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Jovem que aposta na machamba

Jovem que aposta na machamba

Enquanto muitos jovens não olham para a agricultura como uma alternativa ao desemprego, Sérgio socorre-se dela para buscar forças, pegar na enxada e trabalhar a terra que lhe garante a subsistência. Sérgio Paulo Mangue conta com 32 anos de vida, dos quais oito dedicados ao seu trabalho diário na machamba que, no princípio, servia de uma base de sustentação da família.

Hoje, parte significativa da sua produção é destinada à venda como forma de fazer face às dificuldades que a vida impõe. Explora uma zona do cinturão verde do Infulene “A”, no município da Matola, numa área fronteiriça entre este bairro e o Acordos de Lusaka.

O jovem machambeiro conta que, depois de concluir a 10ª classe em 2001, tinha o desejo de ingressar para o II ciclo do ensino secundário mas, porque as dificuldades da vida se mostraram mais fortes do que os seus desejos e anseios, não conseguiu continuar com os estudos. “Mesmo querendo prosseguir não pude fazê-lo, os meus pais não dispunham de condições financeiras para o efeito”, diz.

Mas como não é pela morte de uma andorinha que acaba a primavera, Sérgio Paulo decidiu apostar na agricultura. A mãe, que agora se queixa da terceira idade, tinha uma porção de terra onde plantava culturas como alface e couve para o consumo familiar.

O pequeno agricultor seguiu os caminhos da mãe. “Em 2002, comecei a dedicar a minha vida à esta actividade, com a minha mãe trabalhei poucos anos porque a idade já não permitia que ela fizesse trabalhos pesados, mas ela fez questão de deixar a porção de terra que detinha sob minha responsabilidade”, conta.

De 10 canteiros para 150

O jovem diz que começou a desenvolver a actividade agrícola com apenas 10 canteiros nos quais plantava apenas alface, cujo destino era para venda e para o consumo familiar. Devido ao seu esforço e dedicação, conta actualmente com 150 canteiros, o que significa que em 9 anos conseguiu ter 14o canteiros, nos quais planta 5 tipos de cultura, nomeadamente alface, couve, beterraba, cebola e folhas de abóbora.

“Invisto principalmente no plantio de alface e couve, estas duas culturas é que suportam o meu negócio, isso não significa que as outras culturas não sejam rentáveis. O problema é que quando fazemos canteiros exclusivamente para o plantio da cebola e beterraba, isso serve de um chamariz para os malfeitores que, por falta de segurança nas nossas machambas, fazem e desfazem.”

Conta, para depois acrescentar que houve um tempo em que dedicava uma parte dos seus canteiros ao plantio destas duas culturas – alface e couve –, mas quando atingissem a fase de desenvolvimento, os malfeitores roubavam, como se de propriedade deles se tratasse”.

O nosso interlocutor afirma que dos 150 canteiros, 100 são arrendados e o remanescente pertence-o. “A minha mãe deu-me 10 canteiros, com o andar do tempo comprei mais 40”, afirma.

No fim de cada plantação tem de pagar o arrendamento dos canteiros. “Dos 100 canteiros, 35 pago no fim de cada plantação o valor de 500 meticais, para os restantes 65 pago mensalmente 350 meticais. Pago as rendas sem problemas, independentemente da minha produção”.

Em termos de lucro, Sérgio conta que nos 100 canteiros, conseguem ter em média 10 mil meticais, isso nos meses em que o tempo é favorável à produção da alface e couve, culturas que garantem a sustentabilidade da sua actividade.

Para ele, à semelhança de qualquer um cuja actividade esteja directamente ligada à terra, o factor tempo joga um importante papel, contra a natureza pouco ou nada se pode fazer.

“Na verdade a nossa actividade depende exclusiva e essencialmente do tempo. Por exemplo, a minha receita mensal baixou nos últimos três meses, devido à baixa temperatura que não propiciava o plantio da alface, mais do que isso, a minha machamba está numa área que apanha a corrente marítima carregada de ácidos que impedem o desenvolvimento normal das culturas e, como resultado disso, temos fraca colheita e muitas quebras”, lamenta.

Investir para colher quebras

O jovem revelou à nossa reportagem que, entre os meses de Junho e Agosto, a produção de alface foi muito afectada por temperaturas baixas que se fizeram sentir, aliadas à praga da borboleta branca que afecta a couve.

Isso fez com que nesse período “eu tivesse uma quebra estimada em sete mil meticais, o que significa que investi em 28 canteiros que, infelizmente, não foram produtivos. Este último trimestre foi o período que mais prejuízos tive”.

“Mesmo com as baixas registadas no último trimestre, consegui pagar a porção da terra que ocupo, até os meus dois trabalhadores são pagos no fim de cada mês”, comenta.

No entanto, Sérgio conta que o ano passado figura no topo em termos de receitas arrecadadas, tendo atingido cerca de 13 mil meticais. Este incremento fez com que levasse uma parte do valor para arrendar mais uma porção de terra para produção.

Porque a actividade agrícola não só depende destes factores – recursos humanos, tempo e culturas – Sérgio utilizou uma parte dos seus fundos para aquisição de adubos, insecticidas e estrumes para garantir a produtividade que, infelizmente, não chegou de se concretizar na sequência da má influência do tempo e da existência da praga da borboleta branca que afecta a cultura da couve, e que surgiu há dois meses.

“Já tentámos aplicar insecticidas para combatê-la mas em vão, elas – as borboletas – continuam a reproduzir- se e a devastar as nossas culturas”.

Cada saco de estrume custa 35 meticais e só cobre cinco canteiros durante um mês, tempo correspondente a uma plantação, o que significa que por mês tem de comprar 30 sacos de estrume. No que diz respeito às sementes, Sérgio afirma que 100 gramas podem durar um ano, independentemente da cultura.

O processo de produção

As sementes são lançadas numa zona muito restrita para a produção dos viveiros, processo que leva no máximo três semanas. Depois de prontos, os viveiros são plantados de forma organizada nos canteiros. Esta é a última etapa de produção.

A alface leva em média 35 dias para estar em condições de ser consumida e a couve cerca de 45, mas o desenvolvimento das culturas depende acima de tudo das condições climatéricas.

Dificuldades

As dificuldades que enfrenta estão relacionadas com a compra do estrume. Os 30 sacos de estrume que tem de adquirir para aplicar nos seus 150 canteiros custam-lhe 1050 meticais por mês.

“Por vezes é difícil ter de comprar essas quantidades de estrume, a situação piora quando as culturas não têm saída e, em consequência disso, acumulo prejuízos. Tive uma dura experiência de Junho a esta parte, investi muito dinheiro e infelizmente tive mitos prejuízos”, lamenta.

Sérgio vai mais longe ao afirmar que outro problema tem a ver com o transporte dos sacos de estrume desde os aviários onde os adquire até às machambas. Os transportadores cobram valores que rondam entre os 300 e 5oo meticais, dependendo da distância.

Outro facto não menos preocupante para Sérgio é a acção maliciosa de alguns indivíduos que à calada da noite vandalizam alguns canteiros e retiram alface, cebolas e beterrabas. “A minha machamba está localizada nas bermas da rua e, por via disso, está exposta aos amigos do alheio que sem dó nem piedade, fazem questão de limpar todo o canteiro”, conta.

O nosso interlocutor não descarta a possibilidade de os larápios saquearem as culturas para venda a grosso. “Acredito que eles façam uma espionagem durante o dia para verem em que área podem roubar durante a noite, quando os vemos por entre os canteiros à luz do dia, pensamos que são pessoas honestas que eventualmente estejam a passar ou a apreciar”, afirma.

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