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Autárquicas 2013: Inhambane desmente previsão

A esperança do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) estava depositada na juventude. Provavelmente, se esta camada social tivesse ido votar em massa, o sonho poderia ter sido concretizado. Era em direcção a eles, os jovens, que o discurso de Fernando Nhaca, candidato do partido que tem a génese nos irmãos Simango, fluía. E tudo levava a crer que a semente lançada pelo jovem professor de Desenho germinaria. Floresceria. E depois daria frutos. Mas não. As pessoas de pouca idade não se mostraram muito combatentes na hora da verdade. A maior parte delas ficou em casa, contrariando o vaticínio do pretendente à cadeira de presidente do Conselho Municipal de Inhambane, que acreditou na mudança até à última hora.

Na verdade, em termos teóricos, durante os 13 dias da campanha eleitoral, a cidade de Inhambane parecia estar na corda bamba, ou seja, dava a impressão de estar a fazer um exercício de equilibrismo, que poderia resultar na queda para um lado, ou para outro. Essa era a visão de futuro daqueles que acreditavam, nem que seja cegamente, que as coisas podiam mudar de um momento para o outro. Mas no fim das contas eles enganaram-se, ou foram enganados, provavelmente não pela força da Frelimo e do seu candidato, mas pela indecisão daqueles que poderiam operar a alteração do rumo das coisas.

É irrefutável que em arena estavam dois contendores com meios proporcionalmente desiguais, com vantagem para Benedito Guimino, acompanhado, ou melhor, suportado por falcões como Aires Aly e Eneas Comiche, e um aparato de propaganda que Fernando Nhaca não tinha. E isso só por si pode constituir um obstáculo muito grande para o candidato do MDM.

Bendito Guimino ficou talhado em cerca de um ano, quando ganhou as eleições intercalares, para enfrentar o eleitorado, nesta campanha, com um discurso persuasor, aparentemente humilde, mas que tem, naturalmente, por detrás, os tigres que não querem perder nada, ou que têm medo de perder o que já possuem nas mãos. E com este caudal todo, a Fernando Nhaca restavam as palavras, que deviam ser escolhidas cuidadosamente para atrair a juventude.

Por um lado, Fernando Nhaca terá escolhido, para defender a sua ladainha, as palavras apropriadas, com as quais tentava despertar outra consciência nos munícipes de Inhambane. Por outro lado, essas mesmas palavras eram colocadas num feixe e arremessadas contra o partido no poder, tais como “chega de sofrimento”. Fernando Nhaca nunca se cansou de apregoar que os jovens devem lutar para mudar a sua condição de vida, pois “os nossos pais sofreram, nós estamos a sofrer, mas vocês, jovens, devem lutar para acabar com esse sofrimento”.

Entretanto, não foi desta vez que a juventude, a faixa etária que constitui a maioria em Moçambique, quis alterar o rumo das coisas, sem dúvidas, para o apregoado futuro melhor que alguns, provavelmente, vão morrer sem terem vivido.

A falta de emprego era outra bandeira hasteada pelo candidato do MDM, que não se poupava em pregar o seu evangelho nos mercados e na ruas, na tentativa de conquistar simpatias, e tudo levava a crer que as águas corriam debaixo da ponte a seu favor. E, realmente, havia muita gente que, de longe, já estava confiante na sua vitória. Acreditava-se, também, que os professores, seus colegas, poderiam ir com ele, para lhe ajudar a esquecer as agruras pelas quais passou, pagando caro a factura de ser simpatizante do MDM. Mas mesmo esses não nos parece que tenham dançado a música que Fernando Nhaca cantava, muito menos lhe ajudavam a cantar, para nos lembrar o poema, “Canta, meu irmão, ajuda-me a cantar”.

Todo este sonho, foi, uma vez mais, adiado, a favor de Benedito Guimino, um jovem, também, professor, acolhido por gregos e troianos, na cidade de Imhambane. O actual edil tem sempre os remos na mão, mesmo quando está fora do barco. O que fez, em cerca de um ano, promoveu-o a um edil querido, fazendo com que as pessoas associassem tudo de bom que estava acontecer, como a abertura de ruas, distribuição de talhões aos jovens, instalação de painéis solares na Ilha de Inhambane, canalização de água para os bairros, coisas nunca antes contempladas, a aproximação das pessoas para ouvir as suas preocupações, não ao partido Frelimo, mas a Benedito Guimino.

Sendo assim, as probabilidades de este ganhar eram bastantes. Para contrariá-lo, Fernando Nhaca tinha de ser também um monstro. Até porque podemos estar em presença de um monstro em construção. As coisas fazem-se pedra a pedra. E para que amanhã as condições sejam melhoradas e ascenda ao poder, o jovem tem de descobrir os escolhos deste beco, com saída.

De qualquer forma, pese embora os resultados finais das eleições autárquicas ainda não sejam conhecidos, Benedito Guimino ganhou, sem equívocos, por uma margem muito grande, deixando para trás o seu adversário que nos surpreendeu com a maturação impressa no seu discurso. Com um a vontade assinalável na sua postura, o que obriga a que, daqui para a frente, esteja proibido de se comportar de determinadas formas, ou, melhor do que isso, esteja na obrigatoriedade de se acouraçar ainda mais, em termos políticos, mesmo em termos sociais.

RENAMO COM MDM

Facto curioso é que alguns membros manifestamente da Renamo foram vistos nas assembleias de voto. E a pergunta que se faz é: eles foram votar em quem? A verdade é que durante a campanha eleitoral, importa recordar, Benedito Guimino foi mal acolhido numa zona do bairro Malembuane, supostamente bastião dos simpatizantes da Renamo. Isso aconteceu num contacto que o actual edil fazia porta-a-porta e de modo interpessoal. Mas Fernando Nhaca não encontrou esse percalço.

Seja como for, o importante é reter que o processo decorreu ordeiramente, e o vencedor, até aqui, não sofre qualquer contestação. Como não sofrem, também, os pleitos eleitorais dos outros municípios desta parcela do país, nomeadamente Massinga, Vilankulo, Maxixe, e Quissico.

Aliás, em Massinga, o que pairava durante a campanha eleitoral é que o MDM poderia levar vantagem, mas os resultados mostraram que as previsões, em muitos casos, não têm nada a ver com a realidade. É, por isso que, em gíria desportiva, sempre se vai dizer que as contas se fazem depois dos noventa minutos.

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