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Ilha de Moçambique – Encantos degradados

Ilha de Moçambique - Encantos degradados

Com o estatuto de Património da Humanidade desde 1992 e capital de Moçambique durante 300 anos, a Ilha que deu o nome ao país, continua, entre planos de reabilitação de edifícios e de despovoamento, à espera de melhores dias. Para quando a sua execução?

Ao contrário do que se imagina quando se fala de uma ilha, este território pode ser atingido via terrestre. Para isso tem de se percorrer uma estreita e ferrugenta ponte de 3,5 quilómetros construída pelos portugueses nos idos de 60. Há, por isso, quem defenda que a Ilha de Moçambique, não é verdadeiramente uma ilha. O que seja não importa. É um território de três quilómetros de comprimento com uma largura de 200 metros no ponto mais estreito e 400 metros no mais largo, orientado no sentido nordeste/sudeste à entrada da Baía de Mossuril. Sob o ponto de vista arquitectónico a ilha está dividida em duas: a “cidade de pedra” e a “cidade de macuti”. A primeira possui cerca de 400 edifícios (incluindo os principais monumentos); a segunda, na metade sul da ilha, conta com 1.200 habitações de construção precária maioritariamente de caniço. Depois da Independência, a guerra foi responsável pelo sobrepovoamento da ilha, que hoje possui 10 mil habitantes, três vezes mais do que em 1975. Presentemente, existe um plano de realojamento do lado continental para mais de 6 mil pessoas, mas as autoridades debatem-se com a relutância das populações em abandonar as suas casas degradadas. O saneamento básico é um problema grave e as defecções no mar são constantes. Desde que a ilha foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO, em 1992, pouco se tem feito em relação à recuperação de edifícios históricos. Salvo uma ou outra excepção, na qual se inclui a presente reabilitação da Fortaleza de S. Sebastião pela UNESCO com apoio da Cooperação Portuguesa, a ruína é geral. Mas mesmo nesta degradação, mesmo neste abandono, o charme e o encanto resistem em cada recanto, em cada esquina.

Um pouco de História

Aquando da chegada, a 2 de Março de 1498, do navegador português Vasco da Gama, dominava a ilha uma colónia de árabes do litoral do Mar Vermelho, que fazia daquele local porto de escala entre Sofala e Quíloa, a cujo senhorio pertencia. Já nessa altura a ilha era um rentável entreposto de trocas comerciais. A situação geográfica, abarcando os mercados africanos, árabes e indianos, permitia-lhe obter uma importante parcela do comércio entre estes continentes. Com a chegada dos portugueses acresce a sua importância, passando a ser escala obrigatória dos navios em trânsito pela rota do Cabo. Em 1583, ficou concluída a fortaleza à qual se deu o nome de S. Sebastião. O século XVIII é a época da grande prosperidade muito associada ao ignominioso, mas extraordinariamente rendoso tráfico negreiro. Entre 1750 e 1760 saíram da Ilha escravos à razão de 6 mil por ano. Eram capturados em Inhambane, Sofala, Quirimbas e vale do Zambeze. Com a separação administrativa do Estado da Índia, forma-se logo em seguida a capitania de Moçambique, Sofala e Rios de Sena, cabendo ao seu Capitão-General, instalado na Ilha, honras iguais aos dos governadores de Angola e Rio de Janeiro.

A partir da segunda metade do século XIX, a Ilha de Moçambique começa a perder importância. Quelimane ultrapassa-a no tráfico de escravos. Depois, com a extinção deste e com o desenvolvimento das transacções comerciais com o Transval, Lourenço Marques arrebata-lhe, definitivamente, no ano de 1898, o estatuto de capital da Província de Moçambique. A ilha sofreria ainda um segundo revés em 1935 com a transferência da capital provincial para a nova cidade de Nampula.

 

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