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‘@Verdade EDITORIAL: Governo precisa de mais Taipos

A imprensa moçambicana denunciou em letras garrafais o CRIMINOSO, PORNOGRÁFICO e VERGONHOSO concurso que visava – já não temos dúvidas – delapidar os fundos do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS).

Apressadamente surgiram, do nada, os advogadas do roubo desenfreado das nossas poupanças alardeando, para quem os quis ouvir, que o “critério do menor preço” vigora apenas onde os padrões de qualidade imperam.

Como se Moçambique, por algum (in)feliz acaso pudesse, com o estágio actual de coisas, reivindicar em qualquer área de serviços ou de produção de bens o mínimo elástico padrão de qualidade. Porém, a ministra do Trabalho, Helena Taipo, reparou o dano. Repôs a legalidade e devolveu dignidade a um Governo decrépito, no qual apenas os senis do turno acreditavam.

O gesto da ministra não só dignifica os dirigentes, mas também revela que ainda há esperança no país das bananas. Não são todos os dias que assistimos à postura semelhante à de Helena Taipo, que mandou cancelar o concurso de fornecimento de material gráfico, o qual iria abrir um rombo de 25 milhões de meticais nos cofres dos contribuintes, além de ter impedido a aquisição de uma habitação avaliada em um milhão de dólares norte-americanos para o PCA não executivo daquela instituição.

Esta é uma atitude que, além de servir de exemplo, deveria corar de vergonha a todos os governantes deste rochedo à beira-mar, os quais, em situações idênticas, não agem, em grande parte por cumplicidade, e fazem vista grossa, por medo de perderem o seu tacho e a vida folgada (leia-se, principesca) que levam à custa do suor do povo. Ou seja, enquanto a maioria dos dirigentes se comporta como se o problema fosse em Marte, Helena Taipo prefere quebrar a corrente de solidariedade na impunidade.

Num país como o nosso, onde que a cada dia se revela um novo palco de escândalos de corrupção, não é comum assistir-se a uma decisão tão sensata e consciente vinda de um dirigente. Diga-se, em abono da verdade, que em Moçambique é sempre assim: fala-se, fala-se até à exaustão e as coisas permanecem na mesma.

É, na verdade, a velha máxima segundo a qual “enquanto os cães ladram, a caravana passa”. Porém, depois das pressões nascidas nos meios de comunicação social, a ministra do Trabalho decidiu tomar uma posição para arbitrar uma situação eivada de irregularidades, mostrando que o povo moçambicano não aceita que se gaste acima do que seja sustentável.

Infelizmente, o sentido de economia, de não esbanjar e apertar o cinto, como recomenda a prudência, não cabe na mente dos gestores públicos deste país que, ao invés de pregarem o rigor no controlo dos gastos públicos, vivem na tentação da gastança, além de olhar para o Estado como a sua vaca leiteira.

Na realidade, o “caso INSS” reflecte o amadurecimento de uma indústria de esquemas criados pelos funcionários públicos para delapidar os cofres do contribuinte que está em curso nos subterrâneos do Aparelho do Estado. Haja mais Taipos para acabar com a brincadeira.

Ainda assim, é importante que as pessoas não se esqueçam de que o que Helena Taipo fez é a coisa mais normal do mundo. É o que devia ser feito. Sabemos, contudo, que no país das bananas e do sacana (piripiri) os valores foram invertidos e o acto da ministra representa a contramão do modus vivendi dos moçambicanos. Daí o espanto.

Quando um acto de justiça causa espanto no seio de uma sociedade é sinal de que estamos a caminhar para o abismo, ou dentro dele.

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