A polícia tunisiana dissolveu nesta terça-feira confrontos na capital, quando ativistas islâmicos pró-governo atacaram sindicalistas que acusam de ter incitado protestos da oposição na semana passada.
Centenas de ativistas islâmicos munidos de facas e paus atacaram uma reunião de filiados da UGTT, maior central sindical local, e quebraram a pedradas vidros dos escritórios da entidade, segundo uma testemunha da Reuters. A polícia então interveio para separar os dois grupos.
Cerca de dez pessoas ficaram feridas, segundo a testemunha. “UGTT, vocês são ladrões, vocês querem destruir o país”, gritavam os ativistas, que também levavam cartazes.
Centenas de sindicalistas, que apoiaram as jornadas de protesto da última semana contra a falta de empregos e desenvolvimento na localidade de Siliana, haviam saído às ruas próximas gritando convocações para uma greve geral e pela derrubada do governo comandado pelo partido islâmico Ennahda.
“O Ennahda vai acabar como Ben Ali. Eles não escolheram bem seu inimigo”, disse um manifestante, referindo-se a Zine al-Abidine Ben Ali, o veterano autocrata derrubado em janeiro de 2011 na rebelião que deu início à Primavera Árabe. Mais tarde, ativistas islâmicos e esquerdistas atiraram garrafas e pedras uns nos outros perto da sede do governo, onde cerca de 2.000 sindicalistas haviam se reunido num protesto contra o primeiro-ministro, Hamadi Jebali.
Esses foram os mais agressivos protestos na Tunísia desde que militantes conservadores salafistas atacaram a embaixada dos Estados Unidos em Túnis, em setembro, num protesto contra um filme anti-islâmico feito na Califórnia. Quatro pessoas morreram na ocasião.
Os confrontos desta terça-feira aparentemente não envolveram salafistas. “Esse é um recado do Ennahda para conter o ativismo sindical. É o mesmo método usado por Ben Ali”, disse Fethi Debek, membro da executiva da UGTT. O Ennahda foi eleito para o governo depois da deposição de Ben Ali, cujo Estado policial reprimia o ativismo islâmico e promovia o secularismo.
O partido distanciou-se do ataque aos sindicalistas, que estavam reunidos para lembrar a morte de um famoso líder sindical. “O Ennahda condena fortemente o violento ataque contra os manifestantes e expressa sua solidariedade a todos os feridos”, disse o partido, acrescentando que as sedes de todos os organismos nacionais precisam ser “esvaziados de todas as ferramentas de violência”.
O Ennahda acusou grupos esquerdistas derrotados na eleição de 2011 de fomentarem turbulências em Siliana, provocando tunisianos de áreas pobres para participarem de confrontos que poderiam afastar investidores estrangeiros.