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Jogos Olímpicos: Bolt, Williams… Kirani e Makhloufi

Sem glórias nem vitórias terminou a participação de Moçambique na 30ª Olimpíada da Era Moderna. Enquanto adolescentes e jovens da China à Granada (uma pequena ilha com pouco mais de 100 mil habitantes), e até do Cazaquistão, brilham e arrecadam medalhas de ouro, os nossos dirigentes vão-nos enganando com a eterna desculpa de levar atletas para ganhar experiência. Uma experiência que não tem dado resultados positivos, excepto as duas únicas medalhas conquistadas por Maria de Lurdes Mutola.

Com tantos momentos gloriosos, de superação e emoção para destacar destes Jogos Olímpicos, que terminam no domingo (12), pouco ou nada há a escrever sobre a prestação dos atletas moçambicanos.

Phelps anunciou a sua reforma após quatro Olimpíadas. Com 27 anos e 22 medalhas, o norte-americano agora vai “curtir” a vida após duas décadas de muito trabalho. Michael Phelps estreou-se em Sydney, venceu oito medalhas em Atenas (seis de ouro e duas de bronze) e mais oito em Pequim (todas de ouro).

Em Londres, estava longe do melhor momento da carreira, falhou na primeira prova de Londres (quarto nos 400m estilos), mas a partir daí tudo foi diferente, com quatro medalhas de ouro e duas de prata. No meio de tanto domínio, deixou-se ultrapassar pelo sul-africano Chad le Clos nos 200m mariposa, um dos bastiões da Bala de Baltimore, e também viu a França vingar a derrota de Pequim na estafeta dos 4x100m livres, depois de Yannick Agnel ter ganho um segundo a Ryan Lochte no último percurso.

A revolta dos mais novos

A natação sempre foi pródiga em despertar talentos em idade adolescente, mas Londres tornou-se um paraíso para jovens que ainda estão na escola. Trata-se de Missy Franklin, de 17 anos idade, Shiwen Ye de 16 e Ruta Meilutyte e Katie Ledecky de 15… Moçambique levou dois nadadores, Jéssica com 21 e Chakyl 22.

O destaque desta nova geração vai para as mais velhas. A norte-americana Missy Franklin foi rainha e senhora das provas de costas, garantindo um recorde mundial (200m) e um continental (100m). Já a chinesa Shiwen Ye mostrou ser indiferente às suspeitas de dopping lançadas pelos norte-americanos e dominou as provas de estilos, com um recorde mundial e um olímpico.

Homem mais rápido do mundo continua a ser jamaicano

9,63 segundos. Recorde olímpico. Usain Bolt prometeu, Usain Bolt cumpriu. A rockstar do atletismo acabou com as dúvidas e desapontou os que torciam pelo m de um reinado que começou quase de surpresa em 2008.

A concorrência era de peso, a mais forte de sempre, com Yohan Blake, Tyson Gay, Asafa Powell e Justin Gatlin. Ou seja, era um assunto entre jamaicanos e norte-americanos, uma corrida para elevar Bolt a um patamar único ou derrubá-lo para dar lugar a uma nova lenda. Mesmo com toda a pressão, Usain ainda esteve à vontade para brincar durante a apresentação dos atletas. Quando chegou a sua vez, fez de conta que era um DJ.

Os limites da con ança de Bolt estão tão longe que é quase impossível perceber até aonde vão. Há uma excepção: a partida. Por ser tão alto (1,95 metros), o velocista de 25 anos é mais lento na altura de sair dos blocos. E quando tenta acelerar o processo corre o risco de fazer uma falsa partida, como aconteceu nos Mundiais do ano passado.

A vitória na final dos 100 metros dá-lhe a quarta medalha de ouro em Jogos Olímpicos – também venceu os 200 metros e os 4×100 em Pequim. Blake, que tinha derrotado o campeão olímpico nos trials jamaicanos, teve de se contentar com a prata. Pelo caminho igualou o seu recorde pessoal (9,75 segundos). E a Jamaica só não dominou a corrida por completo porque Asafa Powell cou para trás. Primeiro faltou-lhe velocidade para estar lado a lado com os melhores, depois teve um problema muscular que o obrigou a abrandar.

Ténis: Irmãs Williams somam terceiro título em pares femininos

As norte-americanas Serena Williams, já vencedora do ouro em singulares, e Venus Williams somaram o terceiro título olímpico em pares femininos, ao vencerem a respectiva final As irmãs norte-americanas, já campeãs olímpicas de pares em Sydney2000 e Pequim2008, venceram as checas Andrea Hlavackova e Lucie Hradecka, que arrecadaram a medalha de prata, em dois “sets”, pelos parciais de 6-4 e 6-4, em uma hora e 33 minutos.

Sanchéz surpreende e vence 400m barreiras

Félix Sánchez, da República Dominicana, conquistou uma medalha de ouro improvável, na segunda-feira. Aos 34 anos de idade, ele superou adversários mais jovens e com melhores tempos na temporada para ser campeão dos 400 metros barreiras, com o tempo de 47s66. Michael Tinsley (47s91), dos Estados Unidos, e Javier Culson (48s10), de Porto Rico, completaram o pódio.

Jennifer Suhr vinga-se e salta mais alto que Isinbayeva

A menos de um mês de competir nos Jogos Olímpicos, Yelena Isinbayeva explicou o que ia acontecer na prova do salto com vara. “Se mantiver a minha forma e evitar as lesões, serei a minha única rival em Londres.” Não é que quisesse subestimar o valor das adversárias. Isinbayeva pura e simplesmente sabia que em condições normais era a melhor. Bem melhor. Aliás, por algum motivo foi a única até hoje a ultrapassar a fasquia dos cinco metros no salto à vara.

A maior rival que não ela própria era Jennifer Suhr, que em 2008 tinha outro apelido (Stuczynski). Há quatro anos, as diferenças eram óbvias – a norte-americana foi medalha de prata, mas ficou a 25 centímetros de Isinbayeva. Nessa noite, a campeã olímpica estabeleceu um novo recorde do mundo (5,05 metros), quando já não tinha mais ninguém para derrotar. Desta vez, Suhr ficou com o ouro. Porquê? Isinbayeva perdeu contra si própria.

Nas últimas três tentativas, Jennifer nem sequer foi capaz de ultrapassar os 4,80 metros, a tal que lhe tinha dado o segundo lugar em Pequim. Desta vez limitou-se a saltar 4,75 metros, o que se revelou mais do que suficiente. Isinbayeva falhou duas vezes essa marca e quando arriscou cinco centímetros acima também derrubou a fasquia. Acabava aí o sonho de se tornar a primeira mulher do atletismo a conquistar três títulos olímpicos consecutivos. Tinha de se contentar com o bronze, um prémio de consolação demasiado fraco para quem só sabe ganhar.

Kirani venceu os 400 metros e Granada teve meio dia de feriado

A final dos 400 metros dos Jogos Olímpicos de Londres, na noite de segunda-feira (6), teve um vencedor pouco esperado: Kirani James. Conquistou a primeira medalha de ouro olímpica para o seu país e, logo após a prova, James avisou: “Isto significa muito. Vai ser a loucura no meu país”.

Na terça-feira (7), o Primeiro-Ministro de Granada, uma pequena ilha no sudeste do Caribe, que tem menos de 110 mil habitantes, decretou uma tolerância de ponto por uma tarde a todo o país para celebrar a vitória do velocista.

Este jovem, já apontado como candidato a quebrar o recorde de Michael Johnson, já havia captado a atenção do mundo quando após a semifinal, no domingo (5), trocou o autocolante que os atletas trazem colado ao seu peito, contendo o seu nome e nacionalidade, com o sul-africano Oscar Pistorius, corredor biamputado que competiu pela primeira vez numa olimpíada usando pernas postiças de fibra de carbono. Pistorius tinha sido eliminado e o gesto de James foi televisionado para o mundo inteiro.

Na segunda-feira, quando James disputou o ouro em Londres, ecrãs gigantes foram colocados em quatro parques e estádios para que os seus compatriotas granadinos pudessem vê-lo em directo. Quando James terminou a corrida em primeiro, meio segundo à frente de Santos, eles puseram-se a correr pelas ruas e a soprar em conchas.

Taoufik Makhloufi conquista ouro nos 1.500 metros

Fé. Segundo o dicionário, significa a firme crença em algo ou alguém, especialmente a ligada à religião. Mas tem outro significado: “Lealdade a um dever ou pessoa; fidelidade às promessas; sinceridade nas intenções.” Não costumamos ouvir a palavra fé quando falamos dos Jogos Olímpicos, mas ela foi pela primeira vez invocada.

Depois das atletas expulsas do badminton por falta de esforço e das críticas a Philip Hindes, que admitiu ter usado as regras a seu favor no ciclismo de pista, chegou a vez de o argelino Taoufik Makhloufi abanar os alicerces da fé olímpica.

O argelino fez o melhor tempo nas meias-finais dos 1500 metros no domingo (5). Três minutos, 42 segundos e 24 centésimos que colocavam o jovem de 24 anos no caminho das medalhas e talvez do ouro. Mas um erro burocrático lançou a confusão. A federação da Argélia tencionava retirar a inscrição do atleta da prova dos 800 metros, mas só tinha um prazo até domingo para o fazer e não conseguiu cumprir. Como resultado, Makhloufi foi obrigado a alinhar na qualificação para a prova. Contra a sua vontade.

Assim, na manhã de segunda-feira (6), o argelino apareceu para participar nos 800 metros, mas correu apenas 100. Depois saiu da pista, afastando-se a andar pelo próprio pé para a zona dos saltos à vara. Taoufik foi logo desqualificado.

“O árbitro considerou que ele não fez um esforço de bona fide e decidiu excluí-lo da participação em todos os eventos futuros da competição”, pode ler-se num comunicado da associação de federações de atletismo. A aparente falta de bona fide – boa fé, em latim – do atleta é a razão, já que do ponto de vista da associação o atleta não se terá esforçado, para se guardar para a final dos 1500 metros. Mas Makhloufi ainda podia correr se apresentasse uma declaração de um médico (que não seja da sua equipa médica) em como não correu devido a uma lesão.

A declaração médica chegou e Taoufik Makhloufi conquistou a medalha de ouro dos 1.500 metros dos Jogos Olímpicos Londres 2012, ao vencer a prova com o tempo de 3.34,08 minutos.

Falta-nos educação desportiva

O que podemos aprender destes e de todos os outros vencedores é que desde a infância levaram muito a sério o desporto, entregaram-se de alma e coração, abdicaram de muitas coisas, também trabalharam muito e tiveram aquilo que o professor catedrático da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, João Paulo Vilas-Boas, chama de cultura e educação desportivas.

Segundo o professor, num artigo de opinião publicado no jornal Público, esta aprendizagem não é espontânea, tem de ser catalisada por uma educação capaz. Uma educação em que o Estado e as famílias percebam o que é que é efectivamente crítico.

Enquanto continuarmos a trabalhar de hoje para amanhã, nunca teremos resultados ao mais alto nível, quer no desporto, quer noutra área qualquer.

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