector de actividade.
Desde 14 de Maio de 1980, quando ao abrigo do Decreto nº 8/80 de 19 de Novembro, deixou de existir a herança do colonialismo DETA e nasceu a nacionalista LAM, a companhia aérea teve apenas um período de cerca de meia década de competição a nível nacional, quando do Norte do país surgiu a ousada Air Corridor.
Estratégias de “dumping” ou meros produtos de alguma concorrência jamais vista no sector animaram o negócio da aviação nacional, na perspectiva de boas notícias (preços acessíveis e melhor tratamento) para os clientes, mas problemas técnicos e financeiros da Air Corridor precipitaram o Grupo Gulamo a sucumbir diante do peso estatal que sustenta a LAM. Anos depois, sob o espectro da privatização como receita “brettonwoodiana” (esse monstro-“eldorado” que engoliu qual leviatão quase todos os sectores de actividade comercial do país após a liberalização económica), foi preciso o histórico Marcelino dos Santos “qual pai fundador da LAM” sossegar os trabalhadores e o país afirmando que “A LAM JAMAIS SERÁ PRIVATIZADA”.
Era a declaração política mais enérgica de que a LAM constitui um dos bastiões últimos de sectores estratégicos da economia e soberania económica nacional, qual santuário intocável. Certificações internacionais de qualidade técnica, reconhecimento e premiação nacional e internacional pelos serviços prestados foram os marcos na última década que apagaram a “nódoa” de, por mais de um ano, a LAM ter constado na polémica “lista negra” de companhias proibidas de cruzar os céus europeus.
Nos últimos anos, modernizações nos seus serviços, aquisições mediáticas de novas aeronaves e viragem para outro mercado de fornecimento de aeronaves (Brasil), bem como essas distinções ajudaram a disfarçar algum cansaço por ser a única companhia de e para Moçambique que faz quase todos os destinos nacionais como liga o país a rotas internacionais de referência. Porque correr só (no caso é voar só), mesmo que orgulhosamente, em algum momento provoca desgaste da falta de competição para a autoavaliação e evolução certa.
Como que a prenunciar isso, depois que os vizinhos da África do Sul e não só foram batendo insistente e incomodamente a porta das autoridades de aviação civil nacional, o futuro pós-30 anos que espera a LAM é de competição com colossos ou emergentes no panorama regional e continental.
Breve história
A origem desta companhia está intimamente ligada à Ofensiva Política e Organizacional desencadeada em 1980, com a liderança do Presidente Samora Machel que depois de visitas sucessivas à DETA, então Direcção de Exploração do Transporte Aéreo, sugeriu a constituição de uma comissão para a auscultação aos trabalhadores em encontros específicos. O mais saliente desses encontros realizou-se no Hangar nº 1, actual Direcção Técnica. Começou no dia 13 de Maio e prolongou-se até à madrugada de 14 de Maio.
O proeminente patriota Marcelino dos Santos que liderou o processo disse na ocasião: “queremos fazer da LAM o espelho da nossa vitória contra o subdesenvolvimento …” Para primeiro director da LAM foi nomeado na altura o comandante José Bacelar, enquanto o falecido e saudoso engenheiro Carlos Morgado assumiu as funções de Director do Departamento Técnico.
De seguida, a companhia deu um salto qualitativo ao adquirir um DC-10 que efectuou o voo inaugural a 1 de Fevereiro de 1983, levando a bordo uma comitiva de trabalhadores exemplares de várias empresas e que foram honrados pela presença do Presidente Samora Machel. A nível internacional a LAM voou no princípio para África do Sul, Tanzânia, Angola, Portugal, Espanha, Itália, Bulgária, a então República Democrática da Alemanha, Dinamarca, França e também em parceria com os TACV / Transportes Aéreos de Cabo Verde para Cabo Verde e Estados Unidos da América.
Alô modernidade
A liderança da LAM, rumo à modernidade, viria a mudar a 28 de Fevereiro de 1987 com a nomeação do Engenheiro José Viegas para o cargo de Director da empresa, por despacho do ministro dos Transportes e Comunicações, na altura Armando Guebuza. Na base do Decreto-Lei nº 69/98 de 23 de Dezembro de 1998, a LAM foi transformada em Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, adoptando a denominação de LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, S.A.R.L.
O Estado passou a possuir 80% das acções da nova sociedade formada e os gestores, técnicos e trabalhadores da LAM, os restantes 20%. Em finais de 1999 foi nomeado na empresa o Conselho de Administração, ora constituído pelo Eng.º José Viegas, presidente do Conselho de Administração, Dr. Jeremias Tchamo, administrador do Pelouro Financeiro, Comandante João Abreu, administrador do Pelouro Técnico/ Operacional, Sr. Armindo Matos, administrador representante do Estado e Dr. Afonso Sande, representante dos trabalhadores.
Parte desse Conselho de Administração permanece intacto, passados onze anos. Se a competitividade é um dos desafios do presente e do futuro, para os seus clientes, mormente cidadãos nacionais, o maior desejo é que em toda a hora a LAM cumpra o seu moto que vê em cada “Um Cliente, Um Amigo”, para que o “Sempre a Subir” seja mais do que um “slogan”