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Ku Tima Thôra!

Sob o mote “Tima Thôra”, o músico moçambicano Salimo Muhamed realiza, na noite de 29 de Abril, um concerto a ter lugar no Centro Cultural Franco- Moçambicano, em Maputo. Segundo o artista, o propósito do evento encontrase no sugestivo tema: “Matar a sede dos fãs”.

Com a particularidade de ser um “concerto clássico africano”, o artista garante combinar, exibir e executar em palco diversos instrumentos de música clássica e tradicional africana. Na verdade, o evento será traduzido numa noite de surpresas que contará com a participação de Humberto Benfica ou, simplesmente, Wazimbo.

Mas as surpresas não param por aí, Salimo Muhamed apresentará um vasto leque de novas criações musicais, uma das quais “Tlalamba tlalamba”, uma metáfora dos momentos históricos, “um pouco cosméticos”, pelos quais os moçambicanos têm passado. Aliás, trata-se de “movimentos sem sentido a que o dia-a-dia os sujeita na luta contra a pobreza”, afirma o artista acrescentando que a “história da cesta básica é um exemplo clássico e elucidativo”.

“As pessoas estavam acostumadas a ter algum poder de compra. Agora, a cesta básica é uma situação que ainda não está bem explicada. Portanto, apesar de eu não ser a pessoa mais vocacionada para o assunto, penso que essa não é a melhor solução. Pela minha vivência, como cidadão, sinto que não há grandes soluções”, comenta.

No rol das novas criações musicais do artista constam temas como “Papaito, Mamaita, Wa hi tiva, Uta ghondzisiwa e Tlalamba tlalamaba”, músicas que serão apresentadas como forma de colmatar as dificuldades de registos discográficos por que ainda passam os artistas da chamada velha geração.

Aliás, a propósito, o artista assinala que “parece-me que em Moçambique não há condições para artistas do meu calibre gravarem discos. Faltam estúdios qualificados e investimento para o efeito”. Ou seja, “a maior parte de estúdios que temos não está altamente equipada. Como resultado, não consegue levar-nos a um orgasmo artístico”.

Então, nas condições actuais, para gravar “talvez fosse, forçosamente, numa situação de emergência. Ou para responder às necessidades de subsistência”.

Ora, isso contrastaria, porque “o meu desejo é entrar no estúdio, sentir a execução de instrumentos musicais, de maneira que, a partir do produto musical que daí emanar, se possa educar a sociedade. As pessoas precisam de ser educadas a ouvir música de qualidade. A minha música, em particular, deve ser gravada em condições que concorram para que tenha qualidade”, remata.

“A música não deve ser estática”

Com longos anos de experiência, em que as personagens de actor, pintor, compositor e intérprete asseguram o carácter multifacetado, o artista revela- -se-nos exigente consigo mesmo.

“Eu não sou quadrado, tão- -pouco estagnado. Por isso, sou de opinião de que a música não deve ser estática. Ela está sempre em movimento. Em tal dinâmica, a parte rítmica conta e deve acompanhar o modus vivendi da sociedade, a história dos povos, porque, apesar de não se poder ver os passos do cidadão na música, ela acompanha- o habitualmente”.

E exemplifica: “Já toquei a Marrabenta, mas a minha Marrabenta não é estática, ela evolui. Portanto, no concerto as pessoas poderão ver que a música que faço sofre metamorfoses”.

Xigutende

Nascido a 13 de Agosto de 1948, na província de Gaza, Salimo Muhamed já explorou diversos ritmos e estilos de música internacional. No rol encontram-se o Rock, o Afro, o Blues e o Jazz.

Imprevisível, como sempre, e no seu jeito peculiar, Simão Mazuze – o também Salimo Muhamed – revela-nos que “o meu padrão de música deve ser somente meu – uma marca registada”. A música que toca chama-se “Afro-rock-blues- -jazz-makwaela”, define, assim, o seu estilo musical.

Na essência, o “Afro-rock- -blues-jazz-makwaela” marca o percurso artístico de Salimo Muhamed desde quando se conhece como músico. Todavia, quando se recorda de que, além de tais estilos de música internacional, o cantor explora e investiga ritmos e instrumentos de música africana – como o xigovia, o xigubo, o xitende, entre outros – torna-se necessário africanizar o termo.

É daí que nasce o termo Xigutende uma família alargada composta tanto pela música internacional como africana, onde se inclui a moçambicana.

Ainda não estamos abençoados

O autor do “a xingove xi dibe mutxovelo” havia prometido que no ano em curso o primeiro concerto seria denominado “Hi tshama hi Katekile”, o mesmo que “estar abençoado”.

Ora, o artista decidiu sacrificar tal concerto para “matar a sede dos fãs”, contando as peripécias que se desencadearam logo depois de sofrer um acidente de viação, em Junho do ano último.

No entanto, as razões para se protelar o concerto “Hi tsama hi katekile” não se limitam por aí. O facto é que “ainda não estamos abençoados em Moçambique”, afirma explicando que “é como dizem os políticos: a paz não é ausência da guerra. O mesmo aplica-se em relação à independência – não basta sermos livres do jugo colonial. As pessoas precisam de uma independência económica. E a história da cesta básica é um dos indicadores da falta da independência”.

A turbulência é geral

O cepticismo do músico em relação à suposta falta de bênção expande-se por todo o continente africano. Aliás, Moçambique é apenas uma vítima, o desequilíbrio nasce no norte.

Por isso, “a situação africana é um floco – porque até as crianças já sabem que os líderes africanos (Muhamar Khadaf e Gbagbo) estão em conflito com os seus povos”. O receio é que tal cenário se alastre para os PALOP. E a respeito desta comunidade, Salimo Muhamed aponta, Angola – a terra do Agostinho Neto, agora sob o eterno jugo de Eduardo dos Santos – como exemplo de um país que caminha rumo à crise de governação.

Ninguém perde por esperar

Para finalizar, o artista rebusca o tema do concerto, assinalando que “ninguém perde por esperar”. Além do mais, “gosto de surpreender as pessoas. Vou levar ao palco alguns artistas deficientes de modo que possam apresentar os seus trabalhos. Porém, sob a minha égide. Portanto, vai ser um concerto maravilhoso e único”.

Semanas antes, Salimo realizou um concerto na Mafalala Libre ao qual chamou de preparação para o “Ku Tima Thôra”, a ter lugar próxima sexta-feira, 29 de Abril, no CCFM.

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