Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Guebuza fala de realizações do seu mandato e razoes de se recandidatar

Num dos intervalos da campanha eleitoral que o candidato da Frelimo, Armando Guebuza, tem levado a cabo desde o dia 13 deste mês, visando a sua reeleição para um segundo mandato, tive a oportunidade de lhe perguntar o que é que ele pessoalmente considera ter sido a sua maior realização neste seu primeiro mandato agora prestes a terminar, ao que me surpreendeu, quando, no lugar de apontar a série de empreendimentos tais como pontes, estradas, escolas, hospitais que de facto foram (re) construídos neste quinquénio, ele disse que “era ter sido capaz de começar a levar os seus compatriotas a acreditarem que era possível erradicar-se a pobreza em Moçambique com o trabalho de todos, tal como se erradicou em vários outros países’’.

Guebuza deu-me esta resposta após um relativo longo silêncio próprio de quem está buscando a resposta que considera como sendo a mais certa e ajustada ao que lhe vai na alma, tendo vincado, para melhor se fazer entender porque é para ele esta é a sua maioria realização, que o que mais determinou que os moçambicanos lograssem lutar com êxito a partir de 1964 contra o colonialismo que até então vinha sendo visto durante séculos como todo poderoso, e por isso mesmo invencível, foi quando começaram a acreditar que era possível vencê-lo, “desde que todos nós uníssemos como povo e lutássemos com essa convicção”.

 O agora candidato à sua própria sucessão pelo partido Frelimo às eleições de 28 do próximo mês vinca que não há nada de grandioso que um povo pode conseguir sem que tenha primeiro fé ou convicção de que é possível ter esse logro. Destaca insistentemente que somente quando alguns dos “nossos” melhores visionários, como o Dr. Eduardo Mondlane, levaram os seus compatriotas a vencer os preconceitos de inferioridade perante os seus colonizadores é que passarem a acreditar que era possível derrotar-se o colonialismo português.

“Tudo começa com a auto-estima que nos leva a crer que podemos fazer isto ou aquilo”, vinca, para depois reiterar que “o primeiro grande passo para que possamos vencer a pobreza é termos fé em nós próprios e termos a certeza de que vamos erradicá-la”. Guebuza tem evitado nesta sua campanha, tal como o fez na que o elevou a este cargo há cinco anos, recorrer a promessas falsas, do tipo elegem-me que darei a vocês todos o leite, o mel e o abrigo condigno, como tem sido o cavalo guerra de alguns dos seus concorrentes da oposição.

Numa das ocasiões em que ele elaborou bem esta sua tese foi quando falou no comício que orientou em Chai, no dia 25 deste mês, e que marcou o 45/o aniversário do inicio da luta armada pelos guerrilheiros da então Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), hoje partido politico, e que viria a terminar com o triunfo dos moçambicanos em 1974 e na subsequente proclamação da sua independência no ano seguinte.

Na intervenção que fez neste comício, e como que inspirado por estar naquele local onde se deu o primeiro tiro pelo punho de Alberto Chipande que também se fazia presente na mesma tribuna a partir da qual Guebuza se dirigiu aos presentes, ele vincou que quando se começou com a luta o que os moçambicanos tinham de facto não eram armas mas mais vontade de lutar com determinação até vencer ou morrer que continuarem a viverem colonizados.

Esta a razão do seu slogan de guerra “A luta continua, vitoria ou morte”. Visivelmente emocionado provavelmente pela carga de recordações desse tempo que lhe vinham à mente, Guebuza reiterou que essa vontade de lutar se tornou em certeza simbolizada pelas suas canções de luta ou revolucionarias, como e o caso da que tem como título ‘’A Frelimo Vencerá’’ e que acabou sendo a que mais embalou os guerrilheiros a lutar cada vez mais determinados e a que mais mobilizou o povo em pelo pais a se juntar a esse combate patriótico que então decorria.

Guebuza diz que esta canção foi de facto o “primeiro hino nacional” dos moçambicanos. Ele recordou, em tom sério, que de armas não tinham quase nada no começo da luta armada, de tal modo que a maioria dos primeiros 250 guerrilheiros que constituíram o primeiro lote de combatentes da Frelimo foram treinados como empenhar armas recorrendo-se a paus ou madeiras esculpidos à forma e cor das armas reais, numa espécie de brinquedos para adultos, até que viriam a receber mais tarde armas verdadeiras com que tiveram de combater e vencer o colonialismo.

Revelou que antes da Frelimo começar a receber armas modernas dos países que começaram a se solidarizar com a luta do povo moçambicano, como a China e a ex-URSS, os guerrilheiros tinham de produzir eles próprios as armas que precisavam para combater o colonialismo. Entre essas armas destacavam-se os chamados canhangulos, vulgarmente conhecidos por “espera-pouco”, e que são mais para a caça do que para mover uma guerra para já contra um inimigo tão sofisticado como era o colonialismo português, que tinha o apoio das superpotências militares filiados na NATO.

Em razão da preservação histórica, algumas dessas armas estão agora expostas no Museu de Chai em Macomia, juntamente com algumas fotografias de alguns dos que integraram esse grupo de jovens de ambos os sexos que ousaram iniciar a luta armada contra o então temido e mitológico colonialismo português. Entre esses jovens contavam-se Samora Machel que viria a ser instrumental nessa luta devido ao seu vigor e poder mobilizador, graças à sua eloquência oratória que o coloca agora entre os melhores do seu tempo em todo o mundo.

Como prémio a esse seu papel na luta pela independência, Samora viria a ser escolhido pelos seus colegas da trincheira como primeiro Presidente de Moçambique independente. Guebuza diz que há sinais de que a luta contra a pobreza está sendo assumida a cada dia que passa por mais moçambicanos Na sua resposta à minha pergunta sobre o que ele elegia como expoente máximo do seu primeiro mandato, Guebuza diz-se feliz porque, segundo ele, há muitos factos que mostram que os moçambicanos estão a assumir paulatinamente a luta contra a pobreza, e que alguns deles já estão mesmo a colher os frutos dessa sua entrega neste combate.

Para não falar por falar, Guebuza diz que quando começou a percorrer o pais logo depois de ser eleito para Secretário- Geral da Frelimo, a maioria dos mais de 80 porcento dos mais de 20 milhões de moçambicanos que vivem nas zonas rurais, onde está a verdadeira face da pobreza absoluta em Moçambique, não tinham nenhum poder de compra, de tal modo que mal se podiam vestir decentemente e muito menos ter sapatos.

‘’Mas já hoje todos apresentam-se mais ou menos bem vestidos, se bem que com roupa básica e, mais do que isso, um bom numero deles já podem comprar outros bens não básicos, como bicicletas e até motorizadas’’, referiu lembrando que há 10 ou mesmo cinco anos ver uma motorizada num distrito rural era coisa muito rara e que suscitava a atenção dos que nelas vivem. “Mas agora a media é pelo menos 300 a 500 motorizadas por cada um dos 128 distritos do país, o que dá um total de entre 40 mil a 60 mil motorizadas em todos eles.

“Isto é clara indicação de que as pessoas estão a sair da pobreza, porque começam a ter algum poder de compra, o que era impensável há 17 anos quando alcançamos a paz e recomeçamos com o processo de desenvolvimento do nosso Pais’’, disse, antes de vincar que é isto que certas pessoas não querem se lembrar, ou se fazem de esquecidos, e tentam fazer crer que a Frelimo não fez nada em 34 anos independência. “Tudo fazem para que não nos lembremos que o nosso desenvolvimento começou de facto há 34 anos, mas que sofreu uma brutal interrupção que se arrastou por 17 anos ate 1992, e que só o recomeçamos deste ano para cá”, disse em tom sério e brando.

Guebuza diz que para alem das bicicletas, que já foram motivo de um livro do jornalista e escritor britanico Joe Hanlon, e agora das motorizadas que tambem se vêem pelas zonas rurais, há outros factos tão gordos que não escapam mesmo aos leigos e que mostram que os moçambicanos estão a sair paulatinamente da pobreza absoluta, como são os casos do aumento do parque imobiliário de alvenaria, principalmente nas cidades como mesmo no campo onde prevaleciam as casas de construção precária, para não falar da frota automóvel que já esta ficando um problema para quem tem pressa de chegar ao seu destino.

Ele diz que se tomar em consideração que tudo isto foi feito em apenas 17 anos e não em 35 como alguns dos seus opositores tem estado a apregoar cada vez mais agora nesta hora da campanha e “caça” ao voto, é para ele um balanço positivo que deve ser aplaudido por todos os moçambicanos de boa fé, tanto mais que são ganhos que já tem sido aplaudidos pelo resto do mundo, justamente porque foram logrados em tão pouco tempo e a partir duma base tão precária, porque o pais havia sido reduzido pela guerra, que o afectou durante 17 anos até 1992, a verdadeiras ruínas.

Um dos aspectos que tem sido notável nesta campanha eleitoral de Guebuza e que suscita admiração de muitos, é que apesar do seu partido ter adoptado o slogan “A Frelimo é que faz, a Frelimo é que faz”, ele tem negado aceitar que tenha sido o seu partido ou mesmo ele a lograr todos estes ganhos, dizendo que são produto de todo o povo moçambicano, e que o que mais ele e sua formação politica fizeram é terem liderado todo este processo de (re) construção do que se construiu neste quinquénio.

Vai daí que a cada vez que pede que votem nele e na sua Frelimo dá como única promessa continuar a liderarem o trabalho que se está sendo feito por todo o povo em prol da erradicação da pobreza. Ele diz que só com o trabalho árduo de cada um e de todos os moçambicanos será possível erradicar-se a pobreza no pais, para que também passe a se falar dela como algo que foi um problema no passado, tal como hoje se fala do colonialismo como tendo sido um problema.

“Esse dia em que diremos já fomos pobres, chegará um dia mais cedo do que os cépticos imaginam, tal como agora falamos do passado colonial e do passado da guerra dos 17 anos que terminou com o acordo de Roma em 1992”, diz visivelmente convicto Guebuza, antes de comparar o cepticismo do tempo da luta pela independência com o dos tempos que correm como diferindo apenas pela natureza do inimigo que se combate, que é a pobreza.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!