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Irlanda lamenta abuso infantil do clero católico, seu capítulo mais obscuro

O governo da Irlanda lamentou nesta quinta-feira os abusos sexuais cometidos contra crianças em instituições e orfanatos da Igreja Católica, revelados em um relatório divulgado na quarta-feira, e considerou o ocorrido um dos capítulos mais obscuros da história do país.

A presidente da Irlanda, Mary McAleese, se declarou “chocada e envergonhada por tantas crianças terem sido obrigadas a suportar e sofrer estes abusos em instituições que tinham como obrigação e vocação dar carinho e segurança”.

Os comentários da presidente irlandesa foram feitos depois que um líder da oposição trabalhista pediu que a Igreja Católica aumente a 128 milhões de euros (177 milhões de dólares) o valor das indenizações às vítimas dos abusos, cometidos entre 1930 e 1990. “Foi uma traição atroz do amor. Meus pensamentos se dirigem às vítimas desta terrível injustiça, que além de tudo tiveram que sofrer em silêncio durante tanto tempo”, acrescentou McAleese. “O relatório da Comissão de Investigação dos Abusos Infantis descreve um dos capítulos mais obscuros de nossa história”, afirmou a primeira-ministra Mary Coughlan.

O horror revelado na quarta-feira pelo informe afetou duramente a Igreja Católica irlandesa, já muito abalada por uma série de escândalos de abusos sexuais cometidos por religiosos. As indenizações dizem respeito a irlandeses que vivem atualmente em 30 países. A compensação média é de 65.000 euros, que pode chegar até 300.000 para aqueles mais afetados pelos abusos e torturas durante a infância. O chefe da Igreja Católica da Austrália, cardeal George Pell, pediu nesta quinta-feira uma análise mais atenta e uma ação ante qualquer relação do clero australiano com as graves acusações na Irlanda.

O relatório demonstra que os religiosos católicos agrediam, violavam e humilhavam as crianças internadas nas instituições de caridade. O texto definiu os abusos como “endêmicos”. “As crianças viviam em um terror diário, sem saber quando receberiam o golpe seguinte”, afirma o documento, que lamenta a cultura do silêncio entre as autoridades. “As autoridades religiosas sabiam que os abusos sexuais eram um problema persistente em organizações religiosas masculinas”, destaca o informe.

A comissão entrevistou mais de 2.000 pessoas que relataram agressões, intimidações e abusos sexuais por parte de sacerdotes e freiras. Entre 30.000 e 40.000 crianças passaram por esses estabelecimentos. A maioria deles foram internados porque haviam sido abandonados: eram filhos de mães solteiras, ou haviam praticado pequenos roubos.

Em alguns casos, as crianças ingressaram quando tinham apenas dois anos. “Estes não eram orfanatos, eram gulags”, disse à AFP John Kelly, uma das vítimas desses abusos. “Eu não me chamava John Kelly. Era apenas o número 253”, disse.

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