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Juneid Ibrahim: Um (verdadeiro) mestre da táctica do futsal

Juneid Ibrahim: Um (verdadeiro) mestre da táctica do futsal

Com cerca de seis décadas de existência, o Grupo Desportivo Iquebal venceu o primeiro troféu oficial de futsal em 2013, com a conquista do Torneio de Abertura da Cidade. No mesmo ano, aquela colectividade ergueu mais duas taças, nomeadamente a do Campeonato de Futsal da Cidade de Maputo, bem como da prova nacional. Em 2014, ou seja, na presente época, aquela equipa provou que o sucesso do passado não foi obra do acaso, ao terminar o Torneio de Abertura novamente no topo da tabela classificativa. E num momento em que os clubes afinam as máquinas para disputarem o Campeonato da Cidade, o @ Verdade decidiu entrevistar Juneid Ibrahim, treinador do Iquebal.

Juneid iniciou a carreira de treinador na extinta equipa Incompal de Maputo, em 2005, tendo-se estreado no Torneio Recreativo de Futsal que teve lugar naquele ano na capital do país. Com apenas 29 anos de idade, aquele técnico tornou-se o mais bem-sucedido em Moçambique depois de conquistar três dos quatro títulos possíveis numa temporada.

Em 2007, Juneid Ibrahim beneficiou de uma capacitação em matérias relacionadas com as técnicas de futsal, um curso que foi orientado pelo antigo seleccionador de Portugal, Orlando Duarte. Mais tarde, concretamente em 2011, aquele jovem técnico actualizou os seus conhecimentos diante do instrutor da FIFA e antigo craque da selecção brasileira, Eduardo Basso, vulgarmente conhecido por Morruga.

@Verdade (@V) – Em 2013 conquistou três títulos distintos, nomeadamente o do Torneio de Abertura, de campeão da cidade e nacional. Na presente temporada revalidou o primeiro. Sente-se orgulho disso?

Juneid Ibrahim (JI) – Quando se ganha, todo o mundo fica feliz. Eu não fugi à regra e estou satisfeito com estes títulos. 2013 foi o meu primeiro ano de trabalho no Iquebal e deixa-me dizer que nunca me passou pela cabeça erguer quatro troféus em tão pouco tempo. Mas é importante esclarecer que o nosso aparente sucesso não se deveu, somente, à dedicação de Juneid. Sem os jogadores que ele tem, sem a equipa técnica que o acompanha a todo o momento e sem o empenho da direcção, não teria conquistado nenhum destes quatro títulos.

@V – Disse que ficou surpreendido quando venceu o Torneio de Abertura, sabido que foi o primeiro troféu oficial desde a existência do Iquebal. É possível que um treinador não acredite no seu próprio trabalho?

JI – Sabíamos que teríamos pela frente equipas fortes como, por exemplo, a Liga Muçulmana e a Petromoc, sem menosprezar as outras. Na época passada, nós definimos como principal objectivo ocupar a segunda posição em todas as competições. Mas quando vencemos o Torneio de Abertura notámos que estávamos em condições de ganhar as restantes provas bastando, para o efeito, melhorar em alguns aspectos tácticos e técnicos. Acreditámos até ao fim e colhemos bons resultados. É importante frisar que nada foi fácil, como alguns pensam.

 

Juneid Ibrahim é um treinador liberal!

@V – É um treinador jovem, com apenas 29 anos de idade. Como é que tem sido o dia-a-dia no comando de uma equipa, diga-se, adulta?

JI – Eu sou um treinador liberal. Por natureza, sou uma pessoa conversadora e que gosta de estar com os atletas. Para mim não interessa a idade de cada um, todos eles são iguais. No campo são meus jogadores, fora do mesmo são meus amigos. As pessoas têm de perceber que um líder não está sempre para dar ordens. Antes disso é preciso ser amigo dos subordinados, até porque a vida é uma escola na qual todos aprendem, ou seja, eu ensino o que sei e vou aprendendo novas coisas. No início era muito difícil orientar uma equipa como esta, cheia de jogadores que têm a minha idade. Mas ao longo do tempo fomos criando um verdadeiro grupo de trabalho.

@V – Significa que o grande segredo do Iquebal reside na amizade e na cumplicidade existente entre o treinador e os jogadores?

JI – Exactamente. Mas é preciso acrescentar que, acima disso, deve reinar a humildade, a confiança e muita dedicação por parte do colectivo do clube, desde o jogador suplente até à mais alta figura da direcção. Sem isso, confesso-te, nenhum grupo poderá triunfar.

 

“Vencer os dois melhores treinadores do país foi a concretização de um sonho”

@V – Durante o Campeonato Nacional de Futsal derrotou, em dois jogos seguidos, Inácio Sambo e Roberval Ramos, a quem a crítica desportiva atribui o título de melhores treinadores desta modalidade em Moçambique. Quer comentar sobre este assunto?

JI – Inácio Sambo e Roberval Ramos são dois profissionais que admiro bastante. Eu trabalhei com os dois no passado e o que sou hoje é também graças a eles. Nas eliminatórias de acesso ao Campeonato do Mundo, por exemplo, eu trabalhei com o treinador brasileiro. Mas, por motivos alheios à minha vontade, fui obrigado a abandonar a equipa técnica da selecção nacional. Vencer estes dois treinadores, no “Nacional” do ano passado, foi a concretização de um sonho por aquilo que eles representam no futsal moçambicano. Mas isso não significa que eu seja o melhor. Tenho apenas 29 anos de idade e muito a aprender nesta área, sobretudo destes dois.

 

Um breve olhar ao futsal praticado em Moçambique

@V – Como é que olha para o futsal moçambicano na actualidade?

JI – Depois de muitos anos no escalão recreativo, esta modalidade ganhou uma nova figura no panorama desportivo nacional. Fazendo uma comparação, no passado apenas duas equipas disputavam os principais torneios, nomeadamente o Grupo Desportivo de Maputo e a Liga Muçulmana. Hoje, as coisas estão bem diferentes depois do surgimento de vários clubes, maioritariamente poderosos em termos financeiros, sendo que uns investem na formação e outros no alto rendimento.

@V – Trabalhou com Roberval Ramos na selecção nacional. Depois da fase de apuramento para o Campeonato do Mundo de Futsal, aquele conjunto praticamente desapareceu das quadras, não tendo realizado nenhum jogo em 2013. Isto não seria o espelho da desorganização que reina nesta modalidade em Moçambique?

JI – Eu não quero envolver-me em polémicas. Mas é sabido por todos que não fomos ao Campeonato do Mundo porque dentro da nossa selecção havia sérios problemas internos. O que aconteceu logo a seguir, ou seja, o facto de aquele grupo não estar em actividade neste momento deriva daquilo que aconteceu durante as eliminatórias de acesso ao “Mundial”. Moçambique é uma grande potência de futsal a nível do continente africano. Mas não basta ser, tem de parecer. Mas, para tal, é preciso que saibamos capitalizar os talentos que temos e, a partir de já, começarmos a definir o futuro da nossa selecção longe dos habituais problemas que nos têm assolado.

O sonho de Juneid Ibrahim

Juneid Ibrahim sonha em revalidar os títulos que ganhou na época passada, bem como conquistar a Taça Maputo, o único troféu que lhe fugiu em 2013. Por outro lado, aquele treinador não esconde a ambição de treinar a selecção nacional, na medida em que “é sonho de qualquer profissional ser seleccionador”. Segundo Juneid, “é maravilhoso entoar o hino nacional de pé, no banco técnico e rodeado de jogadores que envergam as cinco cores da bandeira nacional. Quero um dia ser seleccionador nacional”.

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