O intérprete de sinais sul-africano acusado de gesticular aleatoriamente ao traduzir para os surdos os discursos no funeral de Nelson Mandela defendeu-se, esta quinta-feira (12), dizendo ser um “campeão” da língua de sinais, mas disse ter sofrido uma crise esquizofrénica durante o evento desta semana.
O intérprete, identificado como Thamsanqa Jantjie, de 34 anos, disse ao jornal Star, de Johanesburgo, que começou a ouvir vozes e sofrer alucinações quando estava sobre a tribuna, e que isso tornou os seus gestos incompreensíveis para deficientes auditivos em todo o mundo.
“Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava sozinho, numa situação muito perigosa. Tentei me controlar e não mostrar ao mundo o que estava a acontecer. Lamento muito. É a situação na qual me vi”, disse ele ao jornal.
Ele acrescentou que estava medicado contra a esquizofrenia e que não sabe o que motivou o surto. Milhões de telespectadores viram, terça-feira, Jantjie actuar como intérprete para presidentes como Barack Obama, dos EUA, e Jacob Zuma, da África do Sul, durante uma cerimónia em homenagem a Mandela realizada no estádio Soccer City, em Johanesburgo.
Depois do evento, a principal entidade para surdos-mudos da África do Sul denunciou que Jantjie seria um impostor que estaria a inventar sinais. Mas, em entrevista a uma rádio, Jantjie disse estar satisfeito com o seu desempenho na cerimónia. “Absolutamente, absolutamente. Acho que sou um campeão da linguagem de sinais”, afirmou ele à emissora Talk Radio 702.
Procurado pela Reuters, ele disse não entender por que as pessoas estão a queixar-se só agora, e não noutros trabalhos seus. “Não sou um fracasso. Eu cumpro”, disse ele, antes de desligar. A polémica está a ofuscar os dez dias de despedida para Mandela, cujo corpo está a ser velado pelo segundo dia no Union Buildings, em Pretória, onde ele tomou posse em 1994 como o primeiro presidente negro da África do Sul.
As revelações sobre os gestos bizarros de Jantjie – os especialistas dizem que ele não conhecia gestos básicos, como “obrigado” e “Mandela” – motivaram, quarta-feira, uma caçada pela identidade do mímico misterioso.
O governo, encarregado da cerimónia, disse não saber quem ele era. Jantjie disse trabalhar para uma empresa chamada SA Interpreters, contratada pelo partido governista ANC para a cerimónia da terça-feira.
O ANC também disse desconhecer Jantjie, mas prometeu uma investigação. “Estou muitíssimo surpreso”, disse o porta-voz do partido, Jackson Mthembu. “Vamos acompanhar isso. Não temos certeza se há algo de verdade no que ele disse.”

