O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, declarou nesta sexta-feira que “o povo escolheu quem queria” como presidente do Irão, na votação da semana passada criticada pela oposição e que terminou com a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad.
Khamenei pediu ainda o fim dos protestos contra os resultados das eleições presidenciais, advertiu que não cederá às ruas e responsabilizou o “extremismo” da oposição por qualquer ato de violência. Numa pregação na Universidade de Teerão, o guia supremo, a personalidade mais importante do Irã, também afirmou que “a eleição demonstrou a confiança no regime islâmico”, com uma participação excepcional de 85% nas eleições de 12 de junho.
“Eu quero dizer a todos que estas coisas (as manifestações de rua) devem acabar. Estas ações de rua estão sendo realizadas para pressionar os líderes, mas nós não vamos ceder a elas. Eu peço a todos para acabar com estas coisas”, afirmou Khamenei na Universidade de Teerão. O aiatolá Khamenei declarou ainda que não hesitará em denunciar aqueles que escolhem outra via que a de participar na festa eleitoral.
O guia supremo advertiu contra o “extremismo” que pode resultar na violência, em uma mensagem destinada aos partidários dos três candidatos que questionam a reeleição do presidente radical Mahmud Ahmadinejad na votação de 12 de junho. Sete civis morreram nos confrontos à margem das manifestações nos últimos dias no Irã.
O aitolá rejeitou as denúncias de fraudes e reiterou que o presidente foi reeleito com 24,5 milhões dos votos, o que equivale 63% do eleitorado. No entanto, fez uma pequena concessão ao afirmar que qualquer dúvida sobre os resultados deve ser examinada por meio dos canais legais.
Khamenei também expressou apoio a Ahmadinejad. “As opiniões do presidente são mais próximas das minhas que as de Akbar Hachemi Rafsanjani”, declarou, em uma referência ao ex-presidente da República Islâmica, que apoiou o candidato moderado Mir Hossein Moussavi, que segundo os resultados oficiais recebeu 34% dos votos.
O guia supremo do Irão criticou ainda a atitude dos países ocidentais a respeito da reeleição de Ahmandinejad e dos protestos em Teerã. “Os diplomatas de vários países ocidentais que falavam conosco até agora com uma linguagem diplomático mostraram sua verdadeira face, em primeiro lugar o governo britânico”, disse Khamenei durante seu sermão.
Os países ocidentais se limitaram em geral a criticar a repressão das manifestações, mas alguns pediram uma investigação das denúncias de fraude. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, afirmou que o Irã deveria responder as sérias perguntas levantadas com a reeleição de Ahmadinejad.
A República Islâmica do Irã protestou durante a semana contra a interferência estrangeira em seus assuntos internos. A oposição não reagiu imediatamente ao discurso de Khamenei. Os partidários de Moussavi, no entanto, cancelaram pela primeira vez desde o início de seu movimento uma manifestação prevista para esta sexta, justamente na Universidade onde Khamenei falou.
O governo, por sua vez, anunciou a proibição de outra manifestação prevista para o sábado, em Teerão. Já a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) afirmou que 10 pessoas morreram nos protestos desta semana, revisando em baixa o número de 15 que havia informado anteriormente.
A rádio estatal iraniana informou sete mortes nos protestos depois das eleições da sexta-feira passada. Por fim, os líderes da União Europeia (UE) pediram ao Irã que dê ao povo iraniano o direito de se reunir e se expressar, pouco depois do discurso do guia supremo. “O Conselho Europeu pede às autoridades iranianas que garantam o direito de reunião e expressão pacífica de todos os iranianos e se abstenha de recorrer à força contra manifestações pacíficas”, assinalam os chefes de Estado e de Governo dos 27 países da União Europeia (UE), reunidos em Bruxelas, em um documento cuja cópia a AFP obteve com antecedência.