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Incêndio mata 274 e esperança por sobreviventes na mina diminui na Turquia

A esperança de encontrar mais sobreviventes numa mina de carvão no oeste da Turquia diminuiu, esta quarta-feira (14), depois da confirmação de que 274 trabalhadores morreram e cerca de 100 ainda podem estar presos sob os escombros do pior desastre industrial da história do país.

A revolta com o incêndio na mina, cerca de 480 quilómetros a sudoeste da Istambul, se espalhou por toda a nação, que assistiu a uma década de rápido crescimento económico, mas que ainda sofre com um dos piores históricos de acidentes de trabalho do mundo. Opositores culparam o governo do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, por privatizar as minas turcas e ignorar alertas repetidos sobre a segurança.

“Nós, como nação de 77 milhões de pessoas, estamos sentindo uma dor muito grande”, declarou Erdogan em uma entrevista colectiva à imprensa depois de visitar o local do acidente em Soma, mas pareceu na defensiva quando questionado se foram tomadas precauções suficientes na mina.

“Explosões como esta acontecem o tempo todo nestas minas. Não é algo que não acontece noutros lugares do mundo”, disse ele, citando uma lista de acidentes nas minas em todo o planeta desde 1862.

Moradores irritados quebraram janelas dos escritórios do governo local em Soma, alguns pedindo a renúncia de Erdogan, enquanto parte da multidão que estava na rua vaiou o primeiro-ministro enquanto ele estava na cidade, entrando em confronto com membros da sua comitiva. Os manifestantes chegaram a chutar o carro de Erdogan.

O incêndio cortou a energia e desligou os dutos de ventilação e elevadores pouco depois das 9h (horário de Brasília) de terça-feira. Equipes de emergência bombearam oxigénio na mina para tentar manter os mineiros retidos vivos durante um esforço de resgate que durou a noite toda. Milhares de familiares e colegas se reuniram do lado de fora do hospital da cidade em busca de informações sobre os seus parentes.

“Não ouvimos nada sobre nenhum deles, nem dos feridos, nem dos mortos”, disse uma idosa, Sengul, cujos sobrinhos trabalhavam na mina, assim como filhos de dois dos seus vizinhos. “É o que as pessoas fazem aqui, arriscar suas vidas por dois centavos… eles dizem que uma galeria da mina não foi atingida, mas já se passou quase um dia”, declarou.

Uma escavadeira mecânica abriu uma fileira de túmulos novos no cemitério principal da cidade de Soma. Um imã presidiu o funeral de seis mineiros, enquanto algumas centenas de enlutados choravam em silêncio. O fogo irrompeu durante uma troca de turno, gerando incerteza a respeito do número exacto de mineiros retidos.

O ministro da Energia, Taner Yildiz, disse que o saldo de mortos até as 16h30 (horário de Brasília) era de 274. No fim da terça-feira, ele havia dito que 787 trabalhadores estavam no local. Yildiz advertiu que as esperanças de encontrar sobreviventes “estavam diminuindo”.

A empresa que opera a mina, Soma Komur Isletmeleri, afirmou que quase 450 mineiros foram resgatados do local e que as mortes foram causadas por monóxido de carbono, mas que a causa do acidente ainda não está clara. Relatos iniciais indicaram que uma falha eléctrica causou o incêndio, mas Mehmet Torun, membro do conselho e ex-presidente da Câmara de Engenheiros de Mineração que estava no local, disse que uma linha fora de uso aqueceu, expelindo monóxido de carbono pelos túneis e galerias da mina.

“Estão a ventilar os túneis, mas o monóxido de carbono mata em 3 ou 5 minutos”, declarou ele à Reuters por telefone. “A menos que aconteça um grande milagre, não deveríamos esperar que ninguém apareça vivo a esta altura”, disse, mencionando a chance remota de que os mineiros tenham encontrado bolsões de ar para sobreviver.

O pior acidente

O desastre destacou o histórico ruim de segurança do trabalho na Turquia e despertou novos clamores da oposição por uma investigação sobre a queda nos padrões de segurança em minas anteriormente administrados pelo Estado. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) avaliou o país, que pleiteia uma vaga na União Europeia, como o terceiro pior do mundo no quesito mortes no ambiente de trabalho em 2012.

Em Istambul, a polícia disparou gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar milhares de manifestantes, alguns usando capacetes e lanternas de mineiros, outros com bandeiras de partidos de esquerda.

“Governo, renuncie”, entoavam os manifestantes enquanto marchavam pela Avenida Istiklal antes da intervenção policial. A polícia também entrou em confronto com manifestantes na capital Ancara, e houve protestos em outras cidades. Mais cedo, Erdogan declarou três dias de luto no país e cancelou uma visita oficial à Albânia. O presidente, Abdullah Gul, também cancelou uma viagem à China marcada para quinta-feira para ir a Soma.

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