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Khadafi foi à televisão para dizer: “Estou em Trípoli”

Khadafi foi à televisão para dizer: “Estou em Trípoli”

Foram apenas 22 segundos de Khadafi na televisão líbia. Debruçado da janela de uma carrinha e empunhando um chapéu-de-chuva, o coronel que governa autoritariamente a Líbia há 42 anos quis deixar claro que não fugiu do país, onde enfrenta uma revolta popular. “Quero que vejam que estou em Trípoli e não na Venezuela. Não acreditem no que vos dizem os canais de televisão dos cães vadios”, afirmou desmentindo os rumores que tinham corrido ao longo de todo o dia de ontem.

 

 

“Queria também ir falar aos jovens na Praça Verde [em Trípoli, de onde as autoridades dispersaram os protestos anti-regime para os substituir por manifestações de apoio a Khadafi], e ficar lá acordado até tarde com eles, mas começou a chover. Graças a Deus, isto é uma coisa boa”, explicou ontem à noite nestas declarações – as primeiras desde o início dos protestos, há nove dias. Segundo a televisão estatal líbia Khadafi estava à porta de sua casa, na capital líbia.

Às primeiras horas da manhã de hoje, Trípoli parece calma, descrevem residentes às agências noticiosas. “Continua a chover muito, por isso as pessoas estão em casa, não se ouvem confrontos”, conta um morador da área leste da cidade. Durante a noite, porém, houve relatos de disparos em várias zonas de Trípoli assim como de bombardeamentos feitos por aviões.

O correspondente da BBC em Trípoli descreve que há uma forte presença de soldados na cidade, mas nenhum controlo fora da capital. “A manhã aparenta tranquilidade depois de uma noite assustadora. As pessoas estão intimidadas e permanecem em casa. O movimento nas ruas é limitado e a cidade está fechada.

Depois dos relatos de bombardeamentos de ontem, as pessoas estão cautelosas. Muitos residentes de Trípoli confirmaram que a zona da Praça Verde foi fortemente atacada”. Em Bengasi, segunda maior cidade da Líbia – onde eclodiram as primeiras manifestações contra o regime de Khadafi – as pistas do aeroporto foram totalmente destruídas nos confrontos, impossibilitando a aterragem de aviões, foi avançado já esta manhã pelo ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, para cujo país estão a ser deslocadas centenas de pessoas vindas da Líbia.

Nesta cidade, o ambiente é bem diferente do de Trípoli. “Aqui as pessoas estão motivadas”, sublinha a BBC. O médico Ahmad Bin Tahir, residente em Bengasi, conta que as pessoas se organizaram “para pôr em cidade em ordem”: “Formaram comités para governar a cidade. Não há aqui nenhuma presença do Estado”. O correspondente da BBC no local confirma que não se vêem polícias, nem soldados nem figuras públicas nas ruas, mas o exército controla ainda os subúrbios de Bengasi, assim como o aeroporto, e avança que as comunicações se tornaram muito difíceis, sendo quase impossível fazer telefonemas internacionais.

O Egipto anunciou entretanto um reforço muito significativo da sua presença militar na fronteira com a Líbia, face à escalada da violência naquele país – onde são registados já pelo menos 233 mortos (segundo a organização Human Rights Watch). As autoridades egípcias vão manter aberto em contínuo um corredor humanitário, junto à cidade de Saloum, de forma a permitir a passagem de pessoas doentes e feridas vindas da Líbia.

Ontem foi anunciado que a guarda fronteiriça líbia tinha abandonado as suas posições a leste, junto ao Egitpo. Mas isso já não acontece do outro lado do país, conforme foi constatado esta manhã pela jornalista da Al-Jazira Nazanine Moshiri, que se encontra junto à fronteira da Tunísia com a Líbia, a 175 quilómetros de Trípoli: ali a polícia de fronteira continua a funcionar e “estão a tirar os telefones e o dinheiro a quem passa para a Tunísia, deixando-os apenas com a roupa que trazem vestida”.

O jornalista Ben Wedeman, da CNN, dos primeiros repórteres ocidentais de televisão a entrar na Líbia desde que a convulsão começou há nove dias, relata esta manhã que não encontrou guardas, nem controlos de passaporte ao passar do Egipto para território líbio. “Do lado líbio a cena era totalmente diferente: homens e rapazes, armados com paus e pistolas e metralhadoras, tentam impor alguma ordem, ao mesmo tempo que centenas de imigrantes egípcios tentavam sair, com o pouco que têm, sacos e cobertores e tralhas, empilhadas no topo de pequenos autocarros”.

“Bem-vindo à Líbia livre”, disse-lhe um rapaz de espingarda ao ombro que controlava a fronteira.

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