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Guebuza deseja fim do síndrome da dependência

O presidente moçambicano, Armando Guebuza, afirma que para acabarmos com a pobreza devemos deixar de estender a mão e termos mais orgulho daquilo que nós próprios produzimos “Os moçambicanos devem ser os fazedores do seu próprio desenvolvimento e progresso”, disse Guebuza, que falava durante um comício popular, muito concorrido, no distrito de Nicoadala, localizado a cerca de 30 quilómetros da cidade de Quelimane, capital da província central da Zambézia.

Segundo Guebuza, o governo deseja libertar o povo da situação de pedinte. Por isso, compreendendo as dificuldades existentes no país, particularmente ao nível dos distritos decidiu conceder fundos que devem ser geridos localmente, e com a participação do Conselho Consultivo Distrital. Guebuza respondia a preocupação de uma cidadã que reivindicava a aquisição de um tractor para ajudar na lavoura. “Não faz sentido largar este mecanismo e ir ao outro lado pedir o tractor. Se este tractor for necessário deve convencer o Conselho Consultivo, explicando que o assunto é de carácter prioritário”, disse Guebuza.

Refira-se que o governo decidiu alocar vários fundos aos distritos, como parte integrante do processo de descentralização, entre os quais se destacam o Fundo de Investimento de Iniciativas Locais (FIIL), também designado por “Sete Milhões”, Fundo para Estradas e Fundo para Infraestruturas, os dois últimos no valor de um e 2,5 milhões de meticais respectivamente (um dólar equivale a cerca de 26,5 meticais).

Segundo Guebuza, a criação de um outro mecanismo não vai resolver os problemas, pois, ao invés disso, vai complicar ainda mais os problemas existentes. “Por isso, eu creio que deveriam consultar os vossos dirigentes dos Conselhos Consultivos sobre a gestão deste fundo”, disse Guebuza. “Isso não quer dizer que não hajam outras coisas que pela sua natureza ou seus custos ultrapassem a capacidade local e o governo está plenamente consciente disso”, explicou o estadista moçambicano.

Como exemplo, Guebuza citou um caso ocorrido numa determinada região, cujos habitantes defendiam a construção de uma obra para ajudar a canalizar as águas para aumentar a produção. “Na ocasião, dissemos: vejam se, com os fundos existentes, é possível fazer alguma coisa. Mais tarde apurou-se que os fundos existentes eram suficientes para realizar a referida obra”, explicou. Por isso, aconselha Guebuza, “antes de olharmos para fora é muito importante procurar os recursos locais, incluindo de ordem financeira e técnica”. “Para resolvermos os nossos problemas temos que olhar a nossa volta”, defendeu o chefe de Estado moçambicano.

Alias, o secretário executivo da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC), o moçambicano Tomaz Salomão, já havia abordado o mesmo problema, mas num outro contexto durante uma palestra proferida em Maputo, em Março do corrente ano.

Na ocasião, Salomão que respondia a uma pergunta colocada por um dos participantes disse que “nós (moçambicanos e africanos) jamais seremos respeitados enquanto continuarmos a mendigar”. “Ninguém nos irá respeitar enquanto continuarmos a viajar mais de 10.000 quilómetros para pedir comida para alimentar o nosso povo”, disse Salomão, enfatizando a necessidade de todos estarmos unidos no combate a pobreza.

Salomão referia-se as viagens que os africanos fazem para a Europa e outros países mais desenvolvidos a busca de apoio para a resolução dos vários problemas que enfermam o continente. Ainda na manhã de sábado, Guebuza visitou uma machamba da Associação dos Produtores de Ananás, em Nicoadala, um projecto que congrega um grupo de seis cidadãos que, para o efeito, investiram um total de 250.350 meticais, dos quais 100.350 (um dólar equivale a cerca de 26,5 meticais) resultante de fundos próprios e 150.000 obtidos do Fundo de Investimento de Iniciativas Locais (FIIL), vulgo “Sete Milhões”.

Actualmente, a referida machamba ocupa uma área de 10 hectares, prevendo produzir na presente safra cerca de 26 toneladas de ananás. A maioria da produção é destinada ao mercado local, parte da qual poderá ser processada, como forma de conferir um maior valor acrescentado. Para o efeito já estão a tentar obter um financiamento do Fundo de Desenvolvimento de Competências Profissionais (FUNDEC), disse Mahomed Valá, director provincial da agricultura da Zambézia. “Já está em processo de aquisição uma maquineta que custa cerca de 40.000 dólares”, apontando este projecto como um exemplo de sucesso do FIIL.

A associação já está a pensar aumentar a área de cultivo, e inclusivamente adquirir pequenas máquinas na Índia ou no Brasil, como forma de garantir a conservação dos excedentes na altura de abundância. Aliás, decorrem actualmente ensaios, ainda que numa fase embrionária para a conservação de várias frutas, entre as quais ananás, caju e manga.

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