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Houve desinformação para manipular o povo

A 07 de Janeiro corrente, primeiro dia da greve, houve uma campanha, diga-se desinteressante, por parte de alguma imprensa, de desacreditação da Associação Médica de Médica (AMM) e de todos os profissionais a ela filiados. Aliás, foi um exercício iniciado dois dias antes, o que sugeriu que se tratava de uma tentativa de desmoralizar uma classe que, unida, conseguiu fazer com que mais de 90% dos seus agremiados aderissem ao propósito: aumento salarial.

A desinformação, ou seja, a divulgação de informações imprecisas com o intuito de influenciar ou manipular pessoas, sobretudo as menos instruídas, foi de tal sorte evidente. Certos órgãos de comunicação abandonaram os princípios que regem o exercício jornalístico. De mediadores passaram a defensores de causas ao serviço do Governo.

Foi por isso que no segundo dia da greve, os mais de 140 médicos que se concentraram defronte da entrada lateral do Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, abandonaram o local quando uma equipa de reportagem da televisão pública nacional (TVM) chegou lá. Eles alegaram que este órgão estava a deturpar as informações sobre as suas reivindicações.

Por sua vez, o Executivo explorou bastante a rádio e a televisão por si financiadas para esgrimir argumentos contra os médicos. Evocou leis e estatutos para passar a imagem de que aqueles profissionais tomaram uma decisão errada. Colocar os médicos contra o povo. Todavia, o Bastonário da Ordem dos Médicos, Aurélio Zilhão, considerou a greve legal, mas as partes podiam dialogar e encontrar uma saída viável.

Entretanto, apesar da toda a suavização do impacto que a greve teve, principalmente no primeiro dia, facto é que dos 1.200 médicos filiados à AMM, dos quais 987 assinaram a carta de adesão à greve, à escala nacional, 908 não se apresentaram aos seus postos de trabalho, ou seja, mais de 90%.

A repercussão da greve foi notória. Embora a desinformação tenha tentado ofuscar os factos, em todos os hospitais do país só os serviços de urgência não ficaram paralisados porque são os únicos que não estavam abrangidos.

Em Nampula, por exemplo, um número considerável de médicos ficou em casa. Só os que ocupam cargos de chefia nos centros de saúde não aderiram à greve porque temiam represálias.

No Hospital Geral de Marrere, arredores da cidade, nenhum médico se fez presente ao seu posto de trabalho. No Hospital Central de Nampula (HCN), a maior da região Norte do país, a ausência dos médicos fez-se sentir bastante nos sectores de ortopedia, pediatria, medicina, cirurgia, obstetrícia e ginecologia. O director-geral, Moisés Alberto Lopes, confirmou-nos a situação e disse que a mesma não teve implicações graves porque foram tomadas medidas cautelares a tempo.

No Hospital Geral de Mavalane, em Maputo, segundo a directora do Banco de Socorros, Edna Nhampalele, os serviços externos e todas as enfermarias funcionaram apenas com os enfermeiros. No Hospital Provincial de Quelimane, os médicos estrangeiros, de nacionalidade norte-coreana e cubana, é que asseguraram o funcionamento da maior unidade hospitalar da província da Zambézia.

Em Maputo, os médicos aposentados e outros que já não desempenhavam funções nas unidades hospitalares foram mobilizados para garantir os serviços clínicos nos hospitais Central, José Macamo e Mavalane. Os médicos do Hospital Militar foram também destacados.

O @Verdade soube que no distrito de Moamba, a administradora local mobilizou alguns agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e andou de casa em casa para obrigar os médicos a irem, compulsivamente, trabalhar. Estes obedeceram, mas, chegados aos postos trabalho, ficaram de braços cruzados. Em Inhambane, o Secretário Permanente local usou também da sua influência política e fez uma rusga pelas casas obrigando os médicos a apresentarem-se nas unidades sanitárias. Foi assim em quase todos os distritos.

Segundo o presidente da AMM, Jorge Arroz, em Maputo e Beira, por exemplo, houve professores que ameaçaram estudantes de medicina com reprovações por terem aderido à greve.

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