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Isaú Meneses: um exemplo de superação

Isaú Meneses: um exemplo de superação

Engana-se quem pense que a deficiência visual é uma limitação para se abraçar a arte. Descendente de uma família de artistas, Isaú Meneses é, presentemente, uma referência incontornável da música ligeira moçambicana. O autor do sucesso “Tapi Djêe” viu na música uma oportunidade para retratar os acontecimentos do dia-a-dia e, igualmente, promover a valorização dos cidadãos com problemas relacionados com a falta de visão. Em 30 anos de carreira, já publicou sete álbuns.

Isaú Meneses contraiu uma deficiência visual precocemente. Com apenas seis anos de idade, perdeu a visão devido ao sarampo, uma doença viral que atingiu os olhos. Depois de ser alvo desta adversidade, Meneses já se considerava uma criança diferente de outras mas, graças ao carinho dos progenitores, superou os obstáculos que teve pela frente.

“O sarampo levou-me à cegueira. As borbulhas tinham abrangido a visão até ao ponto de deixar os meus olhos inúteis. Fui forçado pelo destino a adaptar-me ao meio em que me encontrava, uma vez que nasci sem nenhum problema e adquiri a deficiência visual ainda na infância”, disse.

Mergulhado num mar de incertezas num país onde os deficientes são tratados como pessoas inválidas, Isaú Meneses decidiu aprender a tocar instrumentos musicais. O seu pai que, na altura, tocava guitarra e a sua mãe era corista num grupo local, foram os seus primeiros professores. Com a ajuda do seu progenitor, aos 12 anos de idade já tocava guitarra. “Na altura em que aprendi a tocar instrumentos musicais não pensava em fazer carreira na música. Questões sobre a reacção do público quando estivesse diante de um artista deficiente visual faziam com que eu olhasse para a actividade como um hobby”, referiu Isaú.

A ambição de manusear, com esmero, alguns instrumentos musicais povoava a sua mente e, mais tarde, decidiu aprender a tocar piano. Isaú Meneses recorda que não foi fácil dominar as cordas da guitarra e as notas do piano. Acredita que se tratou de uma dádiva de Deus.

Com domínio no uso da guitarra e do piano, o músico ingressou como corista na banda Mafambisse, um agrupamento musical que era composto por jovens do posto administrativo com o mesmo nome, no distrito de Dondo, província de Sofala.

Foi nesse conjunto que Isaú Meneses começou a dar os primeiros passos no mundo da música. Tinha 14 anos de idade quando se apresentou pela primeira vez ao público. “Tratando-se da minha primeira actuação como corista, era imprescindível não temer diante de muita gente, embora não tenha visto com os meus olhos, mas senti com a alma”, afirmou.

Não decorreu muito tempo até que a banda da qual Isaú Meneses fazia parte ganhasse a simpatia do público. O primeiro contacto com os espectadores foi prodigioso. O grupo passou a receber convites para animar as casas de pasto e eventos sociais, com destaque para casamentos, baptismos e aniversários. “Dedicava-me bastante à música na infância porque nas circunstâncias em que me encontrava sentia que era uma actividade com que me identificava”, disse.

Em 1983, Isaú Meneses começou a encarar a música de forma profissional. Porém, os desafios da carreira artística obrigavam a cada vez mais empenho e dedicação. O músico tinha de conciliar os estudos com a arte de cantar. A cada dia que passava as dificuldades aumentavam.

Conquista do mercado internacional

Conquistar o mercado internacional era um dos sonhos de Isaú Meneses. A sua expectativa era tornar-se um artista moçambicano de referência obrigatória. No longínquo ano de 1983, o músico actuou em Portugal, onde teve a oportunidade de apresentar os temas que fariam parte do seu primeiro trabalho discográfico. Ainda no mesmo ano, partiu para a vizinha África do Sul, onde realizou diversas actuações. “O público sentia-se identificado com as minhas músicas, daí que era convidado nos fins-de-semana para actuar nas casas de pasto e não só”, salientou.

As excursões para os países estrangeiros serviram de preparação do seu álbum de estreia. A demora no lançamento do seu disco deveu-se à falta de condições financeiras. Porém, mais tarde, as dificuldades foram superadas. Em 1997, Isaú Meneses realizou o seu sonho, colocando no mercado o primeiro trabalho discográfico, cujas músicas abordavam questões sociais.

Os momentos subsequentes foram de sucesso para Isaú Meneses. “Com o lançamento do álbum, além de atender ao pedido do público, senti-me realizado. As vendas estavam, cada vez mais, a superar as expectativas”, contou.

Com o trabalho que se tornava intenso, o músico procurava agraciar os seus admiradores com músicas românticas. A estratégia foi mudar de abordagem, sem se esquecer de outras temáticas. Entretanto, a cada ano que passava, a carreira artística de Isaú Meneses ficava mais sólida, sobretudo com o lançamento de novos trabalhos discográficos.

Além da música, Isaú Meneses escreve poesias. Autor de versos românticos, o artista perdeu a conta dos seus textos. “Não me preocupo em saber o número das minhas poesias e nem das minhas músicas. O que me interessa é escrever, cantar e lançar no mercado para serem consumidos pelos meus fãs”, argumentou.

30 anos de carreira

No ano transacto (2013), Isaú Meneses completou 30 anos de carreira. A comemoração do trigésimo aniversário de muito trabalho foi marcada pelo lançamento do seu sétimo álbum nos meados de Junho, composto por 11 faixas. O disco é intitulado “Patchissa-Pananfiti”, que na língua local (Sena) significa “Há feiticeiros na zona”.

Decorridos 30 anos de muito trabalho, o músico foi agraciado com um disco de platina, na sequência da venda de mais de 40 mil cópias do seu álbum“Tapi Djêe”. Mais tarde, foi nomeado director-adjunto pedagógico do Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC).

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