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Inhambane: a casa do silêncio

Inhambane: a casa do silêncio

Tem tudo para ser uma referência mundial na área do turismo e criar uma sociedade mais justa e igualitária. Actualmente, mistura o melhor do turismo com alguns focos de pobreza extrema. É por isso que é agora mais importante do que nunca que Inhambane examine a sua sociedade e reflicta sobre algumas das suas fragilidades.

Ainda que elevada à categoria de cidade a 12 de Agosto de 1956, não existe um município Inhambane, existem vários. O dos bairros periféricos é o de grandes tensões sociais, onde os papéis que cada residente desempenha, ao contrário do silêncio e da tranquilidade do centro da urbe, acabam sempre por ser subvertidos.

São essas assimetrias que põem a descoberto a cidade que ninguém quer ver quando compra uma passagem de avião numa agência turística. Não são só os bairros miseráveis. São também as relações de força entre patrões e criados, entre ricos e pobres, entre velho e novo, também entre o urbano e o suburbano.

E ainda a porta giratória de um lodge acabado de construir, onde alguém como Zito fica de fora. A não ser que compre uma t-shirt nova, com uma palavra em inglês e ande de carro com tracção às quatro rodas. Chegado à praia do Tofo ou Barra, qualquer um poderá interrogar-se: como é que os bairros de Inhambane são tão pobres e desordenados?

O primeiro equívoco que terá de ser quebrado: o desenvolvimento do turismo não tem transposição para grande parte dos 67 mil habitantes. As novas construções que surgem um pouco por todos os bairros periféricos, ainda que desordenadas, não são o resultado de mais emprego para os citadinos de Inhambane.

Daí talvez que o escritor Alexandre Chaúque se tenha apressado a dizer que “o crescimento de Inhambane é um paradoxo”. Explica: “É um paradoxo porque as pessoas que estão a construir – nos bairros da periferia – são naturais da urbe ou da província.

Numa cidade onde não há emprego, onde não há muitas alternativas de busca de renda, a qualidade das construções leva qualquer um a concluir que há uma grande actividade comercial no município, o que não corresponde, de todo, à verdade”. Em suma: “o desenvolvimento de alguma periferia de Inhambane é um mistério”.

As construções crescem sem obedecer a nenhum plano de urbanização. O bairro de Muelé, um exemplo modelar da ausência de uma política urbana eficaz, mistura o melhor da construção civil – casas luxuosas – com o pior do planeamento físico. Não é propriamente um caso perdido. Mas é um lugar que nasceu para dar lugar ao caos. Muelé é dois lugares num só: a miséria e o luxo cruzam- -se e entrelaçam-se naquele ponto de Inhambane.

Em contrapartida, o centro da cidade mantém os mesmos edifícios. Alguns estão a virar verdadeiras ruínas. Porém, a tradicional cidade de Inhambane não tem como crescer. A solução, para muita gente, passa por criar uma nova cidade e manter a actual como museu. Desde que sejam restaurados os edifícios.

Desemprego

Com uma taxa de desemprego que ronda os 48 porcento, os jovens de Inhambane têm poucas alternativas para se tornarem auto-sustentáveis. Os que estudam lutam para entrar na função pública, mas nem sempre a instrução é um porto seguro. Zito, cobrador de um autocarro interprovincial Inhambane / Maputo, é disso um exemplo.

Concluiu a 12ª, não conseguiu ingressar no ensino superior e, sem nenhuma formação, decidiu concorrer para um lugar numa empresa pública. Essa vaga, diz, mudaria muita coisa na sua vida. Contudo, o destino reservou-lhe outro caminho: o de trabalhador sem contrato. Aufere por cada dia de trabalho o suficiente para comer.

É Zito quem nos assegura que os lodges das praias de Inhambane são um lugar vedado aos naturais. “Vedados porque praticam preços que poucos pessoas daqui podem pagar”. As portas andam sempre abertas, mas um prego, cujo preço é de 350 meticais, cria uma barreira intransponível para os mais humildes naturais de Inhambane.

Formas de sobrevivência

O sector informal da cidade de Inhambane está parado. Há, diga-se, poucos lugares onde o comércio fervilha. O Mercado Central, no centro da cidade, é um dos raros espaços.

Vende um pouco de tudo, mas são os cestos de palha que chamam a atenção dos visitantes. Mas há artigos para todos os preços e bolsos. Uma simples carteirinha custa cinco meticais. Cestas para o dia-a-dia partem dos 80 meticais. As peças mais trabalhadas chegam aos 800 meticais.

Engana-se, porém, quem pensa que no final do dia os vendedores voltam para casa com receitas enormes. José, 54 anos de idade, terá muita sorte se conseguir 300 meticais de lucro no final de cada dia. A época não ajuda. Só por volta do dia 18, com a páscoa no país vizinho, o movimento melhora em Inhambane e os vendedores informais esfregam as mãos de contentamento.

José, vendedor de cestos há 20 anos, é claro: “A vida não está fácil”. Para sustentar a família acorda às quatro e só termina a sua jornada laboral às 19 horas. Vender cestos no mais antigo mercado da cidade é a sua vida, o “emprego” que sustenta os seus sete filhos e a esposa.

Ponto de encontro

No Mercado Central meio Inhambane se cruza. É que o lugar é também paragem de autocarros semi-colectivos que fazem todo o tipo de transporte. No espaço subjacente ao recinto encontrámos João Ernesto Chaúque, de 26 anos de idade, vendedor dos famosos bolinhos de sura. O jovem vive num mundo à parte. Diz que não passa fome, mas que se vivesse em Maputo a vida seria melhor.

“Não posso continuar a vender bolinhos de sura. Assim nunca terei dinheiro para pagar o lobolo. Há pouco emprego em Inhambane”, diz.

Ainda assim não se revê a trabalhar num restaurante. “O salário é uma miséria”, diz. “Prefiro continuar a vender os meus bolinhos que ganho mais e não presto contas a ninguém. Não posso perder dias e noites por causa de 2500 meticais. Isso é pouco. Muito pouco”, acrescenta.

É João que nos diz que os bolinhos de sura já não são como antes. “Enganamos as pessoas para sobreviver. Se tivéssemos de fazer como mandam as regras os bolinhos teriam de ser mais caros e aí ninguém comprava”, explica.

Embora o Município de Inhambane tenha conhecido, nos últimos anos, sobretudo depois da grande abertura ao turismo posterior a 2000, uma notável transformação social e económica, temos de ter em conta que a maior parte da população vive na periferia ou no meio rural, onde a ausência de meios de subsistência abundam.

Evidentemente que o Inhambane rural se transformou ele próprio – a ideia de uma terra farta e com praias paradisíacas só existe nos estereótipos românticos dos guias turísticos – mas aí a consciência dos direitos elementares do ser humano tem como base a prosperidade de quem passa em direcção aos lodges e casas de praia.

“Queremos água e transporte”, diz Maria Chiúre. “Energia também”, acrescenta o filho de 18 anos. Ela sempre viveu em Chalambe, mas nunca sonhou com água e energia. Nunca pensou que fosse possível. Esse sonho ganhou asas quando viu os postes de energia passarem-lhe por cima da casa da palha e Antónia explica: “Se chega tão longe é porque nós também podemos ter”.

Indústria hoteleira

O envelhecido centro da cidade de Inhambane não tem muitas opções. Os poucos lugares onde é possível desfrutar do melhor que a cozinha inhambanense oferece encerram as portas por volta das 21horas. Nos domingos nem sequer abrem. A cidade encerra-se num silêncio contagiante.

“As pessoas foram à igreja”, disseram-nos. Para encontrar um sítio aberto para passar uma refeição @Verdade teve de andar 20 quilómetros até a praia do Tofo. Uma volta pelos lodges daquela praia paradisíaca deixou-nos a sensação de estarmos num lugar para onde não fomos convidados.

Desistimos, portanto, dessa ideia inicial e voltámos ao convívio do povo para passarmos uma refeição nas barracas do mercado. Custou-nos, ainda assim, a quantia necessária para adquirir um saco de arroz de 25 quilogramas: 520 meticais. Em Maputo dava para nos alimentarmos durante dois dias.

O Município de Inhambane, está localizado na zona central da província de Inhambane e é a capital. Está limitado a norte pela Baía do mesmo nome, a sul pelo distrito de Jangamo através do Rio Guiúa que abastece a cidade em água potável, a este pelo Oceano Índico e a oeste pela Baía de Inhambane.

O município da cidade de Inhambane situa-se a cerca de 480 quilómetros a norte de Maputo e dista 30 quilómetros da estrada N1.

A sua superfície total é de 192 quilómetros quadrados incluindo a parte líquida, com uma população de 63.867 habitantes.

Esta população encontra-se distribuída por 22 bairros e uma Localidade (Ilha de Inhambane), dedicando-se maioritariamente à actividadeagro-pecuária, pesca e comércio. O município é, além de tudo, turístico com belíssimas praias o que tem atraído muitos turistas nacionais e estrangeiros, com destaque para as praias de Barra, Tofo, Tofinho e Rochas.

A cidade de Inhambane, de características urbanas, tem um padrão e tecido rico que abrange áreas urbanas, semiurbanas e rurais.

É constituída pelos seguintes bairros:

Balane I, Balane II, Balane III, Liberdade I, Liberdade II, Liberdade III, Chalambe I, Chalambe II, Muelé I, Muelé II, Muelé III, Marrambone, Mucucune, Chemane, Conguiana, Malembuane, Guitambaturo, Nhamua, Josina Machel, Machavenga, Salele, Siquiriva e Ilha de Inhambane.

Do ponto de vista étnico, grande parte da população pertence ao grupo Bitonga, embora existam também elementos do Chope Puro.

Construída pelos portugueses como entreposto comercial em 1535, Inhambane é uma das cidades mais antigas da África Austral. Efectivamente, a Vila de Inhambane foi criada a 9 de Maio de 1761, mas só ascendeu à categoria de cidade apenas a 12 de Agosto de 1956, ao abrigo da Portaria n. 11594/56.

Em 1764 é inaugurada a Vila de Inhambane e iniciou o funcionamento da primeira Câmara de Inhambane dirigida por Thomaz Chagas – Capitão Mor das Terras Domingos de Araújo Lima e Belchior Baltazar Pires. Em 1867 foi elaborado e posto em execução o primeiro Código de Postura.

Em Novembro de 1871, procedeu-se ao alinhamento das ruas, becos e travessas tortuosas da Vila, bem como foram alargadas algumas. Em 1907 começaram os estudos da linha férrea que liga a Vila de Inhambane a Inharrime.

Em 1909 inicia a construção do caminho-de-ferro de Inhambane, cuja inauguração teve lugar em 1916. Em 1915 é aberta a ex-Avenida da República, actual Avenida da Revolução. Em 1924 foi inaugurada a estação de captação de água de Guiúa para Inhambane.

No dia 16 de Junho de 1975, o Presidente da Frente de Libertação da Moçambique (FRELIMO), Samora Moisés Machel, chega a Inhambane, no âmbito da sua visita triunfal do Rovuma ao Maputo. Em homenagem à sua passagem, o dia 16 de Junho passou a ser considerado dia da cidade de Inhambane.

O Municípiode Inhambane ocupa um dos espaços históricos de destaque, pois foi na Praia de Tofo que teve lugar a VII Sessão Ordinária do Comité Central da FRELIMO, a qual aprovou a primeira Constituição da República Popular de Moçambique.

Em 1983, parte da região da Maxixe foi integrada e passou a fazer parte da cidade de Inhambane. Em 1986 a urbe foi classificada com o nível C. Actualmente e na sequência da deliberação da Assembleia Municipal da Cidade de Inhambane, o Dia da Cidade de Inhambane é celebrado a 12 de Agosto de cada ano invés do dia 16 de Junho.

Educação

O município de Inhambane tem dois tipos de escolas. No centro da cidade encontrámos recintos escolares com carteiras, edifícios de alvenaria e até campos para actividades desportivas. Na periferia, o cenário é bem diferente: não há carteiras e as salas são feitas à base de estacas e cobertas de ramos de coqueiro.

@Verdade visitou, durante dois dias, as escolas da periferia de Inhambane e encontrou as salas vazias. A chuva não permitiu que os alunos tivessem aulas. As salas de aula apenas minimizam os efeitos dos raios ultravioleta, mas quando se trata de água não há hipótese de se estudar. Ela entra por todos os lados e empapa o chão privado de pavimento.

Essa realidade repete-se de escola em escola, de bairro em bairro. Na Escola Primária de Mahila @Verdade viu postes de transporte de energia, mas nenhuma residência e até a escola dispõem de corrente eléctrica. “Esses postes vão aos lodges da praia das Tartarugas”, disseram-nos.

Mais adiante, na Escola Primária de Manhandza não encontrámos nenhum aluno. O recinto escolar estava deserto. Porém, para testemunhar a negligência do Ministério da Educação, lá estavam as salas de aula de estacas e cobertura de ramos de coqueiro.

Na Escola Primária de Marrombone encontrámos um letreiro que fazia referência a obras, mas que deviam ter terminado em 2010. As mesmas incluíam a construção de uma nova direcção e duas salas de aulas.

A construção, diga-se, tem muito boa qualidade, mas nunca foi concluída. As crianças estudam nas mesmas circunstâncias das outras da periferia de

Inhambane e como havia chovido a escola estava deserta. Inhambane tem muitos desafios pela frente. Oferecer uma educação digna é mais um deles.

PERPU: 100 porcento de reembolso em Inhambane

No encontro do Parlamento Juvenil sobre Participação Política e Governação, @Verdade soube que o reembolso no município de Inhambane dos fundos alocados no âmbito do Programa Estratégico para a Redução da Pobreza Urbana (PERPU) é de quase 100 porcento. Apenas uma beneficiária não consegue honrar com os prazos. Em Inhambane foram submetidos 467 projectos, dos quais 184 reprovados e outros 57 não tiveram cabimento orçamental.

Efectivamente, 57 jovens, com idades compreendidas entre os 18 e 35 anos, beneficiaram do fundo. A distribuição dos valores é diferenciada, ou seja, obedece a critérios predefinidos, nomeadamente a extensão territorial e a densidade populacional do distrito, grau de captação de receitas e incidência da pobreza.

Em conversa com alguns mutuários, @Verdade ficou a saber que todos mutuários estão a conseguir devolver o valor emprestado. Contudo, há uma excepção. Trata-se de uma jovem que cria frangos e que recebeu, para o efeito, 100 mil meticais e afirma que no final deste mês começará a pagar o que lhe foi emprestado. “Não é fácil, mas comprometi-me”, diz.

O dinheiro não chega… Porque o fundo da redução da pobreza urbana não é apenas para singulares, como também abrange as associações de empreendedores locais, algumas associações afirmam que receberam um valor abaixo do que pediram, o que de certa forma comprometeria a implementação do projecto. Segundo afirmam, para a redução do montante, o município alegou que existem parâmetros (tecto máximo) relativamente ao valor a ser solicitado.

No entanto, não lhes foi antes informado de que existem limites nos valores desembolsados. Projectos devolvidos Houve alguns projectos que foram devolvidos devido à irregularidades constatadas, tais como a aprovação de projectos não elegíveis, aprovação de projectos fora dos limites de financiamento, omissão de algumas fichas, falta de apresentação dos comprovativos fiscais, entre outros.

Todos os projectos recebidos pelo Conselho Municipal de Inhambane nesta fase foram devolvidos para correcções e observância das recomendações feitas pela Comissão Técnica.

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