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Jornalista Emanuel Langa versus “Afinal, porque dormem os deputados?”

Nos seus serviços noticiosos de informação geral da última sexta-feira, dia 10 de Julho de 2009, a TVM passou uma matéria de reportagem assinada pelo jornalista e repórter Emanuel Langa, sobre a palestra de humor intitulada “Afinal porque dormem os deputados?” por mim apresentada na AEMO, na tarde precedente.

Na sua essência, a reportagem mostra o desencanto do jornalista e repórter, referindo que a sala estava cheia e que as espectactivas sairam goradas, pois, ao invés de eu ter explicado porque os deputados dormem, passei uma hora a fazer humor e a tratar os deputados por nomes pejorativos, por exemplo, “dorminhocos”, e que atribuo à soneca parlamentar o facto de terem aprovado a “Lei da Família”.

O tom e os argumentos apresentados pelo jornalista passam claramente as seguintes ideias, que considero inadequadas e incorrectas: (i) que sou detractor barato do parlamento e dos deputados; (ii) que “vendi gato por lebre” – como sói dizer-se – ao prometer uma coisa (explicar porque dormem os deputados) e ter feito outra (passado uma hora a fazer piadas); por outro lado, considero que a matéria representa uma injustiça em relação a minha pessoa e minha pretensão e a todas as pessoas que me apoiaram e incentivaram para realizar tal acção, bem como configura uma má prestação de serviços de informação por parte do jornalista aos telespectadores da TVM.

Concluo assim que o jornalista em questão terá demonstrado baixa competência e profissionalismo no seu ofício, tendo manchado dessa forma a respeitável classe de profissionais em jornalismo que representa e não posso coibir-me de deixar, aqui e agora, registado o meu protesto contra tal matéria e procedimento e procurar deitar um pouco de luz sobre o que se passou durante o referido evento.

Ora, a grande falha da análise do repórter residiu na ideia de que iria encontrar algo mais na minha apresentação do que aquilo que eu estava apto a oferecer, condicionado que estava pela natureza do evento, isto é, uma palestra de humor e sátira. Por exemplo, o senhor jornalista mostra o seu desagrado porque, como refere, passei uma hora a fazer humor; mas, francamente, embora não seja seu pai nem professor, senhor jornalista, gostaria de fazer-lhe notar que nada mais se pede a quem apresenta um evento de humor do que fazer humor – como não há-de ir, o senhor, cobrir um jogo de futebol e espantar-se por haver golos; e que não é necessariamente suposto que este tipo de apresentações traga resultados de índole académica ou científica.

Mas já que estava tão ávido em obter uma resposta sobre as “sonecas parlamentares”, queira notar que no conjunto de piadas que eu trouxe, expliquei que os deputados dormem na casa do parlamento pelas mesmas razões que se dorme na igreja ou numa sala de aula: noites mal-dormidas na cama, cansaço, queda individual à sonolência, desinteresse, monotoria, inatractividade de algumas intervenções ou assuntos, babalazes, etc.

Tivesse vindo pedir-me o guião da apresentação talvez chegasse lá… Era, pois, importante que tivesse ido a minha palestra predisposto a receber e perceber a linguagem do humor e da sátira; e repare que não estava desavisado: todo o material de divulgação do evento, incluindo o “comunicado de imprensa” remetia para esse aspecto; senão vejamos: o próprio título “afinal por que dormem os deputados?”, o subtítulo “palestra humorística”, a descrição do orador como “mestre de humor e doutorado em ‘culture destruction’” e os laivos de humor e sátira na introdução apresentada.

Mas, não, o senhor não atentou a isso tudo, preferiu acorrer acreditando que o “jovem escritor” – como carinhosamente me tratou – ia salvar a sua curiosidade dando-lhe explicações extraordinárias, que se enquadrassem noutra coisa que não fosse humor e sátira, isto tudo (repito o meu pasmo) num evento de humor e sátira. É incrível o quão freudiano se pode ser.

Concluindo, o senhor jornalista avaliou a minha prestação com base em critérios desenquadrados. Repare que num espectáculo como aquele, os critérios de sucesso devem ser: (i) número de assistentes presentes; (ii) compreensão contínua das piadas e trocadilhos pela plateia; (iii) interactividade da plateia através de palmas, urros e gargalhadas; (iv) atenção contínua ao longo de todo o tempo da apresentação e manutenção na sala (v) classificação positiva dos assistentes.

Tenho a felicidade de informar-lhe que nesses quesitos eu e os organizadores achamos que passamos com excelência: a sala estava abarrotada (como o senhor reconhece na sua matéria), as pessoas não pararam de rir e interagir (incluindo o senhor jornalista, que eu bem vi, do meu lado esquerdo a contorcer-se de riso), não arredaram pé da sala durante cerca de 50 minutos em que durou a minha apresentação e, finalmente, deram a classificação geral de “muito bom” na pesquisa da satisfação desenvolvida através de um formulário de pesquisa pós-evento.

Quanto as palavras pejorativas que diz que mencionei, queira, por favor, acompanhar na reflexão que se segue – esta já de teor científico.

O humor é muito importante pois veicula, com bastante frequência, uma visão sintetizada dos problemas de um povo ou comunidade, que podem tornar-se mais fáceis de tragar e engolir. Segundo Possenti (POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. 3ª ed. Campinas: Mercado de Letras, 2002), há fortes razões para que o humor seja interessante para provocar reflexão. As piadas, por exemplo, versam sobre sexo, política, racismo, instituições (igreja, escola, casamento, maternidade, línguas), loucura, morte, desgraças, sofrimento, a velhice, a calvície, a obesidade, órgãos genitais pequenos ou grandes, defeitos ou temas socialmente controversos.

Dessa forma, elas servem de excelente corpus para reconhecer ou confirmar manifestações culturais e ideológicas. Finalmente, as piadas são interessantes porque, quase sempre, veiculam discursos proibidos, subterrâneos, não-oficiais, que, provavelmente, não se manifestariam numa entrevista, por exemplo. Os discursos de humor interessam por mostrar também como o escritor se posiciona frente à realidade, a imagem que faz de si e do outro, sempre partindo daquilo que enunciou ou deixou de enunciar.

Como pode ver, meu caro repórter, teria bastado que tivesse ido documentar-se previamente (aliás, um dos mandamentos do jornalismo) e teria evitado fazer um mau serviço para todos nós, incluindo para si próprio. Eu continuarei a fazer as minhas apresentações de humor, e gostaria que comparecesse; mas, por favor, quando eu fizer o discurso sobre “Como acabar com a estupidez?”, não venha com muita esperança que eu lhe dê propostas de terapias científicas milagrosas; sou escritor e humorista eu, e não seu psiquiatra.

Um abraço tropical Pedro Muiambo Escritor e Humorista

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